Gavras mostra como as lideranças europeias, principalmente a Alemanha pressionava a Grécia em aceitar duras medidas de austeridade fiscal com plena ciência de isso prejudicaria a economia do país no longo prazo. Medidas que diminuiriam o PIB da Grécia e ampliariam o abismo entre a produção e a dívida, deixando o país na mão dos credores internacionais.
A trama deixa evidente que não há realmente uma preocupação em restaurar a economia da Grécia, mas usar a situação para saquear o país, como demonstrado na oferta de uma empresa alemã que deseja comprar a preço de banana os aeroportos gregos. Toda a lógica é menos a de um bloco de países visando a cooperação mútua e mais de um brutal neocolonialismo que usa o poder econômico para controlar e oprimir.
São temas importantes a se discutir e que servem para colocar em questão que essa austeridade radical neoliberal talvez não seja tão eficiente quanto alardeado. O problema é que os méritos do filme meio que param na exploração do tema. O material é tão focado na exposição dos fatos em si que tudo soa excessivamente explicativo, com longas reuniões e pessoas mostrando gráficos em powerpoint o desenhando em quadros, fazendo todo o filme soar como uma grande palestra. Se o interesse de Gavras era apenas nos explicar o que aconteceu, talvez fosse melhor ter realizado um documentário.
Yannis (nem qualquer outro personagem) não possui nada que remeta a um arco narrativo, não passa por grandes transformações, aprendizados e não sabemos nada sobre ele para além de seu trabalho político. Por mais que sabemos o que está em jogo para a Grécia, o filme não constrói nenhum conflito pessoal para Yannis e mesmo os problemas da Grécia são mais ditos do que vistos. Isso impede que a crise tenha o devido peso, pois nunca a vemos.
O olhar de Gavras, inclusive, é excessivamente maniqueísta, fazendo de Yannis um sujeito desprovido de defeitos enquanto seus adversários políticos, especialmente o representante alemão, são vilões caricatos, sem escrúpulos ou qualquer resquício de humanidade, mais parecendo algum vilão de filme de James Bond da fase do Roger Moore. Tudo bem que perto do fim o alemão quebra um pouco da fachada caricata em um breve momento de sinceridade com Yannis, mas é muito pouco para desfazer a superficialidade com a qual o filme os trata o tempo inteiro.
Outro problema é o tom que varia constantemente sem que o filme consiga fazer essas transições de maneira orgânica. Em muitos momentos Gavras conduz tudo como se fosse um drama político bastante sóbrio, com direito a uma narração monocórdia que soa como um audiolivro. Em outros segmentos, no entanto, esse olhar é interrompido por uma abordagem mais farsesca, a exemplo da cena em que o primeiro ministro grego diz se sentir como um peixe num anzol e o filme corta para imagens de pesca de marlins, tratando tudo como um teatro político absurdo. Ao invés de dialogarem, a seriedade e o deboche parecem estar disputando espaço um com o outro, resultando em um produto inconsistente e indeciso do enquadramento que quer dar à trama.
Desta maneira, apesar de trazer
críticas importantes ao modo como a União Europeia conduziu a recuperação
grega, Jogo do Poder é prejudicado
por inconsistências de tom e um enquadramento excessivamente expositivo.
Nota:5/10
Trailer
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