quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Crítica – Loucos Por Justiça

 

Análise Crítica – Loucos Por Justiça

Review – Loucos Por Justiça
Inicialmente a produção dinamarquesa Loucos Por Justiça parece um daqueles típicos filmes de vingança em que um militar linha dura sai em uma onda homicida violenta para punir os responsáveis pela morte de um ente querido. Aos poucos, no entanto, ele revela outras camadas que o tornam mais interessante do que a premissa inicial sugere e isso faz valer a experiência.

A trama é protagonizada por Markus (Mads Mikkelsen) um militar que volta para casa depois que a esposa morre no que parece ter sido um acidente de trem. Ele tenta lidar com a perda e consolar a filha até que é visitado por Otto (Nikolaj Lie Kaas) um cientista que estava no mesmo vagão de trem e cedeu o assento para a esposa de Markus, sendo essa a razão de Otto ter sobrevivido e Markus ter enviuvado. Criador de uma IA preditiva, Otto analisa os dados do ocorrido e diz que é praticamente impossível que tenha sido um acidente e que tudo foi causado para matar um ex-membro de gangue que estava prestes a testemunhar contra os comparsas e líderes da organização. Assim, Markus usa os dados de Otto para caçar um por um os membros da gangue de motoqueiros Riders for Justice.

Impressiona como a narrativa consegue transitar pela ação, drama ou comédia com bastante fluidez, conferindo humanidade a personagens que, de outro modo, seriam reproduções de clichês do gênero. É possível sentir a dor e a raiva contida de Markus por não saber lidar com a morte da esposa e como esses sentimentos o afundam ao ponto de prejudicar seu relacionamento com a filha. Do mesmo modo, é perceptível que Otto é menos movido por um desejo de revelar a verdade ou provar a eficiência de sua IA e mais por uma “culpa de sobrevivente”, se sentindo mal por ter sobrevivido e a esposa de Markus não.

Além de drama, a narração também oferece muitos momentos de humor, em parte por conta da equipe que acompanha Otto, Lennart (Lars Brygmann) e Emmenthaler (Nicolas Bro), que divertem pelas personalidades excêntricas que funcionam bem em contraposição com a sisudez estoica de Markus. A ação não economiza na violência gráfica que dá a dimensão da brutalidade do protagonista. 

A trama, que parecia relativamente básica, consegue virar a si mesma do avesso com uma reviravolta que ressignifica tudo. É impossível não comentar sobre o que acontece, então aviso que os parágrafos a seguir tem, em algum grau SPOILERS do filme. A reviravolta desloca o eixo temático da narrativa para falar da futilidade em tentar encontrar sentidos ocultos ou conexões complexas ao que ocorre à nossa volta, bem como da inutilidade da violência como ferramenta de redenção. Ao matar aqueles que considerava culpados, Markus não conseguiu melhorar em nada seu luto e apenas afundou a relação com a filha. Ao revelar que além de tudo isso ele matou pessoas que não tinham qualquer culpa com acidente o filme reforça o quanto tudo não passou de violência inútil.

Desta maneira, o que parecia uma mera reprodução de trama de vingança se torna uma crítica a esse tipo de história. Poderia ser uma excelente reversão de lugares comuns se não fosse a construção de um embate final explosivo entre Markus e os líderes da gangue de motoqueiros. Claro, no clímax o protagonista está se defendendo do ataque dos bandidos, mas não deixa de o tipo de violência espetacularizada que a própria narrativa tenta questionar como sendo problemática e assim o texto entra em conflito consigo mesmo, o que diminui um pouco o impacto da importante reviravolta.

Mesmo com alguma parcela de problemas, Loucos por Justiça envolve por conseguir ir além do que inicialmente seria um filme de ação clichê e até tenta virar do avesso algumas ideias do gênero.

 

Nota: 7/10


Trailer

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