quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Crítica – Palavras que Borbulham Como Refrigerante

 

Análise Crítica – Palavras que Borbulham Como Refrigerante

Review – Palavras que Borbulham Como Refrigerante

Com uma excêntrica, ainda que formulaica trama de romance, este Palavras que Borbulham Como Refrigerante conquista por sua estética, especialmente o modo como usa cor, e a doçura com a qual conduz o relacionamento dos personagens. A trama é protagonizada por dois jovens introvertidos, Cerejinha é um garoto que constantemente usa fones de ouvido para se fechar do mundo e passa boa parte do tempo escrevendo haikus, já Sorrisinho é uma garota tímida que usa máscara para esconder o sorriso dentuço que tenta corrigir usando aparelho. Eles se encontram em um shopping e acidentalmente trocam o celular um do outro e acabam conversando para recuperar seus respectivos aparelhos, o que dá início a uma amizade que pode se tornar algo mais.

Narrativas românticas muitas vezes recorrem a uma estrutura de construção de oposições entre o casal protagonista, criando neles personalidades ou interesses opostos que servem para complementar os problemas ou falhas uns dos outros. Normalmente o enlace acontece justamente porque um tem o que o outro precisa para crescer enquanto pessoa, então é bem curioso que aqui a trama opte por dois personagens que sejam relativamente similares em seus problemas de introspecção.

Isso não significa, no entanto, que sejam personagens redundantes já que ambos são desenvolvidos o suficiente para que entendamos os motivos deles serem daquele jeito e conseguem envolver pela sensibilidade excêntrica que exibem. De certa forma, a relação e os problemas de ambos são mostrados como parte de uma geração cuja experiência de mundo é cada vez mais digitalizada em redes sociais e internet ao ponto de que as pessoas criam suas próprias “bolhas”, sendo difícil sair delas para construir ou se relacionar no mundo real. É uma geração que consegue se abrir para completos desconhecidos em redes sociais, mas que tem dificuldade de falar com pessoas que estão ao seu lado ou dizer como se sentem para aqueles com quem convivem.

Ao mesmo tempo também toca em questões relativas ao envelhecimento da população japonesa e como a cuidadoria de idosos se tornou um ramo de atividade para muitos jovens que ingressam no mercado de trabalho por conta da demanda crescente. A força que move a trama de certa forma acaba sendo a tentativa de Cerejinha em ajudar um idoso sob seu cuidado a recuperar um disco de vinil que lhe era muito importante e nesse percurso vemos muito sobre a maneira com a qual o país lida com o envelhecimento de sua população.

Toda essa busca logicamente impele o casal principal a sair de suas respectivas zonas de conforto e o progresso deles é demonstrado até por pequenas ações, como Cerejinha abaixando os fones para conotar como ele está se abrindo mais ao mundo à sua volta ao invés de se manter fechado dentro da própria cabeça. É tudo relativamente previsível e caminha sem grandes crises ou obstáculos, deixando a trama carente de um pouco mais de drama.

Outro elemento como chama atenção é o modo como a animação trabalha com as cores, sempre inserindo elementos de roxo, verde, azul e rosa nos ambientes e nas roupas dos personagens. As imagens trabalham com o contraste entre tons cítricos e outros mais pastéis, criando um arranjo visual com bastante personalidade e que envolve e encanta pela criatividade com que manipula a paleta de cores a cada plano.

No fim das contas, Palavras que Borbulham Como Refrigerante conquista pelo olhar afetuoso que tem com as excentricidades de seus protagonistas e visualidade singular.

 

Nota: 7/10


Trailer

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