quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Crítica – Velozes & Furiosos 9

 

Análise Crítica – Velozes & Furiosos 9

Review – Velozes & Furiosos 9
A franquia Velozes & Furiosos já abraçou o absurdo faz tempo, mas mesmo numa série de filmes cujo maior compromisso é a ação exagerada é preciso estabelecer algum limite, caso contrário, mesmo no regime de absurdo, fica difícil embarcar no universo proposto pela narrativa. Velozes & Furiosos 9 sofre exatamente desse problema e nem me refiro à tão comentada cena em que eles usam um carro para ir para o espaço e sim algumas escolhas da narrativa e soam forçadas ao ponto em que deixamos de nos importar.

Na trama, Dom (Vin Diesel) e seus aliados recebem um chamado de socorro do Sr. Ninguém (Kurt Russell). De início Dom não quer se envolver, já que prefere viver em paz com Letty (Michelle Rodriguez) e o filho, mas tudo muda quando ele descobre que Jakob (John Cena), seu irmão mais novo de quem se afastou há anos, estava envolvido no ataque, Dom resolve sair da aposentadoria. A busca os leva a uma corrida para encontrar um dispositivo que poderia literalmente hackear qualquer aparelho do planeta e evitar que isso caia em mãos erradas.

Considerando que já acompanhamos esses personagens há quase vinte anos e dez filmes (estou contando também o derivado Hobbs & Shaw) a ideia de mostrar um parente de alguém que nunca foi mencionado esse tempo todo soa como uma tentativa forçada e preguiçosa de colocar riscos pessoais para o protagonista. Sim o texto dá uma explicação para que Dom não mencionasse Jakob, mas não faz sentido que esse tempo todo outros personagens como Hobbs (The Rock), Shaw (Jason Statham), Ninguém ou Cypher (Charlize Theron) nunca tenham dito nada ou dado qualquer pista. A equipe criativa poderia até ter colocado uma breve menção a Jakob em Hobbs & Shaw para soar mais orgânico ao invés de forçosamente reescrever a cronologia desses personagens.

Igualmente forçado é o retorno de Han (Sung Kang). Diferente de Letty, que nunca vimos explicitamente morrer, Han morria diante dos nossos olhos. Víamos o personagem preso nas ferragens do carro e depois tudo explodir, não havia dúvidas do que aconteceu. A tentativa de reestruturar a continuidade é forçada, estúpida e arbitrária, tirando qualquer senso de consequência para a morte. Isso dificulta o engajamento com a trama porque cria uma sensação de que “vale qualquer coisa” e assim deixamos de nos importar se um personagem está numa situação de perigo porque sabemos que ele pode ser “revivido” a qualquer momento com uma desculpa esfarrapada imbecil. Do mesmo modo, é difícil, se importar com os dramas pessoais de qualquer personagem porque qualquer hora o filme pode nos dizer que as coisas não foram bem assim e tirar da cartola mais alguém do passado dessas pessoas que nunca tínhamos ouvido falar.

O conflito entre Jakob e Dom também cria o problema de obrigar Vin Diesel a ter que demonstrar algum alcance emocional, coisa que ele não consegue. Boa parte de seu tempo em cena é fazendo biquinho com os olhos quase fechados e uma dicção de quem está com um ovo quente na boca, incapaz der dar conta da mágoa e raiva que Dom sente do irmão. O ator Vinnie Bennett, que interpreta o jovem Dom em flashbacks, se sai muito melhor que Vin Diesel em construir os sentimentos que Dom tem pelo pai e pelo irmão. Nos outros filmes Diesel tinha como se apoiar em coadjuvantes que mesmo não sendo grandes atores eram ao menos carismáticos como The Rock, Jason Statham ou Paul Walker, aqui, sozinho no protagonismo, o ator mostra que não tem carisma suficiente para carregar uma aventura dessa magnitude.

John Cena se sai melhor como Jakob, trazendo o complexo de inferioridade, a amargura, o ressentimento e presença imponente do vilão. O arco de Jakob é bem previsível considerando os temas sobre família, mas faz um paralelo bacana com o final do primeiro filme. Charlize Theron continua fazendo de Cypher uma figura misteriosa e astuta, mas é pouco aproveitada e aparece muito pouco para causar qualquer impacto (e por algum motivo ela usa aqui um penteado semelhante ao Moe Howard dos Três Patetas).

As cenas de ação oferecem algum divertimento pelo senso de exagero que elas trazem. Desrespeitando quaisquer noção de realismo, verossimilhança ou leis da física, a graça está em ver que tipo de maluquice a equipe criativa consegue inventar, como a sequência da ponte no início do filme ou o clímax em que eles usam carros equipados com ímãs para manipular objetos ao redor. A ação, no entanto, é prejudicada pelo sentimento de falta de consequência que mencionei em parágrafos anteriores. Com todo mundo voltando a vida, fica difícil embarcar na ideia que esses personagens estão em perigo.

Apesar da ação absurda e divertida, Velozes & Furiosos 9 sofre com uma narrativa forçada, que abandona qualquer impressão de consequência e demonstra o esgotamento criativo desses filmes.

 

Nota: 5/10


Trailer

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