quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Crítica – Um Ninho Para Dois

 Análise Crítica – Um Ninho Para Dois


Review – Um Ninho Para Dois
O luto pela perda de um ente querido não é fácil. O luto pela perda de um filho pequeno provavelmente é ainda mais difícil. É sobre isso que este Um Ninho Para Dois tenta tratar misturando drama e comédia, embora essa mescla não funcione como deveria.

A trama é focada no casal Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O’Dowd) que está passando por dificuldades depois do falecimento da filha ainda bebê. Lilly tenta seguir com o trabalho, enquanto Jack está internado em uma clínica depois de uma tentativa de suicídio. Lilly tenta ocupar o tempo plantando uma horta em seu quintal, mas começa a ter problemas quando um estorninho, um pássaro bastante territorial, começa a “morar” em uma das árvores do quintal, atacando Lilly sempre que ela se aproxima da horta.

O elenco é o ponto forte do filme. Melissa McCarthy já tinha mostrado habilidade para o drama no subestimado Poderia Me Perdoar? (2018) e aqui volta a exibir seu alcance dramático. Com um olhar perdido, Lilly é uma mulher à deriva, que não sabe como tocar a vida depois da perda e dos traumas que isso infligiu no marido. Os esforços dela em seguir adiante mostram que ela não deu o devido tempo ao luto, como que querendo pular as etapas, algo visível na cena em que ela tenta desesperadamente remover as marcas do berço no carpete, esperando que a ausência de marcas torne mais fácil aceitar a partida da filha.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Crítica – Cry Macho: O Caminho Para Redenção

 Análise Crítica – Cry Macho: O Caminho Para Redenção


Review – Cry Macho: O Caminho Para Redenção
É curioso que este Cry Macho: O Caminho Para Redenção seja simultaneamente muito arrastado, parando subitamente o desenvolvimento da trama principal e seus temas, e muito apressado ao levar seus personagens a conclusões que não soam plenamente construídas. O filme segue a tendência dos últimos anos da produção de Clint Eastwood em refletir sobre os Estados Unidos e sobre o imaginário do país, aqui especificamente ele pondera sobre ideais de “hombridade” e comunidade.

Na trama, Mike (Clint Eastwood) é um ex-peão de rodeio e criador de cavalos que aceita o pedido de um amigo, Howard (Dwight Yoakam), para ir até o México trazer de volta o filho dele, Rafo (Eduardo Minett), que vive sob a guarda da mãe alcoólatra. A jornada no México não é fácil, já que Rafo inicialmente não quer acompanhar Mike, a mãe do garoto coloca pessoas atrás deles e Howard parece ter motivos ocultos para querer o filho de volta.

Indicado pelo fato de Rafo ter um galo de briga chamado Macho, a relação entre Mike o garoto vai se construindo ao redor da ideia de representação de masculinidade. Para Rafo, ser valente, bruto e brigar são os atributos que envolver ser “macho”, são os elementos constitutivos de ser homem e desempenhar bem a função masculina na sociedade. Mike, aos poucos, vai mostrando ao garoto que nada disso faz um homem ou um vaqueiro, mas agir de maneira correta, sincera, cuidar da comunidade, estar em comunhão com o mundo a sua volta e com os próprios sentimentos, tudo é mais importante do que ser brabo ou qualquer outra coisa similar.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Crítica – A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais

 

Análise Crítica – A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais

A produção dos filmes que narram o assassinato brutal cometido por Suzane Von Richthofen e Daniel Cravinhos não teve um percurso fácil para chegar às telas. Cercado de controvérsia por contar a história de um crime real que chocou o Brasil, a produção chegou a ser falsamente acusada de estar dando dinheiro para a patricida (Suzane não recebeu nada e o filme é baseado no livro de Ilana Casoy). A decisão de dividir a história em dois filmes (A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais) também teve sua parcela de controvérsia, com muitos achando que era um expediente para vender mais ingressos e não necessariamente traçar um panorama mais amplo. Pois bem, agora os dois filmes estão disponíveis em streaming e é possível conferi-los.

Como são experiências “complementares” (explicarei as aspas mais adiante) farei um texto só sobre os dois filmes. Primeiro vou falar de maneira geral sobre ambos, depois entrarei em especificidades sobre cada um, já que são experiências relativamente diferentes. A Menina Que Matou os Pais se baseia na versão de Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) sobre os fatos, fazendo a responsabilidade do crime cair mais sobre Suzane (Carla Diaz), enquanto que O Menino Que Matou Meus Pais apresenta a versão de Suzane, incriminando mais Daniel.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Crítica – Caminhos da Memória

 

Análise Crítica – Caminhos da Memória

Review – Caminhos da Memória
Ao lado de Jonathan Nolan, Lisa Joy explorou temas de memória, identidade e narrativa ao longo da série Westworld. Neste Caminhos da Memória, dirigido e escrito por ela, Joy volta a explorar todas essas ideias, mas sem o mesmo sucesso.

A trama se passa no futuro, numa Miami parcialmente inundada Nick (Hugh Jackman) ganha dinheiro usando um dispositivo que faz as pessoas reviverem memórias e, com o mundo em caos, o mercado para escapismo nostálgico está em alta. A vida de Nick muda quando ele é visitado pela misteriosa Mae (Rebecca Ferguson) e os dois vivem um romance até que Mae desaparece misteriosamente. Agora, Nick decide vasculhar a própria memória para encontrar pistas a respeito do paradeiro da amada.

É uma trama que remete muito ao noir, com um protagonista amargurado e cínico perambulando por uma metrópole decadente e corrompida em busca de uma mulher misteriosa. O desencanto, as profundas desigualdades que o noir tanto tratava estão aqui também. O futuro mostrado pela trama, de uma Miami tomada pelas águas por conta da mudança climática com uma pequena elite vivendo as áreas secas cercada por represas e diques enquanto a população vive ao sabor das marés talvez esteja mais próximo do que estamos imaginando. As paisagens inundadas da arquitetura art decó de Miami combinadas à iluminação cheia de tons de neon e aparatos futuristas rende uma espécie de Waterworld (1995) cyberpunk.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Rapsódias Revisitadas – Questão de Honra

 Crítica – Questão de Honra


Review – Questão de Honra
Confesso que até hoje nunca tinha assistido Questão de Honra, originalmente lançado em 1992, apesar da clássica cena do interrogatório entre Tom Cruise e Jack Nicholson já ter sido citada e parodiada à exaustão. Tampouco sabia que o texto fora escrito por Aaron Sorkin, baseado numa peça escrita por ele mesmo. O texto é, de fato, marcado pelos diálogos ágeis de Sorkin e é também uma ponderação sobre o papel dos militares, o que significa honra e a banalidade do mal.

A trama é protagonizada pelo advogado da marinha Daniel Kaffee (Tom Cruise), inteligente, mas inexperiente no tribunal e mais disposto a fazer acordos do que ir a julgamento, Kaffee parece escolhido a dedo para encerrar o mais rápido possível o processo de dois soldados acusados de matar um colega de farda na base de Guantánamo em Cuba. A tenente Joanne Calloway (Demi Moore), que lidera a corregedoria das forças armadas, desconfia que a ação não foi dos dois soldados, mas dos superiores da base e pressiona Kaffee a investigar mais a fundo, principalmente por conta da conduta autoritária do coronel Jessep (Jack Nicholson), o responsável pela base.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Drops – Como Hackear Seu Chefe

 

Análise Crítica – Como Hackear Seu Chefe

Review – Como Hackear Seu Chefe
Com uma narrativa toda contada a partir de uma tela de computador e tentando reproduzir a lógica do trabalho remoto, a comédia Como Hackear Seu Chefe tem boas sacadas em como lidar com as limitações de contar uma história desta maneira e uma criatividade para situações cômicas. A trama é bem básica, Victor (Victor Lamoglia) fica bêbado depois de uma noite comemorando o aniversário e envia um e-mail comprometedor para o chefe. Agora, com a ajuda dos colegas João (Esdras Saturnino) e Mariana (Thati Lopes), ele precisa invadir a conta de e-mail do chefe e deletar o conteúdo antes que seja tarde demais.

O texto é criativo em criar situações absurdas, como João fazendo shows eróticos imitando Silvio Santos para pagar um hacker ou Victor delirando sob efeito dos gases tóxicos de dedetização. Também tem algumas boas sacadas em relação ao trabalho remoto, como funcionários usando apps de mensagem para falar mal do chefe durante uma reunião remota, pessoas esquecendo o microfone desligado na hora de falar ou aquele colega que não sabe muito de tecnologia e é sempre pego fazendo ou falando coisas inapropriadas (toda a participação de Nuno Leal Maia é impagável).

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Crítica – Grande Tubarão Branco

 

Análise Crítica – Grande Tubarão Branco

Review – Grande Tubarão Branco
Este Grande Tubarão Branco é daqueles filmes ruins que sequer consegue divertir com sua podreira. É incompetente em praticamente todos os níveis, mas não de um jeito engraçado, o que torna acompanhar seus dolorosos noventa minutos em um entediante exercício de paciência.

Na trama, o casal Charlie (Aaron Jakubenko) e Kaz (Katrina Bowden) trabalham levando turistas em ilhas próximas via hidroavião ao lado do funcionário Benny (Te Kohe Tuhaka). Um dia, eles levam o casal japonês Jo (Tim Kano) e Michelle (Kimie Tsukakoshi) para uma praia remota. Lá, o avião é atacado por um grande tubarão e acaba afundando, agora os cinco estão à deriva em um bote salva-vidas sem recursos ou rastreador e precisam sobreviver.

Alguns filmes conseguiram muito bem construir narrativas tensas ao redor da premissa de estar no meio do mar cercado por um (ou mais de um) tubarão, como Águas Rasas (2016), mas Grande Tubarão Branco faz isso pessimamente. Charlie e Kaz até convencem como um casal que está há muito tempo junto, mas todo o resto de personagens varia entre o inexpressivo e o caricato, com Benny e Jo sempre descambando para um exagero patético.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Crítica – Sex Education: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Sex Education: 3ª Temporada

Review – Sex Education: 3ª Temporada
A segunda temporada de Sex Education fazia um bom trabalho de expandir o universo da série e desenvolver outros personagens secundários da escola. Esta terceira temporada vai na mesma direção ampliando ainda mais nosso entendimento sobre esses indivíduos e a discussão sobre o lugar do sexo no ambiente educacional.

Depois os eventos da temporada anterior, Moordale ficou marcada como “a escola do sexo”, em virtude disso, a escola recebe uma nova diretora, Hope (Jemima Kirke), que é pressionada pelo comitê gestor para reverter a imagem da instituição. Ao mesmo tempo, os aluno retornam às aulas com novidades depois das férias. Otis (Asa Butterfield) está envolvido com Ruby (Mimi Keene), a menina mais popular do colégio. Enquanto isso, Eric (Ncuti Gatwa) segue com Adam (Connor Swindells), Maeve (Emma Mackey) se aproxima de Isaac (George Robinson) sem saber que ele apagou uma importante mensagem de Otis e Jean (Gillian Anderson) resolve contar a Jakob (Mikael Persbrandt) que está grávida.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Crítica – Good Girls: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Good Girls: 4ª Temporada

Review – Good Girls: 4ª Temporada
O terceiro ano de Good Girls melhorava o desenvolvimento do trio principal e apontava rumos interessantes para a série, ainda que não reparasse os principais problemas. Este quarto ano, lamentavelmente o último por conta do inesperado cancelamento da série, não tem os méritos do anterior e volta a cair nas mesmas inconsistências e tramas pouco convincentes.

A narrativa segue onde o ano anterior parou, com Beth (Christina Hendricks) mais uma vez na mira de agentes federais. Pressionada, ela faz um acordo para entregar Rio (Manny Montana) e quem quer que esteja acima dele, mas Rio também pressiona Beth com provas contra ela. Assim, Beth precisa manobrar entre Rio e os federais para salvar a si mesma, a família, Annie (Mae Whitman) e Ruby (Retta).

O principal problema continua a ser a inconsistência das personagens. Beth é extremamente ardilosa, capaz enganar Rio e os federais, isto é até o roteiro decidir que ela não é e colocá-la para agir como uma completa imbecil. Isso fica evidente quando ela vai na casa de Rio com uma escuta e ao desconfiar que Rio sabe que ela está gravando tudo, ela tenta se livrar da escuta. Apesar de entrar no banheiro, ela não pensa em dar descarga no dispositivo ou mesmo enfiá-lo no fundo de uma lixeira, mas tenta esconder o aparelho atrás de uma pilha de livros onde qualquer um, mesmo acidentalmente conseguiria encontrar. O mesmo acontece com o plano dela de juntar dinheiro e fugir para outro estado. Ora, Dean (Matthew Lillard) está em liberdade condicional e é monitorado pelo governo, quanto tempo ela acha que conseguiria fugir com quatro crianças e um marido procurado? É um plano ingênuo e insustentável a longo prazo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Drops – Amizade de Férias

 

Crítica – Amizade de Férias

Review – Amizade de Férias
Os primeiros minutos deste Amizade de Férias parecem nos colocar diante de uma comédia caótica sobre pessoas perdendo a cabeça durante as férias. Não seria a primeira do tipo e não é difícil prever que ao final o casal certinho Marcus (Lil Rel Howery) e Emily (Yvonne Orji) vai aprender a se soltar mais enquanto que o aloprado casal Ron (John Cena) e Kyla (Meredith Hagner) vai aprender a ser mais responsável.

O problema é que lá pela metade da projeção, a trama decide abandonar o cenário de férias para focar no casamento de Marcus com Emily e as tentativas de Marcus em impressionar o sogro que não o acha digno de Emily. Assim, a narrativa meio que vira um Entrando Numa Fria (2000) genérico, já que o sogro nunca tem um motivo minimamente construído para detestar Marcus e o casal Ron e Kyla acaba relegado a um elemento de caos nessa tentativa de Marcus em impressionar o sogro.

A trama se desenvolve cheia de inconsistências, com os sogros de Marcus adorando o jeito inconveniente de Ron e Kyla em um instante, apenas para se chocarem com a conduta absurda deles em outro, como se eles mudassem de atitude e personalidade a cada cena por pura exigência de roteiro. Considerando que o roteiro tem seis pessoas creditadas nele, é possível que essas inconsistências venham do alto número de mãos interferindo no texto e as coisas acabam desconjuntadas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Crítica – The Voyeurs

 

Análise Crítica – The Voyeurs

Review – The Voyeurs
O cinema é um meio expressivo que se vale do prazer escopofílico de vermos histórias sobre dramas pessoas, terrores inimagináveis, aventuras audazes e várias outras emoções do conforto de nossa poltrona. Quando assistimos um filme temos um olhar que é muitas vezes onipresente, vendo tudo, julgando todos como se fossemos uma divindade observando toda uma cosmologia se desenvolvendo diante dos nossos olhos. Muitos filmes inclusive já refletiram sobre o prazer visual de observar outros e dos problemas quando ficamos sob observação, com Janela Indiscreta (1954) sendo o mais famoso deles. Este The Voyeurs funciona como uma mistura de Janela Indiscreta com Dublê de Corpo (1984) e alguns episódios de Black Mirror. O todo, no entanto, é menor que a soma das partes.

A trama acompanha o casal Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith), que se muda para um novo apartamento e começa a observar a rotina do casal no apartamento da frente, Seb (Ben Hardy) e Julia (Natasha Liu Bordizzo). Com o tempo, Pippa e Thomas ficam cada vez mais envolvidos com a rotina do outro casal, principalmente quando descobrem os segredos e traições que guardam um do outro.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Crítica – Doutor Gama

 

Análise Crítica – Doutor Gama

Review – Doutor Gama
Na minha época de colégio, quando estudávamos a abolição da escravatura, tudo parecia um gesto magnânimo da Princesa Isabel. Concebemos os séculos de escravidão como um período aparentemente pacífico, como se os escravos aceitassem tranquilamente essa condição subalterna, quando na realidade revoltas eram mais comuns do que os relatos oficiais nos fazem crer. Nesse sentido, a existência de filmes como este Doutor Gama é importante para expandir o entendimento do público a respeito desse período e como havia uma constante luta da população negra, pela força ou meios legais, para tentar emancipar seu povo.

A trama acompanha a história real de Luiz Gama (Cesar Mello), advogado negro que trabalhava para libertar escravos. A narrativa o segue desde a infância, quando foi injustamente vendido como escravo apesar de ter nascido livre, até a idade adulta quando decide defender um jovem escravo acusado de matar o seu senhor.

Cesar Mello consegue trazer uma personalidade magnética e um discurso apaixonado para Gama, tornando crível a capacidade do advogado em argumentar e convencer brancos donos de fazenda da chaga que era a escravidão e da injustiça que isso representa ao povo negro. Nesse sentido, o filme acerta em mostrar as injustiças e sofrimento aos quais os escravos são submetidos, sem reduzir isso a um espetáculo de violência e miséria. Do mesmo modo, acerta em mostrar Gama como um sujeito autônomo, capaz de cuidar de si mesmo sem precisar ser constantemente resgatado por brancos, algo muito comum nas narrativas sobre superação de preconceitos no Brasil.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Crítica – Kate

 

Análise Crítica – Kate

Review – Kate
Estrelado por Mary Elizabeth Winstead, este Kate é aquele típico filme de ação com trama de vingança. Ao menos consegue entregar cenas de ação envolventes e estilizadas e personagens carismáticos, ainda que presos aos lugares comuns do gênero.

Na trama, Kate (Mary Elizabeth Winstead) é uma assassina que está em missão no Japão para matar os líderes de uma grande família da yakuza. Esta seria sua última missão, mas quando está prestes a matar seu último alvo Kate passa mal e descobre que foi envenenada com um isótopo radioativo. Agora Kate decide buscar vingança contra aqueles que praticamente a condenaram a morte, correndo contra o tempo antes que morra pela contaminação radioativa.

Kate é o arquétipo da assassina que adquire consciência e resolve questionar as ordens, se engajando em uma jornada de reparação pelo sangue derramado. Do mesmo modo, a trama é uma jornada de vingança bem batida e até mesmo a reviravolta ao final que envolve o mentor de Kate, Varrick (Woody Harrelson), é relativamente previsível. Ainda assim, Winstead é competente em trazer o arrependimento de Kate, o desespero pela morte iminente e a raiva que move sua vingança. A atriz também consegue construir um laço sincero com a garota Ani (Miku Patricia Martineau), filha de um alto membro da yakuza e que fica sob a proteção de Kate. Assim, mesmo com a dinâmica manjada da assassina durona e a criança espevitada, a relação das duas tem personalidade o bastante para envolver.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Crítica – Quanto Vale?

 

Análise Crítica – Quanto Vale?

Review – Quanto Vale?
Medir uma vida humana, aferir valor a ela, não é fácil independente da perspectiva que se adote. Ainda assim, há ocasiões em que isso precisa ser feito, uma delas é no âmbito jurídico para calcular indenizações em relação a pessoas que morreram ou tiveram severas sequelas por conta de algum evento. Este Quanto Vale? aborda essa questão a partir da história real do cálculo das indenizações para as famílias das pessoas mortas e feridas durante os atentados do 11 de setembro.

A narrativa é protagonizada por Ken (Michael Keaton), um advogado especialista em processos de danos que é nomeado pelo governo dos Estados Unidos para negociar as indenizações as serem pagas por conta do 11 de setembro. Lidando com inúmeros casos, com diferentes histórias e circunstâncias, Ken precisa definir os critérios da indenização. De início ele cria uma fórmula geral para calcular os rendimentos de todos, mas uma das lideranças das famílias, Charles Wolf (Stanley Tucci), chama atenção de que a fórmula não atende as necessidades específicas de cada um.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Lixo Extraordinário – Capcom Fighting Evolution


Análise Crítica – Capcom Fighting Evolution

Review – Capcom Fighting Evolution
Eu costumo falar sobre filmes lendários por sua ruindade nesta coluna, mas hoje decidi ampliar um pouco do escopo e falar também sobre games marcados pela sua ruindade e pelas consequências causadas em suas desenvolvedoras. O escolhido foi Capcom Fighting Evolution, lançado em 2004 para Xbox e Playstation 2, sendo considerado o pior jogo de luta da Capcom. Tão ruim, na verdade, que provocou um hiato de alguns anos na produção de jogos de luta da desenvolvedora que só reergueu o gênero entre suas produções ao lançar Street Fighter IV em 2008.

Em 2004 as coisas não estavam boas para games de luta. O gênero estava em um período de transição por conta do fim da maioria dos fliperamas e as possibilidades de jogar online ainda não tinham a velocidade e precisão que o gênero requisitava. Street Fighter III: 3rd Strike, de 1999, tinha sido o último game da franquia principal da Capcom. A SNK, responsável por The King of Fighters, estava em processo de falência. Mortal Kombat não estava se saindo muito bem em sua transição para o 3D. Apenas algumas séries (a maioria de combates tridimensionais) como Tekken ou Soul Calibur ainda seguiam, embora não estivessem exatamente vendendo em quantidades impressionanentes.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Rapsódias Revisitadas – Alemanha, Ano Zero

 

Análise – Alemanha, Ano Zero

Review – Alemanha, Ano Zero
Lançado em 1948, Alemanha, Ano Zero é o último da trilogia da Segunda Guerra Mundial feita por Roberto Rossellini. Nos dois filmes anteriores, Roma, Cidade Aberta (1945) e Paisá (1946), Rossellini se voltou para a Itália durante o nazi-fascismo e imediatamente pós-guerra. Neste terceiro, o diretor mira seu olhar na Alemanha pós-guerra, a devastação do país e o desamparo dos cidadãos.

A trama é protagonizada por Edmund (Edmund Kohler) um garoto que tenta encontrar maneiras de ajudar financeiramente a família depois que o pai adoece e o irmão mais velho teme procurar emprego e ser preso por ter servido no exército nazista embora tivesse sido obrigado a servir as forças armadas. Assim, Edmund vaga por uma cidade em ruínas até encontrar um antigo professor de sua escola (que também era um membro do partido nazista). O professor tenta estimular Edmund mas os conselhos dele são em direção de atitudes danosas para o garoto e para a família.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Crítica – The Witcher: A Lenda do Lobo

 

Análise Crítica – The Witcher: A Lenda do Lobo

Review – The Witcher: A Lenda do Lobo
Ainda que tenha sua parcela de problemas, a primeira temporada de The Witcher foi um grande sucesso para a Netflix, então era de se esperar que o serviço de streaming fosse expandir isso em novas temporadas da série e também em outros produtos. O longa animado The Witcher: A Lenda do Lobo vai exatamente nessa direção, contando uma história que se passa séculos antes de Geralt, focando em Vesemir, que se tornaria o mentor do conhecido bruxo de Rívia.

A trama conta a origem de Vesemir, mostrando como ele se tornou bruxo e também como a Escola do Lobo chegou próxima ao fim. Alternando entre passado e presente, vemos a infância do protagonista e o presente enquanto ele se envolve em uma conspiração para eliminar os bruxos da fortaleza ancestral de Kaer Morhen.

A narrativa toca em temas que são comuns às histórias protagonizadas por Geralt, como o preconceito, as desigualdades de classe e o fato de que muitos humanos são mais vis do que qualquer monstro irracional. Tudo isso está presente aqui conforme Vesemir deixa sua vida pobre para se tornar um bruxo e encontra Tetra, uma feiticeira movida por vingança que deseja eliminar os bruxos. Não há nada que nos dê uma compreensão mais profunda sobre isso que já não tenhamos visto na série principal, mas ao menos serve para ampliar o que sabemos sobre a história desse universo.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Crítica – Cinderela (2021)

 

Análise Crítica – Cinderela (2021)

Review – Cinderela (2021)
Esta nova versão de Cinderela soa como uma tentativa da Amazon de produzir um conteúdo semelhante ao da Disney (sendo que eles fizeram seu próprio Cinderela em live action em 2015), mas a produção estrelada por Camila Cabello não consegue sair da sombra da casa do Mickey. A trama até tem boas ideias, o problema é que a estrutura de musical contado a partir de números com novas versões de canções famosas não consegue ter personalidade suficiente para encantar.

Na trama, Ella (Camila Cabello) é uma jovem que sonha em se tornar estilista e vender vestidos por todo o mundo, mas seus sonhos vão de encontro à realidade do reino, no qual mulheres apenas servem para serem esposas e donas de casa. Ela é constantemente maltratada pela madrasta, Vivian (Idina Menzel), que deseja arrumar bons maridos para as duas filhas. Enquanto isso, o rei Rowan (Pierce Brosnan) quer que o filho, o príncipe Robert (Nicholas Galitzine) encontre uma esposa para que ele possa ser anunciado como o próximo rei.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Crítica – Ele é Demais

 

Análise Crítica – Ele é Demais

Review Crítica – Ele é Demais
Clássico da Sessão da Tarde, Ela é Demais (1999) era certamente um produto de seu tempo. Nem tudo que dá certo em uma época, no entanto, funciona bem depois, principalmente com uma premissa que depois foi bastante explorada e parodiada como a desse filme. Ainda assim, este Ele é Demais, produção original da Netflix, tentou uma nova leitura trocando os gêneros dos personagens, mas não funciona. Não pela oposição dos gêneros e sim porque toda a construção da aposta (que já era frágil no original) é ainda menos convincente neste remake.

Na trama, Padget (Addison Rae) é uma garota popular e influenciadora digital que esconde das amigas ricas que é pobre. Quando Padget passa vergonha na internet e perde os patrocínios de marca, faz uma aposta com Alden (Maddison Pettis), a garota mais rica do colégio, de que é capaz de tornar qualquer perdedor em um cara popular. O escolhido é Cameron (Tanner Buchanan, o Robbie de Cobra Kai), um rapaz sem muitos amigos que gosta de fotografia.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Drops – Bob Ross: Alegria, Traição e Ganância

 

Análise Crítica – Bob Ross: Alegria, Traição e Ganância

Review – Bob Ross: Alegria, Traição e Ganância
O pintor Bob Ross ficou mundialmente famoso por seu programa de televisão em que ele ensinava técnicas simples de pintura enquanto fazia um quadro em tempo real para que o espectador ver seu processo. Por trás desse profissional alegre, no entanto, haviam muitos problemas na relação com os sócios que geriam sua empresa e é sobre isso que o documentário Bob Ross: Alegria Traição e Ganância vai tratar.

Recorrendo a entrevistas com o filho de Bob Ross, amigos e colegas de trabalho, bem como imagens de arquivo, a narrativa tenta contar a trajetória do pintor e das tensões com os gestores de sua empresa, o casal Kowalski. Ocasionalmente o filme usa pinturas ao estilo das que Ross fazia para ilustrar alguns testemunhos, mas é algo que acontece muito pouco para ter impacto e o resto do documentário segue o padrão típico de entrevista e arquivo.

A narrativa tenta mostrar como o casal Kowalski foi, de certa forma, responsável pela construção midiática em torno de Ross, mas, ao mesmo tempo, também tiraram tudo do pintor, controlando o nome e a imagem dele mesmo depois da sua morte e sem dar um tostão para a família de Ross. É uma história que choca pelo contraste entre a natureza calma e otimista de Ross e a falta de escrúpulos dos gestores da empresa para com ele, no entanto, a narrativa nunca entrega a intriga e tensão que promete, muito pelo fato de ter um escopo limitado de testemunhas. Muitos envolvidos se recusaram a falar com a produção com medo de retaliação dos Kowalski e os próprios também não aparecem e sem esse embate a tentativa de construção de conflito da trama não se concretiza.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Crítica – A Jornada de Vivo

 

Análise Crítica – A Jornada de Vivo

Review – A Jornada de Vivo
Produzido pela Sony Animation e distribuído pela Netflix, A Jornada de Vivo é aquele tipo de animação infantil que tem a mesma trama que já vimos em dezenas de outros produtos similares. A produção, no entanto, charme o bastante para funcionar como uma diversão sem compromisso graças à energia de seus números musicais.

A narrativa é protagonizada pelo jupará Vivo (voz de Lin Manuel Miranda) que vive em Cuba com o músico Andrés e juntos fazem shows de rua. Quando Andrés morre depois de receber uma carta de seu antigo amor Marta (voz de Gloria Stefan) chamando-o para um show em Miami, Vivo decide ir para os Estados Unidos entregar a Marta a canção que Andrés compôs para ele. Para alcançar o seu destino, ele terá ajuda de Gabi, sobrinha-neta de Andrés que mora nos EUA e vem a Cuba com a mãe para o funeral de Andrés.

Vivo e Gabi fazem a típica dupla de opostos que não se dá bem, mas que juntos aprenderão a cooperar e perceberão que um tem muito a ensinar ao outro. É o tipo de dinâmica que já conseguimos deduzir com poucos minutos de projeção e cujos desdobramentos e reviravoltas são fáceis de antever.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Crítica – The Chair: 1ª Temporada

 

Análise Crítica – The Chair: 1ª Temporada

Review – The Chair: 1ª Temporada
O universo acadêmico é extremamente apropriado para uma narrativa cômica de ficção graças à burocracia Kafkiana, as vaidades fúteis, o ativismo estudantil que muitas vezes passa do ponto, enfim, elementos propícios à exploração do absurdo. Ainda assim a ficção audiovisual pouco explora esse tipo de universo, com poucas produções na minha memória, como o filme israelense Nota de Rodapé (2013). Por isso fiquei bem curioso para conferir esta primeira temporada de The Chair e como ela tenta construir comédia e drama em uma história sobre o meio acadêmico.

A narrativa é protagonizada por Ji-Yoon (Sandra Oh) a primeira mulher a se tornar chefe do departamento de inglês de uma prestigiosa universidade. O cargo, no entanto, vem com vários problemas, já que ela enfrenta pressão do reitor para aumentar o número de matrículas ou terá de convencer os professores mais antigos (que tem menos alunos) a se aposentarem. Ao mesmo tempo ela precisa lidar com uma crise com os estudantes quando um professor, Bill (Jay Duplass), faz uma brincadeira infeliz em sala de aula e começa a ser hostilizado.