A narrativa é protagonizada por Ji-Yoon (Sandra Oh) a primeira mulher a se tornar chefe do departamento de inglês de uma prestigiosa universidade. O cargo, no entanto, vem com vários problemas, já que ela enfrenta pressão do reitor para aumentar o número de matrículas ou terá de convencer os professores mais antigos (que tem menos alunos) a se aposentarem. Ao mesmo tempo ela precisa lidar com uma crise com os estudantes quando um professor, Bill (Jay Duplass), faz uma brincadeira infeliz em sala de aula e começa a ser hostilizado.
A série mostra as constantes disputas dentro de um ambiente acadêmico. De um lado a necessidade de melhorar o ensino e oferecer conteúdo de qualidade, do outro o imperativo mercadológico (principalmente em instituições privadas) de criar estratégias para atrair alunos, o que gera ações que nem sempre são as mais úteis em termos de formação discente (em uma faculdade privada que trabalhei o estacionamento abrigou shows durante a primeira semana do semestre que tornavam impossível dar aula). Ao longo da série também é abordada a questão do ambiente acadêmico ser primordialmente masculino e branco, com múltiplas barreiras sendo colocadas a mulheres e pessoas de cor.
O texto trata isso sem recorrer a maniqueísmos fáceis, entendendo que por mais que as demandas estudantis por representatividade e inclusão sejam justas e devam ser acolhidas, é possível que essas cobranças passem do ponto, exigindo a demissão de um docente que é um aliado da causa apenas por um comentário infeliz. Nesse sentido é também revelada a anuência da instituição que cede a demandas exageradas apenas para dar a impressão de que está preocupada com essas pautas sem que, no entanto, precise fazer reformas reais que de fato tornem a universidade um espaço inclusivo.
Por mais que não deixe de tratar com seriedade esses temas, a série encontra um meio de olhar tudo isso com humor e ironia, como o fato do reitor obrigar Ji-Yoon a tentar paparicar uma celebridade para palestrar na universidade na tentativa de atrair estudantes. O arco de Joan (Holland Taylor) consegue encontrar comédia e absurdo conforme ela tenta sair do minúsculo escritório em que foi colocada ou tenta rastrear alunos que falam mal dela na internet, mesmo usando a jornada da personagem para falar sobre discriminação de gênero no ambiente acadêmico. Drama e comédia transitam com fluidez pela narrativa, nunca soando como guinadas abruptas de tom.
Ainda que o contexto brasileiro não seja exatamente idêntico ao contexto acadêmico dos EUA, não lembro outro produto sobre o tema que conseguiu captar tão bem a efervescência do universo acadêmico e as constantes tensões que estão presentes nele. O arco de Yaz (Nana Mensah) tentando ser efetivada e sendo sabotada pelo colega mais velho, Elliot (Bob Balaban), mostra como a vaidade guia o ambiente docente, já que Elliot ressente a popularidade de Yaz e menospreza as metodologias ativas que ela usa para engajar os alunos com os assuntos da aula.
Caminhando com fluidez entre
drama e comédia, The Chair faz um
retrato competente das complexas dinâmicas e conflitos presentes no ambiente
acadêmico contemporâneo.
Nota: 8/10
Trailer
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