A trama acompanha a história real de Luiz Gama (Cesar Mello), advogado negro que trabalhava para libertar escravos. A narrativa o segue desde a infância, quando foi injustamente vendido como escravo apesar de ter nascido livre, até a idade adulta quando decide defender um jovem escravo acusado de matar o seu senhor.
Cesar Mello consegue trazer uma personalidade magnética e um discurso apaixonado para Gama, tornando crível a capacidade do advogado em argumentar e convencer brancos donos de fazenda da chaga que era a escravidão e da injustiça que isso representa ao povo negro. Nesse sentido, o filme acerta em mostrar as injustiças e sofrimento aos quais os escravos são submetidos, sem reduzir isso a um espetáculo de violência e miséria. Do mesmo modo, acerta em mostrar Gama como um sujeito autônomo, capaz de cuidar de si mesmo sem precisar ser constantemente resgatado por brancos, algo muito comum nas narrativas sobre superação de preconceitos no Brasil.
A primeira metade da trama, no entanto, se desenvolve muito rápido, passando por vários períodos de tempo, mostrando de maneira tão acelerada as diferentes fases da vida de Gama que tudo soa fragmentado e episódico demais para ter o devido peso dramático, como se o filme tivesse pressa em mostrar o personagem já como advogado e no caso que é o centro do conflito da trama. Talvez fosse melhor se o filme fosse todo focado no caso e no julgamento e ao longo dos procedimentos nos mostrasse a vida posterior de Gama em flashbacks. Claro, a duração acaba sendo um fator, já que noventa minutos é um tempo relativamente curto para abordar uma trajetória tão complexa e uma duração um pouco maior talvez contribuísse para aprofundar o percurso do personagem.
Alguns personagens coadjuvantes são prejudicados pelo excesso de didatismo de alguns diálogos e por performances que mais parecem que essas falas estão sendo declamadas diretamente para o público do que em uma conversa orgânica dirigida aos demais personagens em cena. Ocasionalmente a narrativa tenta construir certas situações que acabam tendo pouca repercussão na trama. Quando Antônio (Higor Campagnaro), sócio de Gama, decide não se juntar ao protagonista na defesa do jovem acusado de matar seu senhor, imaginamos que isso pode causar um conflito no futuro. Algumas cenas depois, no entanto, vemos Antônio sentado ao lado de Gama no tribunal sem muita explicação do que motivou a mudança de atitude do personagem.
Esses defeitos, no entanto, não
tiram a força dos temas que o filme trata ou a relevância de contar a história
de alguém tão importante para a história do abolicionismo brasileiro como foi
Luiz Gama.
Nota: 6/10
Trailer
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