segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Crítica – Ele é Demais

 

Análise Crítica – Ele é Demais

Review Crítica – Ele é Demais
Clássico da Sessão da Tarde, Ela é Demais (1999) era certamente um produto de seu tempo. Nem tudo que dá certo em uma época, no entanto, funciona bem depois, principalmente com uma premissa que depois foi bastante explorada e parodiada como a desse filme. Ainda assim, este Ele é Demais, produção original da Netflix, tentou uma nova leitura trocando os gêneros dos personagens, mas não funciona. Não pela oposição dos gêneros e sim porque toda a construção da aposta (que já era frágil no original) é ainda menos convincente neste remake.

Na trama, Padget (Addison Rae) é uma garota popular e influenciadora digital que esconde das amigas ricas que é pobre. Quando Padget passa vergonha na internet e perde os patrocínios de marca, faz uma aposta com Alden (Maddison Pettis), a garota mais rica do colégio, de que é capaz de tornar qualquer perdedor em um cara popular. O escolhido é Cameron (Tanner Buchanan, o Robbie de Cobra Kai), um rapaz sem muitos amigos que gosta de fotografia.

Desde Ela é Demais a escolha do alvo sempre parecia longe do pior possível, mas se lá ao menos fizeram o esforço de “enfeiar” a protagonista com óculos fundo de garrafa, roupas extremamente largas e outros adereços, o mesmo não acontece aqui. Cameron é, desde o início, dentro de qualquer padrão de beleza e o filme tenta se esquivar dessa questão ao abordar o fato dele não ter redes sociais ou não ser conhecido, como se fosse difícil para alguém extremamente atraente conseguir seguidores na internet. A ideia de que ele é um pária por gostar de música e cinema da década de 70 não faz o menor sentido, isso é a personalidade de qualquer hipster básico (e posteriormente ainda descobrimos que ele é um excelente lutador, algo que a trama nunca se dá ao trabalho de explicar). Alguém com esse tipo de gosto dificilmente ficaria isolado em um colégio em área nobre, com muitos pretensos músicos e cineastas.

Desta maneira, todo o percurso de Cameron ao longo do filme soa difícil de embarcar, principalmente porque o romance com Padget vem tão fácil e tão rápido, ainda que o casal principal tenha uma boa química. Falta também os diálogos rápidos e sagazes que deram ao original um senso de humor bem próprio, que ajudou a diferenciá-lo do resto dos romances adolescentes da época. Talvez fosse melhor, considerando a fragilidade da premissa principal, apostar em algo mais autoconsciente, ciente da natureza ridícula do conflito da trama, embora isso pudesse deixar tudo muito parecido com Não é Mais um Besteirol Americano (2001).

Alguns membros do elenco original como Rachel Leigh Cook ou Matthew Lillard têm pequenas aparições que não passam de um apelo à nostalgia. O final tenta trazer uma lição de moral óbvia sobre a natureza construída e falsa da vida das influenciadoras digitais, mas toda a mensagem é sabotada por um epílogo em que vemos Padget e Cameron como influenciadores digitais, aquilo que minutos antes a protagonista criticou. Só porque eles estão mostrando uma vida supostamente “sem filtro” não significa que é algo menos problemático ou possivelmente nocivo em criar expectativas irreais.

Com uma mensagem inconsistente, uma trama que não consegue convencer em seus principais conflitos e diálogos que carecem de sagacidade, Ele é Demais é um daqueles remakes que nunca justifica a própria existência.

 

Nota: 3/10


Trailer

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