A narrativa é protagonizada por Ken (Michael Keaton), um advogado especialista em processos de danos que é nomeado pelo governo dos Estados Unidos para negociar as indenizações as serem pagas por conta do 11 de setembro. Lidando com inúmeros casos, com diferentes histórias e circunstâncias, Ken precisa definir os critérios da indenização. De início ele cria uma fórmula geral para calcular os rendimentos de todos, mas uma das lideranças das famílias, Charles Wolf (Stanley Tucci), chama atenção de que a fórmula não atende as necessidades específicas de cada um.
Ken é inicialmente um protagonista difícil de aderir por conta de sua postura excessivamente pragmática em relação à situação delicada com a qual está negociando. Seu ímpeto de reduzir tudo a números chega a ser desumano em muitos momentos e não temos muitos motivos para nos importarmos com ele. Claro, o arco do personagem é justamente o de entender os erros e adotar uma postura mais humana, mas, nesse caso, talvez fosse melhor que a trama tivesse sido enquadrada sob o olhar de Charles, o sujeito que de fato luta para humanizar o processo, do que Ken.
Ken só não é um personagem completamente desagradável porque Michael Keaton consegue dar a ele uma certa vulnerabilidade, como se o discurso de objetividade e pragmatismo do personagem fosse um mecanismo de defesa para evitar se envolver emocionalmente. Do mesmo modo, Stanley Tucci traz um enorme calor humano e uma revolta contida a Charles, sendo uma pena que a narrativa apenas use seu personagem para dizer platitudes a Ken, já que ele poderia render mais se melhor explorado.
Os depoimentos dos familiares durante as audiências dão o peso da dor dessas pessoas e do quanto está em jogo para elas não apenas a busca por alguma medida de justiça, como também a fragilidade financeira e o quanto essas indenizações podem fazer a diferença na vida daquelas pessoas. Por outro lado, a trama não consegue construir muitos conflitos ao longo do percurso de Ken. As discussões com Charles, por exemplo, são mais momentos de aprendizado do que de drama para ele.
Mais para frente parece que Ken entrará em conflito com o governo quando resolve jogar fora a fórmula para avaliar cada caso individualmente usando seu poder discricionário, no entanto nada acontece. Assim, nunca temos a impressão de que há algo em jogo para ele ou que ele sofrerá duras consequências caso fracasse, o que dilui as tentativas do texto em criar uma impressão de urgência e drama em relação ao fim do prazo para as indenizações.
Desta maneira, Quanto Vale? tenta apresentar uma
discussão complexa sobre reparação jurídica e vale principalmente pelo trabalho
de seu elenco, já que nunca vai muito a fundo nos temas que tenta construir.
Nota: 6/10
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