terça-feira, 21 de setembro de 2021

Crítica – Sex Education: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Sex Education: 3ª Temporada

Review – Sex Education: 3ª Temporada
A segunda temporada de Sex Education fazia um bom trabalho de expandir o universo da série e desenvolver outros personagens secundários da escola. Esta terceira temporada vai na mesma direção ampliando ainda mais nosso entendimento sobre esses indivíduos e a discussão sobre o lugar do sexo no ambiente educacional.

Depois os eventos da temporada anterior, Moordale ficou marcada como “a escola do sexo”, em virtude disso, a escola recebe uma nova diretora, Hope (Jemima Kirke), que é pressionada pelo comitê gestor para reverter a imagem da instituição. Ao mesmo tempo, os aluno retornam às aulas com novidades depois das férias. Otis (Asa Butterfield) está envolvido com Ruby (Mimi Keene), a menina mais popular do colégio. Enquanto isso, Eric (Ncuti Gatwa) segue com Adam (Connor Swindells), Maeve (Emma Mackey) se aproxima de Isaac (George Robinson) sem saber que ele apagou uma importante mensagem de Otis e Jean (Gillian Anderson) resolve contar a Jakob (Mikael Persbrandt) que está grávida.

O grande mérito da série é o retrato que ela faz sobre juventude, mostrando as ânsias desses jovens, mas sem relativizar os defeitos deles. Por mais bem intencionado que seja, Otis acaba sendo imaturo, como é evidenciado na conduta dele depois que Jakob e Ola (Patricia Allison) se mudam para a casa dele. Do mesmo modo, por mais que Maeve esteja trabalhando duro para construir uma vida melhor, não deixamos de perceber como ela sistematicamente age para afastar as pessoas de quem gosta.

A temporada também ajuda a dar mais profundidade a alguns personagens que não tinham recebido muitos holofotes, como Ruby. A relação dela com Otis e a revelação de que a garota tem uma família humilde vão aos poucos mostrando que toda a persona de patricinha venenosa funciona como uma espécie de mecanismo de defesa para suas inseguranças. Até mesmo Michael (Alistair Petrie), o pai de Adam, tem seu passado mais explorado e entendemos como anos de bullying nas mãos do pai e irmão mais velho o tornaram um adulto tão tóxico e reprimido. O percurso do personagem não é uma completa redenção, mas os passos iniciais em uma jornada de reparação e auto aceitação.

De certa forma é o que acontece com o próprio Adam, ainda lutando para adquirir confiança para sair do armário ele não consegue suprir as necessidades emocionais (e até físicas) de Eric, que já está confortável e orgulhoso consigo mesmo. A amizade entre Eric e Otis, por sinal, é uma das melhores retratadas da ficção jovem recente, já que há uma ternura enorme entre eles, uma alegria genuína pelo sucesso do outro. As demonstrações de carinho entre os dois nunca são retratadas como algo ridículo ou vergonhoso, algo raro no modo como a ficção mainstream costuma apresentar em termos de amizade masculina.

Seria fácil a narrativa reduzir Hope como uma megera autoritária, mas tanto o texto quanto a atuação de Jemima Kirke mostram que ela tem um interesse verdadeiro em ajudar os alunos, ainda que seus meios sejam equivocados, e as vulnerabilidades dela, como o desejo frustrado de engravidar, ajudam a humanizar a personagem. O contraste entre o jeito inicialmente descolado e as medidas retrógradas, embaladas por um discurso de inovação e autonomia estudantil, refletem algo que tenho visto de maneira recorrente em instituições de ensino (atuo como professor universitário) no qual termos como “inovação” e “autonomia discente” são usados para fazer métodos pedagógicos anacrônicos parecerem novos e vender com aparência de moderno e libertador um ensino que faz os alunos se conformarem a padrões pré-estabelecidos.

O desfecho confirma como um ensino que dialogue abertamente com os estudantes, inclusive sobre temas tabus, como sexo, permite que esses jovens tenham mais domínio e maturidade no modo como lidam com os corpos e emoções. O fato de que os estudantes tenham demonstrado orgulho disso signifique que a escola continue a ser tratada como um fracasso apenas reforça o longo caminho de aprendizado que ainda temos enquanto sociedade. Por outro lado, é estranho que as punições que Hope dá aos alunos forçando-os a usarem “plaquinhas da vergonha” não cause um rebuliço maior, já que seria muito fácil imaginar as imagens desses alunos expostos no auditório circulando na internet e as pessoas considerando a ação como assédio moral, ainda mais porque todos os punidos eram membros de grupos minoritários.

Lidando com as agruras da juventude com maturidade e ternura, essa terceira temporada de Sex Education é, possivelmente, a melhor da série até aqui, construindo um panorama amplo, complexo e emocionalmente rico de seu universo.

 

Nota: 9/10


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