quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Crítica – Um Ninho Para Dois

 Análise Crítica – Um Ninho Para Dois


Review – Um Ninho Para Dois
O luto pela perda de um ente querido não é fácil. O luto pela perda de um filho pequeno provavelmente é ainda mais difícil. É sobre isso que este Um Ninho Para Dois tenta tratar misturando drama e comédia, embora essa mescla não funcione como deveria.

A trama é focada no casal Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O’Dowd) que está passando por dificuldades depois do falecimento da filha ainda bebê. Lilly tenta seguir com o trabalho, enquanto Jack está internado em uma clínica depois de uma tentativa de suicídio. Lilly tenta ocupar o tempo plantando uma horta em seu quintal, mas começa a ter problemas quando um estorninho, um pássaro bastante territorial, começa a “morar” em uma das árvores do quintal, atacando Lilly sempre que ela se aproxima da horta.

O elenco é o ponto forte do filme. Melissa McCarthy já tinha mostrado habilidade para o drama no subestimado Poderia Me Perdoar? (2018) e aqui volta a exibir seu alcance dramático. Com um olhar perdido, Lilly é uma mulher à deriva, que não sabe como tocar a vida depois da perda e dos traumas que isso infligiu no marido. Os esforços dela em seguir adiante mostram que ela não deu o devido tempo ao luto, como que querendo pular as etapas, algo visível na cena em que ela tenta desesperadamente remover as marcas do berço no carpete, esperando que a ausência de marcas torne mais fácil aceitar a partida da filha.

Do mesmo modo, Chris O’Dowd, cuja carreira também é predominante de comédias, também explora bem sua capacidade de fazer drama com Jack. Exibindo uma introspectiva vulnerabilidade, Jack está tão afundado em sua própria dor que não consegue ver saída dela ou mesmo enxergar a dor da própria esposa. O arco de ambos lida com temas difíceis como luto, depressão e suicídio, mas os dois atores transitam bem pelas emoções necessárias para tornar crível a dor desses personagens.

O texto, por outro lado, deixa bastante a desejar. A presença do pássaro no quintal de Lilly serve como uma metáfora óbvia para a necessidade dela em aceitar conviver com coisas que estão fora de seu controle, incluindo o falecimento da filha. As cenas em que ela tenta se livrar da ave caem em um humor que parece saído de um desenho do Coiote e do Papa-Léguas, não conseguindo dialogar muito bem com o restante dos temas mais sérios e pesados que a narrativa tenta abordar.

Outro problema são que os desenvolvimentos dos personagens ao final dependem de epifanias que acontecem por pura conveniência do roteiro. Em um instante Jack está no fundo do poço, apenas para na cena seguinte já estar se sentindo bem o suficiente para deixar a clínica. Esse amadurecimento nunca soa devidamente merecido e parece que o filme “pulou” etapas da jornada do personagem apenas para chegar mais rápido ao final, que simplifica demais um processo tão complexo quanto o que se impõe aos personagens. Do jeito que é construído, parece que sair de uma depressão é meramente uma questão de força de vontade.

Apesar do ótimo trabalho de McCarthy e O’Dowd, Um Ninho Para Dois é prejudicado por um roteiro que não consegue harmonizar bem drama e comédia, nem consegue desenvolver seus personagens de maneira convincente.

 

Nota: 5/10


Trailer

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