quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Crítica – The Voyeurs

 

Análise Crítica – The Voyeurs

Review – The Voyeurs
O cinema é um meio expressivo que se vale do prazer escopofílico de vermos histórias sobre dramas pessoas, terrores inimagináveis, aventuras audazes e várias outras emoções do conforto de nossa poltrona. Quando assistimos um filme temos um olhar que é muitas vezes onipresente, vendo tudo, julgando todos como se fossemos uma divindade observando toda uma cosmologia se desenvolvendo diante dos nossos olhos. Muitos filmes inclusive já refletiram sobre o prazer visual de observar outros e dos problemas quando ficamos sob observação, com Janela Indiscreta (1954) sendo o mais famoso deles. Este The Voyeurs funciona como uma mistura de Janela Indiscreta com Dublê de Corpo (1984) e alguns episódios de Black Mirror. O todo, no entanto, é menor que a soma das partes.

A trama acompanha o casal Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith), que se muda para um novo apartamento e começa a observar a rotina do casal no apartamento da frente, Seb (Ben Hardy) e Julia (Natasha Liu Bordizzo). Com o tempo, Pippa e Thomas ficam cada vez mais envolvidos com a rotina do outro casal, principalmente quando descobrem os segredos e traições que guardam um do outro.

É clara a tentativa de construir algo que remete aos suspenses eróticos da década de oitenta, bem como refletir sobre o olhar o prazer de observar. O problema é que boa parte da temática principal é desenvolvida em metáforas pouco sutis, desde a música Eyes Without a Face usada constantemente ao trabalho de Pippa como oftalmologista. A trama se desenvolve como se esperaria de um produto do gênero, construindo as tensões aos poucos, com o trabalho de Sydney Sweeney sendo eficiente em transmitir a excitação do olhar e a desolação de quando as coisas começam a dar errado.

A jovem atriz é a melhor coisa do filme, já que o Justice Smith e Ben Hardy são apáticos demais para produzir qualquer envolvimento e Natasha Liu Bordizzo tem uma personagem tão inconsistente que é difícil fazer funcionar. Chega a ser curioso que Sweeney tem encontrados projetos muito bons de séries como suas participações em O Conto da Aia, Euphoria e em White Lotus, mas seus projetos em filmes são produções meia boca como Noturno (2020) ou este aqui.

Durante boa parte da projeção ele caminha como um suspense até tolerável, ainda que sem nada de especial, mas desmorona por completo em seu terço final e seus esforços de criar grandes reviravoltas. A revelação do plano de Seb e Julia é tão mirabolante que soa ridícula, já que dependeria de uma série de fatores fora do controle de ambos para funcionar e caso não funcionasse eles teriam feito tudo aquilo a troco de nada. Também é difícil crer que mesmo estando legalmente coberto Seb não seria ostracizado do meio artístico pelas questões éticas envolvidas, principalmente nesse momento de “cancelamento” virtual.

De maneira semelhante a morte de um personagem acontece quase que por exigência de roteiro, com pouca motivação para um ato tão extremo. A vingança de Pippa ao final também soa forçada e estranhamente inconsequente, já que Seb e Julia poderiam simplesmente tê-la denunciado à polícia após o fato (principalmente porque a clínica em que ela trabalha deve ter câmeras, log ins e outras evidências) e ainda assim a protagonista fica inexplicavelmente livre. Eu entendo que todas essas reviravoltas tentam falar sobre vivermos em uma sociedade panóptica onde todos observam e são observados o tempo todo, mas a maneira como é feita é tão absurda que se torna praticamente cômico. Episódios de Black Mirror trataram melhor sobre esses temas.

Apesar de começar como um thriller minimamente tolerável, The Voyeurs se entrega a desenvolvimentos tão mirabolantes que descamba para o ridículo.

 

Nota: 3/10


Trailer

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