sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Lixo Extraordinário – Capcom Fighting Evolution


Análise Crítica – Capcom Fighting Evolution

Review – Capcom Fighting Evolution
Eu costumo falar sobre filmes lendários por sua ruindade nesta coluna, mas hoje decidi ampliar um pouco do escopo e falar também sobre games marcados pela sua ruindade e pelas consequências causadas em suas desenvolvedoras. O escolhido foi Capcom Fighting Evolution, lançado em 2004 para Xbox e Playstation 2, sendo considerado o pior jogo de luta da Capcom. Tão ruim, na verdade, que provocou um hiato de alguns anos na produção de jogos de luta da desenvolvedora que só reergueu o gênero entre suas produções ao lançar Street Fighter IV em 2008.

Em 2004 as coisas não estavam boas para games de luta. O gênero estava em um período de transição por conta do fim da maioria dos fliperamas e as possibilidades de jogar online ainda não tinham a velocidade e precisão que o gênero requisitava. Street Fighter III: 3rd Strike, de 1999, tinha sido o último game da franquia principal da Capcom. A SNK, responsável por The King of Fighters, estava em processo de falência. Mortal Kombat não estava se saindo muito bem em sua transição para o 3D. Apenas algumas séries (a maioria de combates tridimensionais) como Tekken ou Soul Calibur ainda seguiam, embora não estivessem exatamente vendendo em quantidades impressionanentes.

Nesse cenário, a Capcom recebeu alguns ex-funcionários da SNK por conta do fechamento da empresa. Esses desenvolvedores começaram a trabalhar em um game de luta que reuniria personagens de vários jogos da Capcom e alguns personagens originais e se chamaria Capcom Fighting All-Stars. O jogo teria gráficos tridimensionais com movimentação 2D e tinha mecânicas que misturavam elementos de vários games da empresa. O jogo foi eventualmente cancelado por conta do feedback negativo de jogadores durante o processo de testes e também pelo cenário econômico pouco favorável a jogos de luta.

A ideia de juntar vários personagens da Capcom em um jogo de luta, no entanto, permaneceu, já que a Capcom não queria ver o dinheiro gasto no desenvolvimento de All-Star fosse desperdição. Yoshinori Ono (que posteriormente conduziria Street Fighter V) foi colocado pela empresa para realizar um game com esse conceito o mais rápido possível e com o mínimo orçamento possível. Capcom Fighting Evolution foi lançado, portanto, sem tempo para exercitar qualquer criatividade nos desenvolvedores e com praticamente nenhum dinheiro e isso é visível no produto final.

O jogo trazia personagens de Super Street Fighter II Turbo, Street Fighter III, Street Fighter Alpha, Darkstalkers e Red Earth, além da personagem original Ingrid (que seria uma das protagonistas do cancelado All-Stars). O visual era o 2D tradicional da Capcom e as lutas se desenvolviam de maneira similar a Rival Schools, o jogador selecionava uma dupla de lutadores, mas controlava apenas um, podendo trocar o lutador a cada round.

Como foi feito com quase nenhum orçamento, todos os sprites de personagem foram reutilizados de outros jogos, sem levar em consideração ou sem qualquer esforço de adaptar os estilos visuais contrastantes dos diferentes jogos nem mesmo as diferentes qualidades de resolução e de frames de animação. Assim, sprites com quase dez anos como os de Darkstalkers eram colocados lado a lado com personagens mais recentes como os de Red Earth que tinham melhor resolução e movimentos mais detalhados, sem mencionar um estilo de design totalmente diferente.

Os cenários eram imagens estáticas (algumas com a impressão de serem fotografias de lugares reais) com muitos elementos retirados de artes conceituais de outros jogos da Capcom, léguas de distância dos ambientes criativos e cheios de elementos animados de jogos imediatamente anteriores, como Capcom vs SNK 2. Os finais eram painéis em quadrinhos sem qualquer texto, vozes, efeitos sonoros, movimentos ou qualquer esforço de construir um mínimo de narrativa ao jogo. Assim, toda a apresentação parecia mais a de um game amador feito em MUGEN reciclando dados de outros jogos do que um produto oficial da própria Capcom.

Os problemas se estendem ao gameplay, fundamentalmente desbalanceado. Cada “facção” de personagens, por assim dizer, traz consigo as mecânicas de seu jogo nativo e está preso a elas. Não é possível selecionar o estilo ou barra de especial para o lutador como em Capcom vs SNK 2 e isso fazia alguns personagens serem muito limitados enquanto outros tinham uma quantidade enorme de ferramentas à disposição. Os de Super Street Fighter II Turbo não podiam, por exemplo, defender no ar ou se locomover rápido com dashes, mas os de Street Fighter III podiam fazer tudo isso e ainda tinham especiais EX e a possibilidade de defletir ataques. Tudo isso, claro, fruto da velocidade e pouco orçamento para a equipe implementar lutadores de jogos tão diferentes entre si e com tantos elementos.

Para além das mecânicas preguiçosamente implementadas e quebras em termos de equilíbrio, os controles pareciam lentos e desajeitados, sem velocidade de outros jogos da empresa. Também tinham pouquíssimos modos além dos tradicionais arcade, versus e treino, muito básico mesmo para a época, quando Mortal Kombat: Deception e Tekken 5 tinham mais conteúdo. A recepção crítica foi a mais negativa de qualquer outro game de luta da Capcom desde então e as vendas foram baixíssimas o que motivou o hiato da Capcom em jogos do gênero. Só mesmo com Street Fighter IV (feito pelo mesmo Yoshinori Ono) que a desenvolvedora devolveu os jogos de luta aos seus tempos de glória, reinvigorando o gênero não apenas para si, mas para todo o mercado.

Feito de qualquer jeito, sem qualquer criatividade, mecânicas interessantes, variedade de modos e completamente desbalanceado, Capcom Fighting Evolution é provavelmente o pior jogo de luta da Capcom desde o primeiro Street Fighter.


Trailer

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