sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Crítica – Metroid Dread

 

Análise Crítica – Metroid Dread

Review – Metroid Dread
A Nintendo é um pouco inconsistente no tratamento de suas franquias. Enquanto Mario ou Pokémon recebem lançamentos constantes, séries como Metroid tem longos hiatos sem nenhum novo jogo, apenas remakes ou relançamentos. O último jogo original protagonizado por Samus Aran foi Metroid: Other M (2010) para Nintendo Wii e a última aventura original em 2D foi Metroid Fusion (2002) para Game Boy Advance. Ou seja, mais dez anos sem um novo Metroid e quase vinte desde uma aventura 2D que continuasse a cronologia principal. Pois Metroid Dread chega justamente para suprir essa ausência, trazendo Samus em uma aventura 2D que segue os eventos de Metroid Fusion.

Na trama, Samus está se recuperando da batalha com os parasitas X quando uma misteriosa transmissão vinda do planeta ZDR mostra o X vivendo no planeta, contrariando a ideia de que eles estariam extintos. A Federação despacha os EMMI robôs de reconhecimento com armadura reforçada para mapearem o planeta, mas perdem a conexão com eles. Sem saber o que está havendo, Samus, a única resistente ao X, é despachada para ZDR. Lá ela é confrontada por um misterioso membro dos Chozo, uma raça que se acreditava estar extinta, que a ataca e a deixa nas profundezas do planeta com seu traje danificado. Agora Samus precisa recuperar as melhorias do traje, retornar à superfície do planeta e descobrir o mistério envolvendo os Chozo e os parasitas X.

O fluxo de gameplay consegue encontrar um equilíbrio entre a exploração aberta de Super Metroid e uma narrativa mais focada como em Metroid Fusion. A inteligência artificial Adam dá algumas indicações a Samus, mas o jogo não segura a mão do usuário que é deixado solto para descobrir os obstáculos e armadilhas que ZDR aguarda. A trama, por sinal, cumpre o que promete em oferecer um clímax à saga iniciada no primeiro Metroid, trazendo respostas sobre a origem de Samus, os Chozo, os Metroids e o X. Tem uma boa parcela de reviravoltas inesperadas e é competente em criar um clima de tensão constante. Por outro lado, a trama se apoia demais nas longas exposições de Adam e carece de uma perspectiva pessoal da própria Samus. Vemos ela descobrir coisas inesperadas e assustadoras sobre si mesma, mas a narrativa nunca nos dá o que isso tudo significa ou impacta para a personagem.

Como é de costume na franquia, o planeta ZDR oferece múltiplos biomas interconectados, variando de laboratórios a regiões gélidas, áreas tomadas por magma e florestas. O jogo faz um bom trabalho em fazer esse planeta parecer vivo e em constante mudança, com os ambientes mudando ao longo da história. Ao ligar a energia em uma instalação, por exemplo, eu acabo ligando também a refrigeração, deixando algumas salas congeladas, tornando impossível entrar nelas até obter o upgrade adequado. Em outro momento, redireciono a lava para abrir caminho, mas isso faz uma espécie de fungo de calor aparecer em outras áreas bloqueando a passagem. Desta maneira, cada ação demonstra claras consequências no mundo à sua volta e o jogador se sente explorando um mundo desconhecido e imprevisível.

Uma novidade na exploração são as áreas patrulhadas pelos EMMI, robôs extremamente velozes e móveis que patrulham determinados segmentos de cada área e perseguem Samus assim que a veem. É impossível ferir os EMMI com armas normais e ser pego por eles significa morte instantânea exceto por uma pequena janela de contra ataque. Assim, transitar por áreas patrulhadas pelos EMMI constroem momentos de tensão e urgência conforme o jogador evita detecção ou foge dos implacáveis robôs. Mesmo quando se obtêm o artefato que permite destruir o EMMI de uma área, o embate tem sua carga de suspense e requer inteligência do jogador em relação ao posicionamento. Para matar um EMMI é preciso primeiro arrebentar sua blindagem e depois carregar o disparo que o destruirá. Dessa forma, destruir um EMMI requer dominar o terreno e encontrar um espaço onde é possível desgastar a blindagem ou carregar o tiro antes que ele te alcance.

A movimentação de Samus é mais ágil do que nunca, com a desenvolvedora MercuryStream trazendo de volta algumas mecânicas que introduziu no remake do segundo Metroid, Metroid: Samus Returns (2017), lançado para DS, como o contra-ataque. Ao contra atacar no momento certo, a heroína mata instantaneamente os inimigos e eles deixam mais itens. A mobilidade de Samus, o sistema de mira que permite a personagem parar e mirar em qualquer direção (atentem para o modo como ela muda o pé de apoio e balanceia o peso do corpo conforme a mira se move) e a possibilidade de contra-atacar as investidas dos inimigos estimula uma movimentação mais agressiva do jogador, sempre indo adiante e enfrentando diretamente os adversários para eliminações mais rápidas e maiores recompensas. Ao longo da jornada há um fluxo constante de upgrades que realmente fazem Samus se sentir mais poderosa conforme adquirimos mais capacidade ofensiva e de mobilidade.

O fato de nos sentirmos poderosos, no entanto, não significa que o jogo é fácil. As batalhas contra chefões são algumas das mais difíceis em minha memória recente, já que os inimigos são igualmente agressivos e causam muito dano. Mesmo subchefes me deram trabalho e me mataram várias vezes. Para vencer é preciso estar atento aos padrões de ataque e dominar todas as habilidades de Samus, já que cada uma delas é necessária para aproveitar vulnerabilidades ou desviar de ataques inimigos. A batalha final contra o vilão Raven Beak é brutal e exige domínio de absolutamente todo o arsenal de habilidade de Samus para vencer. Apesar de morrer várias vezes, nunca senti que foram mortes injustas e eu podia entender perfeitamente onde errei e como melhorar, aprendendo a desviar ou contra-atacar com eficácia cada habilidade dos chefões.

Com uma boa história, exploração que acerta no clima de tensão e combates desafiadores, Metroid Dread é o melhor da franquia desde Super Metroid.

 

Nota: 9/10


Trailer

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