Depois da experiência em um hospital de campanha, Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) retornam aos plantões tradicionais no Hospital Edith de Magalhães. Além da rotina corrida do hospital, o casal precisa lidar com o retorno de Diana (Ana Flávia Cavalcanti), que revela que teve um filho com Evandro. Diana acaba desaparecendo e deixando o bebê com Evandro e Carolina, que precisam readaptar a rotina.
Como de costume ao longo da série, os casos abordados a cada episódio retratam problemas de saúde recorrentes na população, tentando mostrar os problemas sociais que muitas vezes causam tudo isso. Como a violência urbana que faz inocentes serem vítimas de bala perdida, a rotina de trabalho precarizada de entregadores de aplicativo que não lhes dá tempo para cuidados de saúde ou qualquer coisa além de trabalho ou o racismo que causa um trote violento na universidade contra um jovem negro.
Os textos trabalham de maneira orgânica a conscientização ao redor de vários problemas de saúde como depressão, HIV ou os riscos da automedicação sem jamais soar como se fosse uma videoaula ou uma exposição descabida por parte dos personagens. Mesmo quando lida com problemas sociais delicados o texto trabalha esses temas de maneira madura e com naturalidade, como no episódio em que Mauro (David Junior) tenta convencer o pai de um paciente a denunciar o ataque racista que levou o filho a ser hospitalizado.
Há também alguns episódios mais focados em ação como o do incêndio, que constrói muito bem o clima de urgência de um evento desses em uma unidade de saúde. Ao longo da temporada (como é de costume desde o início da série) a realidade corrida dos médicos do SUS é desnudada, se valendo principalmente de planos longos dos médicos por entre os corredores precisando lidar com vários problemas ao mesmo tempo. A precariedade das instalações e falta de recursos também é um tema recorrente, com Evandro, Mauro ou Charles (Pablo Sanábio) precisando pensar em “gambiarras” para operar pacientes.
Mais do que uma ponderação sobre nossa sociedade e o sistema de saúde, Sob Pressão lida muito bem com os dramas humanos de seus personagens, de como a rotina intensa afeta as vidas dos médicos e como os problemas afetam os pacientes. Já falei em como o texto constrói esses conflitos com habilidade, mas o elenco também é parte essencial do porque a série dá tão certo. Há um afeto e um calor humano enorme na composição de Marjorie Estiano ou no modo Drica Moraes confere uma serenidade estoica e cheia de cuidado a Vera. Isso sem falar nos coadjuvantes que servem como os pacientes e familiares a cada semana, a exemplo de Adriano Garib, Arlete Salles, Ailton Graça ou Tadeu Mello.
O escalonamento do conflito entre Evandro e Diana pela guarda do filho ao longo da temporada ilustra o quanto esse tipo de disputa pode ser feita e faz as pessoas agirem de maneira mesquinha, criticando cada pequena atitude do outro lado apenas para tentarem se convencer de que são pais melhores. Nesse sentido a trama é inteligente de não descaracterizar os personagens e fazer ambos reconhecerem, ao final, os méritos do outro e os limites que cruzaram por não quererem abrir mão do filho.
O desfecho da temporada trabalha para mostrar como é sempre melhor quando os pais dialogam e buscam o melhor para criança e o impacto desse arco funciona inclusive por conta da química de Júlio Andrade, Marjorie Estiano e Ana Flávia Cavalcanti tem com o bebê que interpreta Francisco. A cena em que Evandro e Carolina choram ao se despedirem na rodoviária no episódio final é de cortar o coração por conta da intensidade emocional dos dois atores (sério, se você não sentir nada assistindo provavelmente está morto por dentro).
A quarta temporada de Sob Pressão entrega, portanto, mais um
ótimo exame da realidade brasileira, dos problemas do cotidiano e,
principalmente, dos triunfos e limitações do nosso sistema de saúde pública.
Nota: 8/10
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