Hank (Tommy Lee Jones) é um investigador aposentado da polícia do exército. Um dia ele recebe uma ligação da base militar em que o filho está lotado de que ele não se reportou de volta no período devido e a ação vai ser considerada como abandono de serviço. Hank decide então viajar até a base para entender o que está acontecendo e não demora para que encontrem o cadáver esquartejado de seu filho à beira de uma estrada. Agora Hank vai acompanhar a policial Emily (Charlize Theron) para tentar entender o que aconteceu.
O principal mérito é como a trama investigativa consegue subverter nossas expectativas. De início, com os vídeos em má qualidade que Hank recebeu do filme via e-mail, a recusa do exército em cooperar, as constantes associações ao tráfico de drogas e a natureza violenta do crime indicam algum segredo sombrio envolvendo os militares. A impressão é que o filho de Hank talvez tenha esbarrado em algum esquema escuso ou outro tipo de conspiração.
Esse sentimento é reforçado pelo próprio Hank, como um enlutado em negação ele defende a reputação do filho sempre que pode e age com a absoluta certeza de que o filho era uma pessoa correta, que seguia os princípios de honra e serviço que tinha ensinado. Como tudo é mostrado predominantemente da perspectiva de Hank, partilhamos dessa visão.
Quando o crime começa a ser desvendado, descobrimos que tudo que Hank pensava sobre o filho era falso. Ele não era alguém que partilhava das crenças do pai, mas um garoto que se alistou apenas para ter a aprovação de Hank e se sentia sobrecarregado naquele espaço ao ponto de desenvolver problemas psicológicos e cometer erros que levaram à morte de inocentes. Que a morte dele tenha sido causada por uma briga estúpida com colegas de farda por conta da instabilidade mental de todos eles por conta do que vivenciaram, mostra que o horror da guerra se impõe também sobre os algozes.
As revelações fazem Hank reavaliar toda a relação com o filho, lembrando das ligações desesperadas dele no front de batalha e como Hank relativizava tudo dizendo que ele deveria ter coragem. Esse ideal de coragem, de que precisamos enfrentar monstros e atravessar vales sombrios para provar nosso valor ecoa a narrativa sobre o Rei Davi que Hank conta, revelando que enviar jovens desafiar monstros pode transformá-los em monstros. Os ideais de coragem e bravura que Hank tanto se apegava só serviram para destruir sua família, transformar seu filho em um criminoso de guerra e um soldado traumatizado incapaz de conviver com os outros.
A morte de inocentes que aconteceu na tropa do filho do protagonista também pondera sobre a eficácia das constantes guerras em que os Estados Unidos se envolvem. Afinal, pela jornada dos personagens do filme, não há saldo positivo dessa guerra. Ninguém sai melhor, mais seguro ou mais edificado. Os habitantes desses países invadidos são vítimas de violência e tortura enquanto que os soldados que servem voltam tão traumatizados que não servem mais para nada.
Por isso que é tão significativo a imagem final de Hank hasteando a bandeira invertida, um sinal internacional de socorro e calamidade. É como se ele reconhecesse que a situação em que os EUA se encontram não é motivo de orgulho e patriotismo, mas de horror por uma nação que destrói sua juventude a troco de nada. É um símbolo de um país que perdeu seus valores e precisa de socorro para recuperá-los. Se o início do filme parecia que o protagonista teria seus ideais confirmados e justificados, o desfecho traz um amargo reconhecimento do quanto ele e o país falharam com seus filhos.
Assim, apesar de começar como uma
trama investigativa bem banal, No Vale
das Sombras impacta pelo modo como reverte nossas expectativas e traz
ponderações sobre a guerra e suas consequências.
Trailer
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