terça-feira, 30 de novembro de 2021

Crítica – Cowboy Bebop

 

Review – Cowboy Bebop

Análise Crítica – Cowboy Bebop
Cowboy Bebop é um dos meus animes preferidos. Tinha uma ambientação singular que misturava sci-fi com western, film noir e filmes de kung fu embalado por uma marcante trilha sonora de jazz. Por isso fiquei animado com a possibilidade de uma adaptação live-action ainda que também tenha ficado preocupado considerando que a maioria das adaptações de animes é bem ruim. Aqui o resultado final é irregular, com erros grosseiros para cada elemento que a série faz direito.

A trama se passa em um futuro no qual a humanidade colonizou o sistema solar. Em uma sociedade profundamente desigual e marcada por crimes, caçadores de recompensa prosperam capturando criminosos que a lei não dá conta de prender. Spike (John Cho) e Jet (Mustafa Shakir) são dois desses caçadores que vagam pelos planetas atrás de uma recompensa que garanta a próxima refeição. Conforme caçam criminosos, Spike acaba sendo confrontando pelo passado que tentou abandonar e fica na mira do poderoso grupo criminoso conhecido como O Sindicato.

A série acerta na dinâmica disfuncional entre o trio principal composto por Spike, Jet e Faye (Daniella Pineda). Pessoas que buscaram apoio umas nas outras por não terem escolha, mas que aos poucos aprendem a confiar uns nos outros e formam uma espécie de família. John Cho capta muito bem o ar blasé de Spike, que parece sempre em busca de um desafio ou de boa comida, embora guarde a sete chaves, mesmo das pessoas próximas suas mágoas do passado. Já Mustafa Shakir faz de Jet uma espécie de “paizão” que funciona como o coração da equipe, sempre preocupado com a filha pequena (uma das poucas alterações que dá certo) e também em manter a coesão do grupo, ainda que cobre lealdade e não goste que mantenham segredos dele. A Faye de Daniella Pineda é menos sexualizada e fútil do que a Faye do anime, mas alguns elementos da busca dela sobre o passado não funcionam como deveria.

Na verdade, esse acaba sendo o grande problema da série. Quando adere às tramas do anime ela é uma recriação competente da salada de referências do material original. A série assume desavergonhadamente um tom camp sem medo trazer os elementos mais cartunescos do material original, ao contrário de muitas adaptações de anime que tentam reproduzir o conteúdo base se levando a sério. Por outro lado, quando tenta expandir o cânone estabelecido, o texto falha miseravelmente. De uma maneira similar ao que aconteceu com Alita: Anjo de Combate (2019), a série leva um tempo maior para desenvolver arcos similares aos do anime, mas ainda assim soam mais superficiais.

Aqui isso acontece porque a maioria das adições, em especial toda a subtrama envolvendo Vicious (Alex Hassell) e Julia (Elena Satine) que é uma narrativa extremamente clichê sobre máfia e relacionamento abusivo. A ideia deveria dar mais complexidade a esses personagens importantes que tiveram pouco espaço no anime, mas nunca consegue fazer nada interessante com eles. Vicious, por exemplo, vira um herdeiro mimado e histérico que nunca convence como um vilão cruel e astuto, embora parte da culpa também seja da composição excessivamente caricata de Alex Hassell, fora do tom até mesmo em relação aos momentos mais cartunescos da série.

Julia, por outro lado, é uma personagem apática, que falha em convencer como uma mulher tão apaixonante que dois homens lutariam por ela e fracassa também em trazer a ela a ambiguidade típica de mulheres de narrativas noir que estava presente na personagem do anime. Ao invés disso, a série dá ela uma reviravolta forçada e sem sentido no episódio final. Sim sabíamos que naquele ponto ela já estava disposta a matar Vicious por conta dos abusos sofridos, mas porque querer controlar o Sindicato e mantê-lo refém? Se ela queria se libertar dele, matá-lo seria a melhor forma, já que manter o sujeito em cativeiro apenas daria a ele a chance de escapar e voltar a atormentá-la.

Nenhuma revelação sobre o passado de Vicious, Julia ou Spike ajuda a torná-los mais interessantes e o penúltimo episódio, centrado todo na vida pregressa deles, é o pior da temporada, contando uma trama clichê e desinteressante de triângulo amoroso e lealdade criminosa. Seria melhor manter isso com certo mistério como fez o anime. Nem todas as histórias precisam ser explicitadas.

As cenas de ação são competentes e ocasionalmente criativas, no entanto, nunca tem a energia e o ritmo intenso das lutas do anime que realmente davam a impressão de estarmos vendo combates saídos de filmes de kung-fu da década de 70. Aqui não chega a algo desastroso como a primeira temporada de Punho de Ferro, mas não atinge o alto patamar estabelecido pelo material original.

No fim das contas, Cowboy Bebop acaba sendo irregular demais para funcionar como deveria. Apesar de acertar na dinâmica dos protagonistas, a série falha em todas as tentativas de ampliar as histórias deles.

 

Nota: 5/10


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