terça-feira, 2 de novembro de 2021

Crítica – Eternos

 

Análise Crítica – Eternos

Review – Eternos
Fui sem saber o que esperar deste Eternos. Sinceramente temi que fosse mais um filme de origem “padrão Marvel” sem nada digno de nota, mas a presença da diretora Chloe Zhao me deu alguma esperança que pudesse ser diferente. O resultado é algo que mal parece um filme da Marvel, o que é ótimo considerando que nos últimos anos o estúdio estava se apegando demais aos próprios clichês.

Na trama, os Eternos são um grupo de seres imortais e extremamente poderosos enviados pelos Celestiais para proteger a Terra dos Deviantes, seres cósmicos extremamente poderosos. Exceto para enfrentarem os Deviantes, os Eternos não devem se revelar ou interferir na vida dos humanos. Apesar de acreditarem que exterminaram todos os inimigos há séculos, Sersi (Gemma Chan) se surpreende ao ser atacada por um deles em Londres e resolve reunir o grupo para enfrentar a nova ameaça e parte em busca de Ajak (Salma Hayek), a líder da equipe.

O filme tem um ritmo um pouco mais deliberado, mais lento que a típica história de super-heróis. Acompanhando os Eternos através dos séculos, a diretora Chloe Zhao está mais interessada nas relações entre eles, na dinâmica dessa família disfuncional do que nos poderes deles. É mais sobre como esses personagens se conectam entre si e com o mundo, sobre o que há de mais humano dentro desses seres extraordinários. Nesse sentido, a calma com a qual tudo se desenvolve é coerente com a necessidade de entendermos como a dinâmica entre esses personagens se desenvolveu através das eras, das virtudes e fragilidades de cada um, de como eles reagem ao melhor e ao pior da raça humana.

Apesar de um grupo grande, o filme foca mais em Sersi, Ikaris (Richard Madden) e Duende (Lia McHugh), mas mesmo com os demais aparecendo menos, a narrativa consegue dar momentos importantes a cada um e nos mostra o estado da relação entre cada um deles. Mesmo aparecendo relativamente pouco, Kumail Nanjiani consegue roubar a cena sempre que aparece como Kingo, graças ao preciso timing cômico do ator. Apesar de serem imortais poderosos, eles lidam com problemas bastante humanos, como Duende e sua vontade de experimentar o mundo como os demais companheiros, mas que não consegue por conta de sua eterna aparência de criança ou os problemas de memória de Thena (Angelina Jolie) que podem servir de metáfora para conviver com um ente querido com Alzheimer. De maneira semelhante, Ajak põe sua missão em risco por conta do afeto maternal que tem pela humanidade e pelos companheiros, com Salma Hayek sendo bastante eficiente em construir a compaixão e calor humano da heroína.

As interações soam coerentes com pessoas que se conhecem há séculos, já acostumadas ou irritadas com as personalidades um do outro, com cada um tendo motivações consistentes para o modo como age. Cada membro do grupo de personalidade o bastante para que cada espectador consiga ter seu próprio favorito entre eles. Os diálogos conseguem encontrar humor nas trocas entre esses indivíduos sem precisar forçar piadinhas constantes como a maioria dos filmes da Marvel, que muitas vezes sabota o próprio desenvolvimento dos personagens para fazer gracinhas inúteis.

Apesar desse ritmo mais deliberado, a trama também apresenta competentes cenas de ação que conseguem explorar o alcance dos grandes poderes de seus personagens. Como muito foi filmado em cenários práticos, recorrendo a computação gráfica apenas quando necessário, há algo de mais palpável nos ambientes e nos combates, evitando aquela sensação de que estamos vendo apenas um bando de atores diante de um fundo verde.

O problema do filme é como tudo se torna muito mais acelerado durante o clímax, correndo para resolver vários dramas e conflitos em um espaço de tempo muito curto, não dando devido tempo para certas ações, como as mudanças de atitude de Ikaris ou o abandono de Kingo, terem a devida construção. O líder dos Deviantes é eliminado muito rápido durante o confronto final, não fazendo jus a toda construção que a narrativa fez até aquele ponto. Do mesmo modo, o antagonista principal acaba não sendo muito mais do que o arquétipo de “Superman genocida” que o gênero já vem explorando demais nos últimos anos em produções como Injustice, The Boys ou Invencível, não indo muito além do que vimos em outras histórias.

O clímax tem tanta coisa que por si só poderia ser um segundo filme, embora a divisão fosse fazer este soar incompleto. Não é um final ruim, longe disso, ele consegue competentemente amarrar todos os conflitos desenvolvidos até aquele ponto, mas corre tanto para fazer isso que destoa do ritmo mais cuidadoso e deliberado do restante do filme.

Com uma construção cuidadosa da complexa dinâmica familiar entre seus vários protagonistas, Eternos consegue entregar um estudo de personagem bem diferente do que a Marvel vinha fazendo até agora, ainda que corra para resolver tudo em seu ato final.

 

Nota: 8/10


Trailer

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