segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Crítica – Peçanha Contra o Animal

 

Análise Crítica – Peçanha Contra o Animal

Review – Peçanha Contra o Animal
O sargento major tenente Peçanha (Antônio Tabet) é, provavelmente, um dos mais divertidos personagens recorrentes do Porta dos Fundos, constantemente fazendo graça em cima da conduta truculenta e estúpida da polícia e também de reacionários em geral. É claro, nem tudo que funciona em esquetes necessariamente vai funcionar em um filme narrativo no qual você precisa construir arcos para os personagens. Ainda assim estava curioso para conferir este Peçanha Contra o Animal e o resultado até que é divertido.

Na trama, Peçanha e seu parceiro Mesquita (Pedro Benevides) são incumbidos de encontrarem um misterioso serial killer que está matando uma pessoa por dia. A missão não agrada muito o policial, já que ele acha mais fácil simplesmente pegar uma pessoa aleatória e forçar uma confissão. Assim, o incompetente PM precisa dar um jeito de desvendar o crime.

O filme é consciente do próprio absurdo e das liberdades que toma com o devido processo investigativo, já na primeira fazendo Mesquita comentar que investigação é da alçada da Polícia Civil e Peçanha rapidamente comentando que em Nova Iguaçu a PM acumula as funções de todas as forças de segurança. A trama também brinca com muitos clichês de narrativas hollywoodianas do gênero, como a típica cena em que os personagens são obrigados a entregar a arma e o distintivo a um superior.

Muito do humor vem da conduta estúpida e truculenta de Peçanha, mas o alvo piadas nunca são as pessoas que estão na mira da violência do personagem ou de suas falas preconceituosas. O alvo é o próprio Peçanha (e os setores da sociedade que ele representa), expostos e ridicularizados pela sua própria estupidez. Logicamente, também existem cenas que divertem pelo puro absurdo, como o momento em que Peçanha interrompe uma luta ilegal e nocauteia os dois lutadores quando eles estavam prestes a quebrar as regras.

Por outro lado, o filme sofre com um problema constante de muitas comédias brasileiras, que é o de deixar algumas cenas se alongarem demais. A impressão que em muitos momentos os atores são deixados soltos para improvisarem os diálogos (em especial as interações entre Peçanha e Mesquita) e a cena se estende conforme eles ficam tentando variações das mesmas ideias mesmo quando as primeiras falas já nos fizeram rir. Assim a cena insiste em continuar mesmo quando cumpriu o objetivo e o diálogo funcionou em causar riso, mas ao invés de cortar para a cena seguinte continuamos presos ali e a graça vai se esvaindo. Esse tipo de foco no improviso é algo que funciona muito bem em teatro ou em esquetes curtos no audiovisual, mas em um longa metragem fica cansativo ter toda cena se alongando demais para deixar os longos improvisos do elenco.

Outro problema é o clímax, que resolve tudo de maneira muito rápida, mal dando tempo para absorvermos direito o que está acontecendo e um personagem importante sendo morto fora de cena. Mal nos situamos em relação ao que aconteceu e o filme já sobe os créditos deixando um gancho para continuação. Considerando que o mistério era algo central da narrativa, seria melhor ter amarrado tudo de maneira satisfatória.

Apesar do desfecho súbito e de algumas cenas se estenderem mais do que o necessário, Peçanha Contra o Animal é uma divertida sátira de narrativas investigativas e um deboche da truculência da polícia brasileira.

 

Nota: 6/10


Trailer

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