sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Crítica – Tick, Tick...BOOM!

 

Análise Crítica – Tick, Tick...BOOM!

Review – Tick, Tick...BOOM!
Estreia de Lin Manuel Miranda como diretor, este Tick, Tick...BOOM! é uma biografia do compositor Jonathan Larson, responsável por Rent um dos musicais teatrais mais marcantes da década de 1990. Apesar de influente, Larson morreu jovem, antes da estreia de Rent e nunca viu o sucesso de seu trabalho.

A trama adapta o monólogo teatral homônimo escrito e protagonizado por Larson, com cenas do cotidiano do personagem mais ao estilo de uma biografia tradicional. A narrativa foca na tentativa de Larson (Andrew Garfield) em emplacar seu primeiro musical, Superbia, e a pressão que ele sente por estar prestes a fazer trinta anos e não ter encontrado o sucesso. Então acompanhamos o personagem em sua vida cotidiana com essas cenas intercaladas pelo personagem performando o espetáculo sobre esse período da vida dele, como se as cenas no teatro dessem ao espectador a perspectiva subjetiva do protagonista.

No papel seria um experimento interessante, com as cenas biográficas e as cenas do teatro dialogando constantemente. Uma oferecendo o universo interno e subjetivo do personagem e outra mostrando o universo externo a ele e como Larson se relacionava com as pessoas ao seu redor. Na prática, no entanto, as cenas biográficas tem pouco a fazer além de servir como mera ilustração ao monólogo teatral e musical do personagem. Ele diz algo no palco e entra uma cena ilustrando o que ele disse sem que essa cena ofereça ao espectador nenhuma nova informação em relação às cenas no palco.

As cenas fora do palco não conseguem, por exemplo, transmitir a exata dimensão da crise entre Larson e a namorada, Susan (Alexandra Shipp), ou a longevidade e importância da amizade entre o protagonista e Michael (Robin de Jesus), algo que só aprendemos perto do final em um dos números musicais no palco. Em virtude disso, as cenas do cotidiano de Larson tem pouco impacto e poderiam ser removidas sem grande perda da força expressiva do filme. Imagino que Lin Manuel Miranda e o roteirista Steven Levenson (que escreveu a recente adaptação para os cinemas do musical Querido Evan Hansen) não queriam apenas reproduzir o espetáculo teatral escrito por Larson, mas dar ao espectador o contexto que motivou aquele material.

É compreensível, já que se fosse para repetir, seria melhor pegar uma filmagem do próprio Larson real fazendo o espetáculo, mas que infelizmente não funciona como deveria. Talvez se ao invés das cenas naturalistas entrecortando as cenas do palco o filme simplesmente levasse ao palco essas cenas do cotidiano, com transições de cenários e o elenco entrando e saindo pelas laterais, a coisa pudesse funcionar melhor e mais integrada.

Ainda assim, é impossível negar a força do material escrito por Larson há quase trinta anos atrás. As cenas do palco e as músicas são uma síntese intensa de uma geração que se tornou adulta e vê que está longe de conquistar aquilo que nossos pais já tinham na nossa idade. A inquietação de ver o tempo passar e não estarmos mais perto de alcançarmos nossos sonhos, bem como a ansiedade de achar que isso não acontece porque somos uma fraude e/ou incompetentes. O texto e as canções, somados à montagem ágil e a entrega de Andrew Garfield como Larson transmitem toda a angústia de um sujeito que está colocando a alma e coração no trabalho que faz e ainda assim não consegue encontrar reconhecimento.

Sentimos que entendemos o que se passava na mente de Larson durante todos os seus percalços e o trabalho de Andrew Garfield nos permite ver o quanto ele se sentia realizado em compor e mesmo sendo competente em outras atividades, como mostra a cena do grupo focal, nada o fazia tão feliz ou o deixava tão realizado quanto o trabalho com teatro musical. Nesse sentido, o filme consegue cumprir aquilo que se espera de uma boa biografia, que é nos fazer entender quem era o biografado e o que o motivava. Nem sempre o filme consegue dar conta dos assuntos ao redor de Larson, como o pânico da epidemia de AIDS, mas se sai muito bem em entender o turbilhão interno de seu personagem.

Mesmo que irregular por conta de escolhas de estruturas narrativas que não funcionam como deveriam, Tick, Tick...BOOM! é uma competente celebração da vida e legado de Jonathan Larson graças à energia de Andrew Garfield e da qualidade dos números musicais.

 

Nota: 7/10


Trailer

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