O faroeste (ou western) é um dos gêneros mais identificáveis da produção hollywoodiana. Suas tramas e sua mitologia se relacionam com o evento histórico da expansão dos Estados Unidos rumo à costa oeste e visam construir o entendimento do povo estadunidense como audaz, desbravador, capaz de domar o mais hostil dos ambientes graças à sua força e inteligência. Muitos filmes foram feitos a partir de figuras históricas reais como Wyatt Earp ou Doc Holiday.
O protagonismo do western, no entanto, sempre esteve nas mãos de pessoas brancas apesar do registro histórico também mostrar a presença importante de figuras negras como Bass Reeves. Ao fazer isso, a iconografia do gênero acaba dando a impressão de que apenas os brancos tinham as características ideais para prosperarem no velho oeste. Por isso a revisão feita neste Vingança & Castigo é tão importante, mostrando as histórias negras presentes neste momento histórico.
Apesar de se basear em figuras que existiram de verdade no período, a narrativa em si é ficcional. A narrativa acompanha o pistoleiro Nat Love (Jonathan Majors) em sua busca por vingança contra o criminoso Rufus Buck (Idris Elba), responsável pela morte da família de Nat. Tendo escapado da prisão recentemente e se reunido com seu perigoso bando, Rufus toma o controle de uma pequena cidade. Sabendo que não tem como enfrentar Rufus sozinho, Nat se reúne com um grupo de caçadores de recompensa liderados pelo xerife Bass Reeves (Delroy Lindo).
Ao sinalizar já na cartela inicial que seus personagens existiram, o filme já deixa evidente que seu interesse é menos em uma reconstituição histórica acurada e mais em se inscrever na mitologia do oeste e criar um imaginário em que a população negra também foi parte importante no processo, com seu próprio panteão de heróis e vilões. Esse interesse na dimensão e no imaginário do gênero também se verifica em algumas escolhas estéticas, como no duelo entre Jim Beckworth (R.J Cyler) e Cherokee Bill (Lakeith Stanfield) em que a câmera se posiciona acima e à diagonal dos personagens, mostrando a sombra alongada que eles projetam, muito maior do que os corpos físicos dos personagens. É como se o filme nos chamasse atenção para o tamanho do que eles representam ou projetam em relação ao que eles de fato são, lembrando a importância construção imaginária e representativa.
O estilo, por sinal, tem mais relação com os faroestes italianos (também chamados de spaghetti western) por sua dimensão mais estilizada e olhar mais mitificado do cotidiano na fronteira oeste. Não é exatamente uma reprodução, mas uma releitura com elementos de contemporaneidade, algo similar ao que Tarantino já fez com o gênero, inclusive usando canções contemporâneas na trilha musical.
Apesar do grande número de personagens, a narrativa consegue dar a eles personalidade e motivação suficientes para que nos apeguemos a essas figuras, fazendo cada morte, de mocinhos ou bandidos, ter o devido peso dramático porque conseguimos entender de onde vêm essas pessoas. O conflito entre Nat e Rufus tem um pouco mais de complexidade do que os demais personagens, principalmente por conta de uma revelação próxima ao final que conecta o passado de ambos.
A ação é bem filmada, com duelos e perseguições que não economizam na violência, mostrando como esses personagens, heróis e vilões, podem ser letais. Da frieza ardilosa de Cherokee Bill, passando pela implacabilidade de Trudy Smith (Regina King), cada personagem tem uma cena de ação que permite ilustrar suas habilidades. Uma das melhores cenas, por sinal, é a luta corporal entre Trudy e Mary Fields (Zazie Beets), que empolga não apenas pelo confronto em si, mas pela culminância dramática das tensões entre as duas personagens que o filme construiu até aquele momento.
Ainda que tenha uma trama de
vingança relativamente comum, Vingança
& Castigo entrega uma competente revisão do imaginário do western povoando sua trama com
personagens marcantes e boas cenas de ação.
Nota: 7/10
Trailer
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