Eu sei que nem todo mundo aprecia
o estilo de Aaron Sorkin, seja sua escrita, seja suas incursões recentes como
diretor (eu gosto bastante de Os 7 de Chicago, embora não agrade muita gente), mas desde Questão de Honra(1992) que me deixo encantar pela verborragia
característica de Sorkin. Digo isso porque apesar de gostar bastante do olhar
dele e também do objeto deste Apresentando
os Ricardos, o casal Lucille Ball e Desi Arnaz, não consigo afastar a
sensação de que Sorkin talvez não tenha sido a melhor pessoa para lidar com
esse projeto, seja como roteirista ou diretor.
A trama foca em uma semana
específica da vida de Lucille (Nicole Kidman) e Desi (Javier Bardem), quando
Lucille é acusada de ser comunista, o que põe em risco o programa do casal, I Love Lucy, a série de maior audiência
da época. Enquanto seguem os preparativos para gravar o próximo episódio, o
casal se preocupa com a carreira de Lucille e a possibilidade de ainda terem um
programa quando tudo passar.
O recorte de uma semana por si só
poderia servir como um microcosmo para todos os problemas do casal naquele
momento, com as disputas por controle da série com a emissora, os problemas
matrimoniais de Desi e Lucy e o fenômeno cultural que era I Love Lucy. O problema é que Sorkin não se contenta com esse
recorte e passa a se deslocar temporalmente para o passado, mostrando o início
da relação entre Desi e Lucy, e também para o futuro, mostrando os roteiristas
da série, já idosos, comentando sobre a fatídica semana.
É curioso como nos acostumamos a
viver é uma espécie de distopia maluca. Não me refiro apenas à pandemia, mas
todo o contexto social e político que estamos vivendo. Isso se aplica aos
Estados Unidos e também aqui no Brasil. Este Não Olhe Para Cima tenta falar um pouco sobre esse estado de coisas
em que existimos, mas faz isso de maneira óbvia e excessivamente solene, quase
como se esquecesse se tratar de uma comédia.
A trama começa quando a estudante
de doutorado Kate (Jennifer Lawrence) descobre um enorme cometa em rota de
colisão com a Terra. Seu professor, o Dr. Mindy (Leonardo DiCaprio) confirma os
cálculos e alerta as autoridades, já que se nada for feito, todos morreremos em
seis meses. O problema é que as autoridades e a mídia não estão exatamente preocupadas
em resolver o problema.
Se em filmes catástrofe típicos é
a união da humanidade contra os desafios da natureza que leva ao triunfo, aqui a
humanidade é uma calamidade maior do que a própria natureza. O mundo não acaba
porque lidamos com uma ameaça além de nossa capacidade, o mundo acaba porque
somos idiotas. O que é mostrado aqui poderia ser entendido como uma metáfora
para o negacionismo científico relativo às mudanças climáticas ou à pandemia, o
problema é que enquanto sátira falta um senso de imprevisibilidade e caos para
que a subversão cômica acontece e falta substância para funcionar plenamente
como drama.
A primeira temporada de The Witcherera uma competente
introdução ao universo criado nos livros de Andrzej Sapkowski, mas se
atrapalhava com uma estrutura narrativa de múltiplas temporalidades que tinha dificuldade
de comunicar ao espectador onde e quando na trama estávamos, algo agravado pelo
fato de que muitos personagens não envelhecem, dificultando essa localização
temporal. Pois esta segunda temporada corrige esse problema, apresentando uma
narrativa mais linear ainda que tenha alguma parcela de problemas.
A trama segue do ponto em que o
ano anterior parou, com Geralt (Henry Cavill) encontrando Ciri (Freya Allan).
Sabendo do perigo que Ciri corre, Geralt decide levá-la para Kaer Morhen, a fortaleza
ancestral dos bruxos liderada por Vesemir (Kim Bodnia), mentor de Geralt. Ao
mesmo tempo, Yennefer (Anya Chalotra) lida com as consequências da batalha em
Cintra, tendo perdido seus poderes mágicos e buscando recuperá-los. Cientes do
poder de Ciri, diferentes reinos e monarcas buscam encontrar a garota.
A companhia de Ciri beneficia o
desenvolvimento de Geralt enquanto personagem, obrigando ele a se abrir mais,
tirando o bruxo de seu estoicismo rígido cuja comunicação se dava
principalmente através de grunhidos (algo que acabou virando meme). Assim, a
temporada nos permite ver outra faceta de Geralt conforme ele começa a
desenvolver uma preocupação genuína pela garota e eles começam a forjar uma
relação de pai e filha. A presença de Vesemir também permite que vejamos outras
facetas de Geralt conforme ele interage com o mentor a quem tem como pai.
Apesar da palavra “surpresa” no
título, essa é a última coisa que você irá encontrar em Um Match Surpresa. É aquela típica comédia romântica que faz pouco
para sair do traçado dos filmes do gênero, sendo possível prever os principais
desdobramentos já nos dez primeiros minutos, mas ainda assim maneja com
habilidade e humor esses lugares comuns para funcionar como passatempo.
A trama é protagonizada por
Natalie (Nina Dobrev), a típica personagem desajeitada e sem sorte no amor que
aparece em 90% das comédias românticas. Ela conhece aquele que parece ser o
homem dos seus sonhos em um aplicativo de namoro e decide surpreender o amado
aparecendo na casa dele nas festas de fim de ano, mas chegando lá descobre que
Josh (Jimmy O. Yang) na verdade estava usando a foto de um amigo bonitão no
perfil, Tag (Darren Barnet). Assim, Natalie faz um acordo com Josh: ele a ajuda
a conquistar Tag enquanto ela finge ser a namorada dele durante as festas.
É uma história bem previsível
sobre dar uma chance ao amor e perceber que é a personalidade e a beleza
interior que conta e de cara já sabemos como tudo isso vai se desenvolver. Ao
menos a narrativa evita maniqueísmos fáceis ao não tornar Tag um babaca,
fazendo dele alguém que é meramente incompatível com Natalie por mais que ela
se force a participar dos interesses dele. Do mesmo modo, o texto resiste em
transformar Owen (Harry Shum Jr), o irmão egocêntrico de Josh, em vilão. Sim,
ele adora ser o centro das atenções, mas ao final as ações dele de investigar
Natalie são também movidas por um cuidado genuíno por Josh e não apenas por um
desejo mesquinho de roubar os holofotes.
Apesar de ser um membro fundador
dos Vingadores, o Gavião Arqueiro até então não tinha recebido o devido
holofote. Mesmo a Viúva Negra recebeu seu próprio longa-metragem e nada do
Gavião ter seu momento de protagonismo. Isso muda com a primeira temporada de Gavião Arqueiro, que não apenas
aprofunda o que sabemos sobre Clint Barton, como abre caminho para sua
sucessora ao nos apresentar a Kate Bishop.
Na trama Clint (Jeremy Renner)
está em Nova Iorque com os filhos para compras de Natal e prestes a retornar à
fazenda na qual vive com a família. Problemas surgem quando a jovem Kate Bishop
(Hailee Steinfeld) esbarra em um leilão ilegal que vende itens retirados do
complexo dos Vingadores depois da batalha contra Thanos em Vingadores: Ultimato(2018). Entre os itens estão um relógio que
pertence a alguém que Clint conhece e o uniforme de Ronin usado por Clint
durante o período do Blip. Sem saber que Clint era o Ronin, Kate sai usando o
uniforme pelas ruas da cidade, o desperta hostilidade de vários criminosos, então
Clint precisa encontrá-la e confrontar seu passado como Ronin.
Eu perdi as contas de quantas
vezes vi os dois primeiros Esqueceram de
Mim na Sessão da Tarde e até gostava do inferior terceiro filme. A franquia
ainda recebeu mais dois filmes, ambos muito ruins. Depois de anos no limbo
resolveram ressuscitar o que é basicamente “Jogos
Mortais para crianças”. Com um novo astro mirim, Archie Yates, saído de um
filme de sucesso (Jojo Rabbit) e um
elenco repleto de bons comediantes, tudo parecia dar certo para este Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar. Só
que deu errado. Deu muito errado, errou feio, errou rude.
Na trama, Max (Archie Yates) fica
sozinho em casa no Natal depois que a família esquece ele lá ao sair correndo
para uma viagem para o Japão. Em casa, Max aproveita a solidão até que o lugar
é invadido por Pam (Ellie Kemper) e Jeff (Rob Delaney), pais de família que
estão prestes a perder a casa e estão tentando recuperar uma boneca valiosa que
foi roubada da casa deles. O casal acredita que o item está na casa de Max, daí
a tentativa de roubá-los.
De cara já se percebe que a ideia
é humanizar os ladrões, que agora tem uma motivação compreensível e, na
verdade, não são exatamente ladrões, já que estão tentando recuperar algo que
pertence a eles. Isso já seria motivo o suficiente para que toda a disputa não
funcione, afinal Max não esta se defendendo e torturando ladrões sádicos que
querem lhe fazer mal como acontecera com Kevin (Macaulay Culkin) nos primeiros
filmes. Ver pessoas boas que estão apenas querendo manter um teto sobre a
cabeça dos filhos ter os dentes quebrados por uma criança sádica acaba não
tendo efeito cômico, já que a comédia exige o rebaixamento e ridicularização do
alvo da piada e o roteiro tenta fazer isso com pessoas cujas circunstâncias já
os coloca em posições rebaixadas.
Depois da péssima segunda
temporada de A Máfia dos Tigres não
estava com muita disposição de conferir este...err...spin off da franquia. Só o fiz pela curta duração, de apenas três
episódios, e também por ele ser inteiramente centrado na figura de Doc Antle,
um dos sujeitos mais bizarros a aparecer na primeira temporada.
Além de denúncias de pedofilia,
de cooptar as funcionárias de seu parque para um estranho culto/harém ao seu
redor, Antle me chamava atenção pela linguagem corporal perturbadora. Ele
sempre falava com uma aparente calma e alegria, com um sorriso tão rígido no
rosto que parecia paralisado naquela posição. Bastava alguém dizer algo que Doc
não gostava, que sua voz imediatamente se tornava agressiva e descontrolada
apesar de um evidente esforço de manter no rosto a expressão plácida e
sorridente, o que lhe fazia parecer um completo lunático.
Essa minissérie derivada vai mais
à fundo no passado de Antle, explicando como ele estruturou seu harém/seita a
partir de suas vivências em uma comunidade alternativa de yoga no interior dos
Estados Unidos a partir da década de 60. Através de testemunhos e imagens de
arquivo, o documentário mostra como desde jovem Antle estava metido com seitas
e também em se relacionar com menores de idade, inclusive levando algumas delas
de casa se autorização dos pais (na prática, sequestro). Os vários testemunhos
revelam um padrão consistente de abusos e manipulação dessas mulheres, algo que
mesmo denunciado para o guru que liderava a seita da qual Antle pertencia não
parecia haver consequência (inclusive porque o próprio guru também é acusado de
abusos sexuais).
As primeiras informações sobre Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa me
deixaram preocupado. Afinal, a Marvel estava basicamente adaptando uma das
piores histórias recentes do herói nos quadrinhos, o arco em que ele pede a
Mephisto para apagar a memória de todos a respeito de sua identidade, apenas
substituindo aqui Mephisto pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch). Retificar
a continuidade (ou retcon) é um dispositivo dramatúrgico preguiçoso, que
“reseta” um personagem por alguma conveniência de roteiro e tira todo o peso do
que veio antes. Neste novo filme do teioso a Marvel parecia usar da nostalgia,
trazendo vilões (e outros personagens) de filmes passados, para nos fazer
esquecer que estamos diante de um retcon covarde.
Tendo visto o filme, posso dizer
que alguns dos meus temores estavam equivocados, enquanto outros se confirmaram.
A primeira coisa é que esses personagens de outrora não estão ali apenas por um
nostalgismo rasteiro, a presença deles aqui tem muito a dizer sobre a jornada
de Peter Parker (Tom Holland), o que está no cerne do Homem-Aranha e qual é a
essência do heroísmo. Todo mundo meio que concorda que um herói é aquele que
faz o bem, no entanto, a ideia de qual bem é esse que um herói faz pode variar.
Ao colocar o atual Peter diante da encruzilhada de enviar antigos vilões para a
morte certa, a trama nos lembra que um herói é alguém que, acima de tudo, salva
pessoas, mesmo vilões. A noção de Peter se arriscar por indivíduos que querem
matá-lo também dialoga com os temas de poder e responsabilidade que sempre
acompanharam o personagem.
Misturando o otimismo de
películas natalinas com o niilismo de filmes sobre o iminente fim do mundo,
este A Última Noite é certamente uma
mistura insólita. A diretora Camille Griffin tenta construir uma trama sobre
celebrações e encerramentos, mas nem tudo se encaixa como deveria.
A narrativa começa com o casal
Nell (Keira Knightley) e Simon (Matthew Goode) esperando um grupo de amigos
para as comemorações de Natal em sua casa de campo. Aos poucos o filme vai
dando indícios de que há algo estranho no ar e logo descobrimos a razão. A
atmosfera se tornou tóxica por conta das mudanças climáticas, gerando tornados
e tempestades de substâncias mortais. Para evitar uma morte lenta e sofrida, a
família de Nell e seus amigos decidiram tomar os comprimidos distribuídos pelo
governo para terem uma morte sem sofrimento.A comemoração de Natal é, portanto, a última noite deles neste mundo. O
problema é que Art (Roman Griffin Davis, filho da diretora), o filho mais velho
de Nell, não aceita de bom grado a ideia do suicídio coletivo.
Originalmente lançada em 2017, Top of the Lake: China Girl só chegou
oficialmente ao Brasil neste 2021 via HBO Max. Continuação da minissérie Top of the Lake, lançada em 2013 e
criada por Jane Campion, essa segunda história da detetive Robin Griffin tenta
tocar em temas similares ao original, em especial em questões ligadas à
violência contra a mulher, no entanto acaba não tendo o mesmo impacto.
Na trama, Robin (Elizabeth Moss)
está de volta a Sidney, Austrália, depois dos eventos passados na Nova Zelândia
na primeira temporada. Trabalhando como detetive, Robin investiga o assassinato
de uma jovem asiática, encontrada morta dentro de uma mala jogada no mar. O
crime se complica quando a detetive descobre que a jovem estava grávida de um
bebê sem nenhum marcador genético seu, ou seja, provavelmente servia de barriga
de aluguel. Ao mesmo tempo, Robin lida com a tentativa de aproximação de Mary
(Alice Englert), filha que ela teve na juventude fruto de um abuso sexual. Mary
namora o estranho Alexander (David Dencik), um sujeito que está envolvido em
negócios escusos, com os pais adotivos de Mary reprovando a relação.
De todos as produções pavorosas
que abordei nesta coluna, Para Maiores
(2013) talvez seja uma das que menos se qualifique como filme propriamente dito
(ao lado de Salvando o Natal, um
misto de escola dominical e Telecurso 2000). É uma série esquetes cômicos
encadeados por um fiapo de trama. Trama esta, por sinal, que varia em versões
diferentes. Em uma das versões a trama se ancora ao redor de um executivo de
estúdio tentando passar ideias para novos filmes (daí os esquetes). Em outra
versão a trama se estrutura ao redor de dois adolescentes tentando baixar um filme na internet, mas sempre encontrando a produção errada (daí os esquetes).
Em ambos os casos mal dá para
considerar como trama e mesmo internamente nenhum esquete tem qualquer
propósito além de gerar risos. O problema é que é quase impossível rir de um
material tão sem graça, que se apoia meramente em palavrões e escatologia rasa
sem muita criatividade. O que surpreende, no entanto, é o elenco, composto por
grandes nomes como Hugh Jackman, Kate Winslet, Halle Berry, Chris Pratt, Chloe
Moretz, Emma Stone, Liev Schrieber e tantos outros.
Quando escrevi sobre a segunda temporada de Titãs, mencionei como a
série acertava nas complicadas relações entre seus personagens, um acerto do
primeiro ano, ainda que também repetisse os problemas de seu ano de estreia. Pois
isso mudou nesta terceira temporada. Agora a série repete todos os erros
anteriores sem nenhum dos elementos positivos.
A trama começa quando Jason Todd
(Curran Walters) decide ir atrás do Coringa sozinho e é morto pelo Palhaço do
Crime. Dick (Brenton Thwaites) e os demais Titãs vão até Gotham para o funeral
e para dar suporte a Bruce Wayne (Iain Glen). Transtornado, Bruce deixa Gotham,
cabendo aos Titãs protegerem a cidade quando o misterioso Capuz Vermelho surge
como ameaça e o Espantalho (Vincent Kartheiser) também em esquemas em curso.
O arco principal é o do Capuz
Vermelho e considerando que essa história já foi contada em animações e games a
rodo, a série acerta ao já revelar a identidade dele no segundo episódio. Esse
é provavelmente o único acerto, já que todo o restante é conduzido da pior
maneira possível. Nos quadrinhos e em outras adaptações da história o que movia
o vilão/anti-herói era seu desejo de mostrar a Bruce Wayne como a regra de não
matar estava ultrapassada. Aqui, como Bruce não está presente, esse elemento
não tem como ser desenvolvido e o Capuz é reduzido a um capanga chorão do
Espantalho. Outros elementos dessa história, como o Poço de Lázaro que revive
Jason, são jogados de qualquer jeito na trama.
Ao longo do meu tempo com Imperdoável tive a impressão de que esta produção da Netflix era algo orginalmente pensado como série ou minissérie, mas que precisou ser condensado em um filme
de menos de duas horas. São muitos núcleos de personagens, muitas tramas, quase
que três filmes em um só (nenhum desenvolvido a contento), então não foi sem
surpresa quando os créditos subiram e descobri que a produção adaptava uma
minissérie britânica.
A narrativa gira em torno de Ruth
(Sandra Bullock), que sai da prisão depois de cumprir uma pena de vinte anos
por matar um policial. Ruth tenta reconstruir a vida e se reaproximar da irmã
caçula, que foi colocada no sistema de adoção depois dela ter sido presa já que
elas não tinham mais nenhum parente vivo. Esse caminho não é fácil, pois Ruth
precisa lidar com o julgamento constante de uma sociedade que nunca parece
disposta a esquecer o que ela fez e lhe dar uma nova chance.
Além de Ruth, a trama segue a
família adotiva de Katie (Aisling Franciosi) e os filhos do policial morto por
Ruth. A ideia, em tese, é mostrar como esse crime impactou não só a vida da
protagonista, mas a vida de todos ao redor do evento. Digo em tese porque o
texto nunca consegue dar conta desses vários núcleos passando superficialmente
por eles, sem ser capaz de nos transmitir como realmente esses eventos
impactaram as vidas dos personagens. Com isso, o filme desperdiça bons atores,
como Viola Davis, que fica presa a uma personagem com pouquíssima utilidade na
trama.
Uma das coisas que mais me atraiu
para essa nova versão de Perdidos no
Espaço era o modo como a série exaltava o trabalho em equipe, a
racionalidade e a ciência na superação de problemas. No contexto em que vivemos
hoje, com a ascensão de um negacionismo científico que prejudicou e prejudica o
combate à pandemia da covid-19 é ainda mais importante que a arte nos lembre e
nos inspire com o poder da ciência e engenhosidade humana.
Esta terceira e última temporada
inicia um ano depois dos eventos da temporada anterior. Judy (Taylor Russell)
lidera o grupo de crianças que fugiram da Resolute em busca de Alfa Centauro.
Eles chegaram a um planeta diferente e estabeleceram uma colônia temporária
enquanto reúnem recursos para consertar a nave e partir para Alfa Centauro.
Enquanto isso, os adultos que ficaram para trás tentam se manter ocultos dos
robôs enquanto consertam o que restou de suas naves e tentam encontrar um jeito
de chegar ao destino em Alfa Centauro.
De cara a temporada resolve
alguns problemas que tive com o ano anterior, dando peso e consequência ao
sacrifício da Resolute, mostrando o quão acuados estão os adultos que ficaram
para trás liderados por John (Toby Stephens) e Maureen (Molly Parker) ao mesmo
tempo em que as crianças sentem o isolamento em seu lar temporário e Judy se vê
insegura com seu papel de líder. A série também resolve o problema de Smith
(Parker Posey) delineando aos poucos um caminho de redenção para a personagem,
evitando que ela fique colocando esquemas mesquinhos quando há coisas tão
maiores em risco.
Eu tinha ouvido falar da série Garota da Moto, exibida no SBT entre
2016 e 2019, mas nunca assisti. Quando foi anunciado um filme da série, fiquei
curioso para assistir. Histórias de ação e suspense são gêneros pouco
explorados no cinema brasileiro e é sempre bom prestigiar os esforços de levar
isso a um grande público.
A trama se passa aparentemente
depois dos eventos da série. Joana (Maria Casadevall) trabalha como motogirl e
vive ao lado do filho Nico (Kevin Vecchiato, que viveu o Cebolinha em Turma da Mônica: Laços). Durante uma
entrega, Joana encontra uma fábrica ilegal que opera com imigrantes em regime
de trabalho escravo. Furiosa com a injustiça, Joana decide intervir e consegue
dominar os culpados antes mesmo que a polícia chegue. A ação, no entanto,
coloca ela e o filho na mira de uma poderosa organização criminosa liderada por
um policial corrupto.
Como a narrativa se passa depois
da série, o início sofre com uma quantidade grande de diálogos expositivos que
visam situar o espectador nos eventos que ocorreram até aqui, algo que é
recorrente em filmes baseados em séries, como aconteceu com Veronica Mars ou Entourage. O texto tenta explorar como a vida de fuga e brigas
afetou o filho de Joana e a relação dele com a mãe, mas tudo acaba sendo
desenvolvido rápido demais para sair da superfície do tema.
Em seu cerne Coquetel Explosivo é um filme de ação aloprado que constrói um
universo de matadores profissionais que vive à sombra da nossa sociedade.
Lembra um pouco a franquia John Wick,
mas tem uma personalidade mais amalucada que os filmes estrelados por Keanu
Reeves.
Na trama, Sam (Karen Gillan) se
tornou uma assassina profissional depois de ser abandonada pela mãe, Scarlet
(Lena Headey). A serviço da poderosa organização criminosa conhecida como “A
Firma”. Quando uma missão dá errado, Sam se vê protegendo a garota Emily (Chloe
Coleman) e na mira da Firma.
A trama demora um pouco a
engrenar, estabelecendo os elementos que compõem esse universo excêntrico de
sororidades de assassinas e grupos mafiosos secretos, mas quando engrena se
entrega a ação amalucada e ultraviolência. A ação é bem criativa, colocando Sam
em situações bem inesperadas para esse tipo de filme. Um dos melhores exemplos
é a sequência em que Sam enfrenta três assassinos enquanto está com os braços anestesiados,
prendendo uma faca e uma arma nas mãos com fita adesiva. É a perfeita síntese
de como o filme mistura uma imaginação completamente pirada com doses cavalares
de violência e sangue.
A fita também se beneficia do
carisma do elenco. De Karen Gillan fazendo uma típica assassina com coração de
ouro, passando por Lena Headey como uma ex-assassina que sempre tem um plano na
manga. Além da dupla principal, a trama tem participações divertidas de Angela
Basset, Carla Gugino e Michelle Yeoh, que também contribuem em algumas cenas de
ação. O grandiloquente embate na biblioteca seria um ótimo clímax, mas o filme
insiste em não acabar, se alongando mais do que deveria.
O material acaba levando muito à
sério a temática sobre pais e filhos da trama, tentando construir alguns
momentos de impacto emocional, no entanto eles não funcionam devido a todo o
contexto acelerado e amalucado do filme, servindo mais como um freio brusco
para o fluxo da narrativa do que algo que opera organicamente com ela. Todo o
segmento da lanchonete poderia ser suprimido se a chegada do vilão acontecesse
na própria biblioteca e isso daria mais agilidade ao desfecho. Do jeito que
está, ao invés de uma conclusão apoteótica, o filme se arrasta em seus minutos
finais, acabando com o senso de energia que foi construído até então. Não deixa
de ser divertido, mas fica a sensação de que poderia ser mais conciso.
Coquetel Explosivo diverte por conta da criatividade amalucada de
suas cenas de ação e por um elenco que consegue dar algum carisma a personagens
que, de outra maneira, seriam bem lugar comum.
Estreia de Halle Berry como
diretora, este Ferida é uma típica
história de superação no esporte. A trama é centrada em Jackie (Halle Berry),
uma ex-lutadora de MMA que se encontra no fundo do poço, trabalhando como
diarista depois de fugir de uma luta. As coisas se complicam quando ela fica
sabendo da morte do ex-marido e precisa cuidar do filho pequeno. Com uma
criança sob sua responsabilidade, Jackie precisa reconstruir a vida,
encontrando uma nova oportunidade para retornar ao meio do MMA e desafiar a
atual campeã.
É uma narrativa que mistura Rocky: Um Lutador (1967), com Nocaute(2015) e outros elementos que já
vimos em filmes de esporte. Não tem nada que saia do traçado esperado e boa
parte dos desenvolvimentos são bem previsíveis, como a eventual relação de
Jackie com a treinadora. Isso seria menos problemático se os personagens ao
redor da protagonista fossem mais interessantes, mas todos eles parecem existir
apenas para gravitar em torno dela, funcionando como obstáculos (o namorado
abusivo, a mãe oportunista) ou facilitadores (a treinadora que sempre está
disponível para tudo e parece não ter vida própria) e nunca como indivíduos
autônomos com suas próprias motivações ou desejos.
O western é um gênero que fala da realidade histórica dos Estados
Unidos. Durante o período clássico hollywoodiano esses filmes ajudavam a
construir mitos ao redor da expansão do país rumo ao oeste. Uma expansão na
qual o homem branco dominava um ambiente selvagem e bravio com sua coragem e
iniciativa. Eram histórias sobre a identidade nacional, o destino do país e
sobre a superioridade de um povo. Já tem um tempo que o western adquiriu um caráter mais revisionista, desde produções como
Dança Com Lobos (1990) até produções
mais recentes como First Cow(2021).
Este Ataque dos Cães, novo trabalho
da diretora Jane Campion também apresenta um olhar revisionista sobre elementos
típicos do western.
Na trama os irmãos George (Jesse
Plemons) e Phil (Benedict Cumberbatch) são fazendeiros com um negócio em
ascensão. George cuida do lado administrativo enquanto Phil supervisiona o
cotidiano dos animais da fazenda. Phil se comporta com um típico caubói de western, um homem estoico e durão, que
fala e socializa pouco e tem orgulho de seu bom manejo da terra e dos animais.
A relação entre os dois irmãos é abalada quando George se casa com a viúva Rose
(Kirsten Dunst), levando ela e o filho Pete (Kodi Smit-McPhee) para morar na
fazenda. Aos poucos Phil começa a atormentar Rose e Pete, ridicularizando Rose
por suas incursões musicais fracassadas e Pete por seus modos afeminados ou sua
paixão por ciência.
Há uma quantidade enorme de
filmes que usam fotografia em preto e branco ou uma taxa de aspecto 4:3 para
parecerem mais “artísticos” ou meramente referenciar o cinema de outrora. Na
maioria dos casos é um floreio estilístico que pouco acrescenta ao produto
final. Neste Identidade, no entanto,
é essencial para a discussão sobre colorismo e identidade que o filme tenta
construir.
Estreia da atriz Rebecca Hall
como diretora, a trama adapta um romance de Nella Larsen, e acompanha Irene
(Tessa Thompson), uma mulher negra na Nova Iorque de 1920. Um dia Irene
reencontra uma amiga de infância, Clare (Ruth Negga), e descobre que ela vive
se passando por branca, inclusive tendo casado com um homem branco fazendo ele
acreditar que ela era branca.
O reencontro desperta emoções em
ambas. De um lado Irene, que assim como Clare tem uma pele mais clara e
conseguiria se passar como branca, se sente incomodada com a possibilidade de
esconder quem é, embora se sinta atraída pelas facilidades e segurança de uma
vida de branca. Por outro lado, Clare vê em Irene um refúgio, uma possibilidade
de ser ela mesma integralmente sem precisar fingir ou temer ser descoberta.
O primeiro Venom(2018) não era lá grande coisa, mas encerrava com um gancho
para continuação que talvez rendesse algo melhorzinho por conta da presença do serial killer Cletus Kasady. Pois bem,
este Venom: Tempo de Carnificina tenta
pegar o gancho final do primeiro e não faz nada de muito interessante.
Na trama, Eddie Brock (Tom Hardy)
consegue uma entrevista exclusive com o serial
killer Cletus Kasady (Woody Harrelson), mas durante a conversa Brock é mordido
por Kasady, que fica com o pedaço do simbionte de Eddie. Usando o novo
simbionte para se tornar o perigoso Carnificina, Cletus foge da cadeia e começa
a causar destruição por onde passa. Cabe a Eddie Brock e ao simbionte Venom
deter a nova ameaça.
De cara incomoda como a relação
entre Brock e Venom parece estagnada em relação aos eventos do filme anterior.
No final do primeiro Brock parecia ter aceito a condição de “protetor letal”
permitindo que Venom devorasse bandidos. Aqui, no entanto, tudo parece ter
voltado à estaca zero, com o filme dando a desculpa de que as autoridades ainda
estavam à procura do simbionte por causa dos eventos do filme anterior, sendo
que nada disso tinha sido dito no final do primeiro filme quando Eddie deixa
Venom devorar um assaltante. Assim, ao invés de mover adiante a relação dos
personagens, tudo soa estagnado, repetindo o que já tinha sido feito no
primeiro filme, sendo que o primeiro filme não é exatamente bom.
Muitos defeitos do anterior
também retornam, como o fato de que o texto não consegue fazer Eddie soar como
um competente repórter investigativo. Porque inicialmente ele recusaria uma
exclusiva com um serial killer?
Porque ele aceitaria publicar uma fala de Cletus que claramente é uma mensagem
cifrada sendo que isso poderia ser um código para que crimes fossem cometidos
em nome dele? É um tipo de coisa que deveria passar pela cabeça de um
jornalista experiente, mas Brock continua a agir como um amador estúpido.
Do mesmo modo, a relação entre
Venom e Eddie continua sendo apresentada mais como uma espécie de comédia
romântica e menos como um sujeito lidando com um parasita alienígena querendo
controlar seu corpo. Ao fazer Venom engraçadinho, o filme diminui a capacidade
intimidadora da criatura como um predador voraz e letal, impedindo que Venom
seja aqui a presença imponente que o texto visa construir.
Qualquer um que já tenha
assistido Assassinos por Natureza (1994)
sabe que Woody Harrelson é perfeitamente capaz de fazer um serial killer caipira cruzando o país ao lado de um interesse
romântico igualmente letal. A escalação dele como Cletus Kasady seria um acerto
fácil, no entanto, não funciona por conta de um texto que não sabe fazer com o
personagem. Kasady muda de personalidade o tempo todo, uma hora sendo enquadrado
como um completo lunático e sádico, um psicopata cruel que busca destruição e
dor. Em outros momentos o filme tenta transformar Cletus em uma vítima das
circunstâncias, um coitado solitário e incompreendido que se tornou violento
por causa dos abusos que sofreu e só queria ser amado. Essas duas abordagens
entram em conflito uma com a outra e o personagem acaba soando vazio.
Não ajuda que o roteiro tenha uma
série de incoerências e elementos mal explicados ou desenvolvidos. Porque, por
exemplo, Cletus só queria dar entrevista para Eddie? O filme nunca dá uma
justificativa crível para isso e soa mais como algo que acontece porque precisa
acontecer para mover a trama. Do mesmo modo, porque exatamente o simbionte
Carnificina precisa matar Venom? É estabelecido desde o início que Carnificina
é naturalmente mais poderoso que Venom, então qual a razão dessa obsessão em
matar o “pai”? Porque Venom fica assustado ao ver Carnificina pela primeira
vez, explicando que é por ele ser vermelho? Qual o motivo do inimigo ser um
simbionte vermelho afetar tanto Venom?
A ação abusa de névoa e espaços
mal iluminados, provavelmente para facilitar os efeitos especiais que criam as
criaturas, mas assim como no anterior são escolhas que tornam tudo
incomodamente escuro. As lutas entre simbiontes continuam parecendo que duas
manchas de tinta foram jogadas em uma folha de papel. São menos confusas que o
filme anterior por causa das cores mais díspares entre as criaturas, entretanto
não empolgam como deveriam. Parte do motivo da ação não empolgar é que o filme
nos diz o tempo todo como esses seres são monstros carniceiros devoradores de
gente, porém nunca vemos essa violência e brutalidade nas cenas de ação, já que
o filme tem classificação indicativa baixa e não pode mostrar nada muito
explícito.
Não esperava nada de Venom: Tempo de Carnificina e ainda
assim o filme conseguiu decepcionar sendo pior que o primeiro em praticamente
tudo.
Escrito por Derek Kolstad,
responsável pelos roteiros dos filmes do John Wick, este Anônimo pode ser resumido como uma espécie de “John Wick tiozão”,
já que tem muitas características similares com os filmes protagonizados por
Keanu Reeves, ainda que este aqui penda também um pouco para o humor. Na trama,
Hutch (Bob Odenkirk) é um pacato homem de meia idade que trabalha como contador
e vive uma tranquila vida suburbana com a esposa e os filhos. Um dia Hutch vê
um grupo de homens assediando uma mulher dentro durante uma viagem de ônibus e
decide interferir, espancando brutalmente todos os envolvidos. O problema é que
um desses homens era irmão de um poderoso chefe da máfia russa, Yulian (Aleksey
Serebryakov), colocando Hutch e sua família como alvo. O que os russos não
sabem é que Hutch tem um passado secreto e que não é tão inofensivo quanto
parece.
Assim como De Volta ao Jogo (2014), primeiro filme do John Wick, o filme
inicialmente se estrutura ao redor do que parece ser uma típica trama de
vingança quando a casa de Hutch é invadida por ladrões, mas logo se mostra uma
história sobre um sujeito que segurou os impulsos homicidas por tempo demais e
agora está mais do que disposto a ir para guerra por qualquer razão. É também
um filme de ação sem muitas firulas em termos de narrativa indo direto ao ponto
de conflito entre Hutch e os russos e usando isso para criar boas cenas de
ação.
A primeira parte de Mestres do Universo: Salvando Etérnia
era muito melhor do que tinha qualquer direito de ser. Explorava as relações
entre os personagens principais e como anos de batalhas entre He-Man e o
Esqueleto afetaram os vários heróis e vilões da série. Essa segunda parte tinha
a difícil missão de manter o mesmo nível e também dar conta satisfatoriamente o
surpreendente ganho da primeira parte.
Essa segunda parte começa do
ponto em que a anterior parou. Esqueleto consegue a Espada do Poder e se
transforma em uma versão mais poderosa de si. Maligna toma o lugar da
Feiticeira no Castelo de Grayskull e o príncipe Adam está gravemente ferido
depois de um ataque do Esqueleto. Os heróis devem se reagrupar e decidir como
lidar com essa versão mais poderosado
Esqueleto ao mesmo tempo em que uma novas crises surgem.