quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Crítica – Gavião Arqueiro: Primeira Temporada

 

Análise Crítica – Gavião Arqueiro: Primeira Temporada

Review – Gavião Arqueiro: Primeira Temporada
Apesar de ser um membro fundador dos Vingadores, o Gavião Arqueiro até então não tinha recebido o devido holofote. Mesmo a Viúva Negra recebeu seu próprio longa-metragem e nada do Gavião ter seu momento de protagonismo. Isso muda com a primeira temporada de Gavião Arqueiro, que não apenas aprofunda o que sabemos sobre Clint Barton, como abre caminho para sua sucessora ao nos apresentar a Kate Bishop.

Na trama Clint (Jeremy Renner) está em Nova Iorque com os filhos para compras de Natal e prestes a retornar à fazenda na qual vive com a família. Problemas surgem quando a jovem Kate Bishop (Hailee Steinfeld) esbarra em um leilão ilegal que vende itens retirados do complexo dos Vingadores depois da batalha contra Thanos em Vingadores: Ultimato (2018). Entre os itens estão um relógio que pertence a alguém que Clint conhece e o uniforme de Ronin usado por Clint durante o período do Blip. Sem saber que Clint era o Ronin, Kate sai usando o uniforme pelas ruas da cidade, o desperta hostilidade de vários criminosos, então Clint precisa encontrá-la e confrontar seu passado como Ronin.

É clara a influência do arco Minha Vida Como Uma Arma dos quadrinhos, desde elementos da trama escrita por Matt Fraction, como a Máfia do Agasalho e sua predileção por falar “mano”, passando pelo Cachorro Pizza e outros personagens ou situações. A identidade visual também deriva muito desse arco, com os créditos, textos e usos de cor remetendo à estética de David Aja neste arco.

A ideia de explorar o entrelugar ocupado por Clint no universo Marvel também é explorado aqui como no quadrinho. Se pararmos para pensar Clint está em uma posição bem singular neste universo considerando que ele é normal demais com sua esposa, filhos e problemas mundanos para estar no mesmo nível dos demais Vingadores. Ao mesmo tempo sua vida de aventuras é extraordinária o bastante para que ele esteja em um patamar similar ao do resto das pessoas comuns.

Ao longo da temporada vemos como é justamente essa duplicidade que torna Clint tão importante. Sua humanidade ajuda a lembrar aos mais poderosos o que está em jogo para a humanidade e suas habilidades extraordinárias lembram a humanidade que mesmo em um mundo de deuses e monstros há espaço para um sujeito comum fazer a diferença. É exatamente isso, por sinal, que move Kate Bishop, tendo sido salva pelo Gavião ainda criança durante os eventos de Vingadores (2012) e inspirada por ele.

A relação entre Clint e Kate é construída de maneira consistente, com Clint arredio de trazer essa garota para o meio de seu perigoso universo enquanto ele aos poucos vai respeitando os talentos da jovem. A série permite que a dupla também tenha momentos de calmaria permitindo que se desenvolva um laço afetivo entre eles, como na sequência em que Kate leva filmes de Natal para assistirem juntos, que dá uma emoção bastante genuína à dinâmica de mentor e aprendiz que se desenvolve entre eles.

A narrativa também coloca Clint para confrontar seu passado sombrio, seja seu tempo como um assassino da SHIELD, seja seu passado mais recente como Ronin e sua matança desenfreada de criminosos. As consequências de seu período como Ronin se manifestam na vingativa Echo (Alaqua Cox) que quer vingança contra Ronin por ele ter matado seu pai e na presença de Yelena (Florence Pugh), que acredita que Clint tenha sido o responsável pela morte de Natasha (Scarlett Johansson). O confronto com Yelena serve para explorar o impacto que a morte de Natasha teve sobre Clint, algo que os filmes nunca deram o devido tempo e que aqui é exposto de uma maneira tocante na cena em que Clint “conversa” com o memorial de Nova Iorque ou na interação final com Yelena.

Por sinal, Yelena não traz apenas tensão e drama à narrativa. Algumas das cenas mais marcantes da personagem ao longo da série são mais focadas em humor e no modo como a falta de traquejo social da personagem provoca reações nas pessoas ao seu redor. As cenas entre ela e Kate são as mais divertidas da série, com Florence e Hailee exibindo uma química tão adorável que nos faz querer mais de Yelena e Kate juntas.

A ação foca na precisão de Clint e explora com criatividade os diferentes usos possíveis de suas flechas tecnológicas. Vemos isso principalmente na perseguição durante um dos primeiros episódios, que inclui até uma flecha com tecnologia Pym, como também no confronto final com os Agasalhos na Rockefeller Plaza. A luta entre Clint e Echo mostra como ele pode ser letal em sua persona de Ronin e apresenta uma tentativa de Clint dar a Echo uma explicação pelo que aconteceu, obrigando o personagem a confrontar seus problemas passados.

Apesar de apresentar várias frentes narrativas ao falar de Clint e sua busca pelos itens do leilão, os conflitos de Kate com a mãe, além da presença de Echo e Yelena, a trama consegue amarrar tudo no episódio final ao conectar os vários arcos a um único vilão. A partir desse momento aviso que o texto pode conter SPOILERS. Considerando que o Rei do Crime interpretado por Vincent D’Onofrio era uma das melhores coisas das séries da Netflix, é bom vê-lo integrado de fato ao MCU, já que o ator consegue trazer uma presença imponente, intimidadora, bem como evocar a fisicalidade irrefreável do vilão.

Com bons personagens e uma consistente exploração de como uma vida de aventuras impacta seu protagonista, Gavião Arqueiro faz justiça a um dos personagens mais subestimados do universo cinematográfico da Marvel.

 

Nota: 8/10


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