Além de denúncias de pedofilia, de cooptar as funcionárias de seu parque para um estranho culto/harém ao seu redor, Antle me chamava atenção pela linguagem corporal perturbadora. Ele sempre falava com uma aparente calma e alegria, com um sorriso tão rígido no rosto que parecia paralisado naquela posição. Bastava alguém dizer algo que Doc não gostava, que sua voz imediatamente se tornava agressiva e descontrolada apesar de um evidente esforço de manter no rosto a expressão plácida e sorridente, o que lhe fazia parecer um completo lunático.
Essa minissérie derivada vai mais à fundo no passado de Antle, explicando como ele estruturou seu harém/seita a partir de suas vivências em uma comunidade alternativa de yoga no interior dos Estados Unidos a partir da década de 60. Através de testemunhos e imagens de arquivo, o documentário mostra como desde jovem Antle estava metido com seitas e também em se relacionar com menores de idade, inclusive levando algumas delas de casa se autorização dos pais (na prática, sequestro). Os vários testemunhos revelam um padrão consistente de abusos e manipulação dessas mulheres, algo que mesmo denunciado para o guru que liderava a seita da qual Antle pertencia não parecia haver consequência (inclusive porque o próprio guru também é acusado de abusos sexuais).
Além das denúncias de pedofilia e abuso sexual, a série também mostra como ele explorava e humilhava os funcionários de seus parques, fazendo-os trabalhar longas horas sem dias de folga ou férias, exercendo um grande controle sobre suas vidas (como um líder de seita). Outro elemento recorrente são as denúncias de maus tratos a animais, algo que Antle negou na primeira temporada de A Máfia dos Tigres e aqui é corroborado por várias testemunhas.
Por outro lado, a série também se vale do mesmo sensacionalismo vazio que se tornou problemático na segunda temporada. O melhor exemplo é a maneira como a série conduz a história sobre a morte de um antigo sócio de Antle que muitos desconfiam que tenha sido morto pelo treinador de animais. A minissérie constrói uma grande expectativa a respeito das revelações que trará sobre o caso, mas quando chega o momento de mostrar o que conseguiram, a revelação é que o sujeito morreu em um acidente idiota por conta de suas próprias ações estúpidas. Ora, se os realizadores sabiam que não tinham como conectar Antle a esses eventos, porque dar a entender que ele era o responsável? Considerando as várias acusações consistentes de crimes cometidos por ele, porque tentar forçar uma conexão criminal que não existe? É o tipo de coisa que soa desonesta com o público, só para forçar uma grande reviravolta.
A Máfia dos Tigres: A História de Doc Antle amplia as denúncias
exibidas na primeira temporada ainda que se perca em expedientes
sensacionalistas que só fragilizam o discurso da série.
Nota: 5/10
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