sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Crítica – Top of the Lake: China Girl

Análise Crítica – Top of the Lake: China Girl

Review – Top of the Lake: China Girl
Originalmente lançada em 2017, Top of the Lake: China Girl só chegou oficialmente ao Brasil neste 2021 via HBO Max. Continuação da minissérie Top of the Lake, lançada em 2013 e criada por Jane Campion, essa segunda história da detetive Robin Griffin tenta tocar em temas similares ao original, em especial em questões ligadas à violência contra a mulher, no entanto acaba não tendo o mesmo impacto.

Na trama, Robin (Elizabeth Moss) está de volta a Sidney, Austrália, depois dos eventos passados na Nova Zelândia na primeira temporada. Trabalhando como detetive, Robin investiga o assassinato de uma jovem asiática, encontrada morta dentro de uma mala jogada no mar. O crime se complica quando a detetive descobre que a jovem estava grávida de um bebê sem nenhum marcador genético seu, ou seja, provavelmente servia de barriga de aluguel. Ao mesmo tempo, Robin lida com a tentativa de aproximação de Mary (Alice Englert), filha que ela teve na juventude fruto de um abuso sexual. Mary namora o estranho Alexander (David Dencik), um sujeito que está envolvido em negócios escusos, com os pais adotivos de Mary reprovando a relação.

Elizabeth Moss continua ótima em construir a natureza resguardada de Robin, uma mulher que se fecha do mundo por já ter sido traumatizada demais, mas que usa essas vivências como motivação em seu trabalho policial, lidando com mulheres vulneráveis. A detetive acaba forjando uma parceria com a inexperiente Miranda (Gwendoline Christie), cujo jeito mais descontraído cria uma oposição com o estoicismo rígido de Robin.

A investigação acaba tocando em temas como a exploração sexual da mulher e também da maneira como o país trata imigrantes de países menos desenvolvidos. A trama aponta o neocolonialismo presente na ideia de trazer mulheres pobres da Ásia para se prostituirem na Austrália como se isso fosse uma chance de uma vida melhor. O desenvolvimento do namoro entre Mary e Alexander serve para ilustrar a dinâmica de um relacionamento tóxico. Alexander, um homem bem mais velho que a adolescente Mary, a manipula com facilidade, convencendo a garota de que tudo que ele faz, o controle, as humilhações e as críticas à família dela são para o crescimento de Mary, quando na verdade visam apenas mantê-la sob seu controle.

Assim como na primeira temporada a trama caminha em um ritmo bem deliberado, mas se lá tínhamos personagens interessantes e complexos, aqui muita coisa não é desenvolvida a contento ou não tem muita repercussão. O fato de Miranda ter uma relação com Adrian (Clayton Jacobson), o superior dela e de Robin, até dialoga com o arco das barrigas de aluguel, mas o fato de Adrian ser casado e estar em uma relação extraconjugal com Miranda não tem nenhuma repercussão. As tentativas de dar complexidade a Alexander não funcionam e ele nunca consegue ir além de um homem pequeno, mesquinho e com complexo de inferioridade que manipula mulheres vulneráveis para se sentir poderoso.

O fato de que está nele toda a retórica que denuncia o colonialismo do modo como a sociedade trata as imigrantes acaba sendo um problema, já que argumentos legítimos são colocados na boca de um personagem que está agindo claramente em benefício próprio para evadir a polícia e assim acabam perdendo um pouco do seu peso de denúncia. A fuga das mulheres ao final deveria ter algo de positivo, mas saber que elas estão com Alexander, ainda que ele tenha certa razão no que fala, faz tudo soar negativo. Eu sei que a série bebe muito na fonte do noir e que desfechos amargos são comuns nesse tipo de narrativa. A questão é que aqui a trama tenta enquadrar a fuga das mulheres como um tipo de vitória, só que nas mãos de Alexander é quase impossível enxergar as coisas dessa maneira.

Algumas personagens acabam tendo pouco impacto na trama. Julia (Nicole Kidman), a mãe adotiva de Mary, acaba fazendo pouca diferença. David Wenham retorna como Al, um dos antagonistas da primeira temporada. Imaginei que a cena em que Robin vai testemunhar em uma audiência contra Al seria para fazer a detetive confrontar o trauma. No entanto Al inexplicavelmente leva Mary para uma sala vazia e tenta matá-la, o que soa exagerado e gratuito. Afinal, como o sujeito esperava lidar com a situação? Ele sairia da sala deixando um cadáver estrangulado para trás e ninguém ia perguntar nada? Porque atacar Robin quando ela não tinha nenhuma prova material (apenas o próprio testemunho) dos abusos que Al cometeu? Não seria mais fácil simplesmente descredibilizar o testemunho? Do jeito que acontece soa mais como uma conveniência do roteiro para encerrar a questão de modo fácil e rápido.

Apesar de continuar contando com um ótimo trabalho de Elizabeth Moss e ter coisas importantes a dizer sobre as mulheres em nossa sociedade, Top of the Lake: China Girl derrapa em soluções problemáticas e conflitos que nem sempre repercutem.

 

Nota: 6/10


Trailer

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