quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Lixo Extraordinário – Para Maiores

 


De todos as produções pavorosas que abordei nesta coluna, Para Maiores (2013) talvez seja uma das que menos se qualifique como filme propriamente dito (ao lado de Salvando o Natal, um misto de escola dominical e Telecurso 2000). É uma série esquetes cômicos encadeados por um fiapo de trama. Trama esta, por sinal, que varia em versões diferentes. Em uma das versões a trama se ancora ao redor de um executivo de estúdio tentando passar ideias para novos filmes (daí os esquetes). Em outra versão a trama se estrutura ao redor de dois adolescentes tentando baixar um filme na internet, mas sempre encontrando a produção errada (daí os esquetes).

Em ambos os casos mal dá para considerar como trama e mesmo internamente nenhum esquete tem qualquer propósito além de gerar risos. O problema é que é quase impossível rir de um material tão sem graça, que se apoia meramente em palavrões e escatologia rasa sem muita criatividade. O que surpreende, no entanto, é o elenco, composto por grandes nomes como Hugh Jackman, Kate Winslet, Halle Berry, Chris Pratt, Chloe Moretz, Emma Stone, Liev Schrieber e tantos outros.

A primeira vez que assisti, imaginei que os produtores do filme eram muito bem relacionados para conseguir tantas estrelas, afinal não imagino ninguém voluntariamente lendo os roteiros dos esquetes e querendo participar. Duvido muito que Hugh Jackman rolou de rir em casa ao ler o texto sobre um sujeito com testículos no queixo e correu para aceitar o projeto. Quando fui pesquisar vi que, de fato, foi pela conexão dos produtores que pediram favores a conhecidos que aceitaram ser saber no que estavam se metendo.

O processo, no entanto, não foi suave, com algumas estrelas tentando escapar alegando conflitos de agenda e outros problemas, mas os produtores simplesmente esperaram, sem pressa de finalizar o material. Por conta disso o filme levou quatro anos para ficar pronto, já que alguns membros do elenco, como Richard Gere, que tentou fugir o máximo que pôde de filmar o esquete que tinha aceitado fazer.

Como já falei, são esquetes centrados em escatologia e palavrões, que apresentam esses elementos com a absoluta certeza de que estão testando os limites do humor, sendo que escatologia e palavrão já estão presentes em comédias hollywoodianas há décadas e não há exatamente nada de novo aqui. Além disso, os esquetes raramente desenvolvem as ideias que apresentam repetindo uma única piada ao longo de mais de dez minutos e o material soa cansativo.

Todo o esquete entre Hugh Jackman e Kate Winslet se baseia no fato de que Jackman tem testículos saindo do queixo. No esquete de Liev Schrieber e Naomi Watts eles são pais que educam o filho em casa, mas tentam simular o ambiente de colégio, praticando bullying no garoto ou fazendo a mãe se fantasiar de líder de torcida para dar em cima dele. Uma vez que entendemos a lógica da premissa, tudo fica previsível e mesmo com curta duração todos os esquetes soam cansativos e repetitivos.

No esquete envolvendo Chris Pratt e Anna Faris a trama gira em torno da personagem de Faris querer praticar coprofilia (não busquem o termo no Google) com o marido interpretado pro Pratt. Isso é uma desculpa para várias piadas batidas sobre fezes, conforme toda a situação é enquadrada como perda de virgindade acompanhada por piadas igualmente batidas sobre perda de virgindade. Não duvidaria, inclusive, que a participação neste desastre tenha sido uma das razões para o divórcio entre Pratt e Faris na vida real (eles ainda estavam casados quando filmaram o esquete). O segmento protagonizado por Halle Berry coloca ela em um encontro num restaurante mexicano  também apela para um humor físico que deveria ser chocante pelo exagero, mas nem assim consegue fazer rir, como no momento gratuito em que Berry bate guacamole com o seio (é um seio prostético, não o seio real da atriz, por sinal).

Em alguns esquetes o humor soa anacrônico e antiquado, como no segmento estrelado por Chloe Moretz, na qual uma garota está se beijando com um garoto e a menstruação desce, manchando o sofá. A garota tenta esconder que está menstruada e sai sujando tudo de sangue. Imagino que a graça seria tratar menstruação, uma ocorrência natural e que deveria ser encarada como tal, como uma coisa nojenta e aberrante do qual as mulheres deveriam ter vergonha. É uma ideia que soa incomodamente machista e antiquada para uma produção de 2013 e que simplesmente não é engraçada porque não há inversão de expectativa, não há subversão, apenas uma repetição de um olhar machista antiquado sobre as mulheres. Se ao invés de ter como alvo a garota menstruada e ridicularizasse o comportamento masculino, talvez pudesse provocar algum riso.

Existem mais esquetes, como o que envolve Johnny Knoxville e Seann William Scott capturando um duende interpretado por Gerard Butler. Ou o que envolve Kieran Culkin e Emma Stone trocando profanidades em um supermercado, mas nenhum desses tem qualquer coisa minimamente memorável. São segmentos que se baseiam meramente na exposição de palavrões ou nudez como se isso ainda chocasse alguém.

No fim, Para Maiores é uma coleção de esquetes simplórios e sem grande criatividade conduzidos como se fosse um material destruidor de barreiras, desperdiçando um elenco cheio de estrelas em uma produção entediante e sem graça.


Trailer

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