sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Crítica – A Filha Perdida

 Análise Crítica – A Filha Perdida


Review – A Filha Perdida
Dirigido por Maggie Gyllenhaal adaptando um romance escrito por Elena Ferrante, A Filha Perdida mescla drama com algumas pitadas de suspense para falar a respeito do peso da maternidade sobre as mulheres. Normalmente o cinema costuma romantizar demais a maternidade, retratando como algo mágico, dourando os problemas e ignorando o quanto da responsabilidade de criar e cuidar dos filhos é imposta à mulher. Aqui, Gyllenhaal tenta mostrar um olhar com mais nuance deste aspecto da vida feminina.

A trama acompanha Leda (Olivia Colman), uma professora de literatura que está de férias no litoral da Grécia. Lá ela começa a prestar atenção em Nina (Dakota Johnson), uma jovem mãe com um marido abusivo e que está tendo um caso com o marido da melhor amiga, Callie (Dagmara Dominczyk). Quando a filha de Nina some na praia, Leda ajuda a encontrar a menina e começa a se aproximar de Nina, conversando com ela e com a grávida Callie sobre maternidade. Isso faz Leda remoer segredos do seu passado como mãe de duas garotas.

Olivia Colman é ótima em construir Leda como alguém que chegou a um ponto na vida em que não está disposta a ceder mais nada. Depois de passar boa parte da vida colocando as necessidades de outros em primeiro lugar, a professora não faz nada que não queira fazer, nem aceita que outros estraguem sua experiência, algo evidenciado na cena em que Callie pede para Leda troque de lugar ou na cena em que Leda vai ao cinema.

Colman também permite que vejamos a culpa que emerge aos poucos da conduta serena de Leda. Conforme ela e Nina interagem, o passado de Leda volta com mais força em sua mente, antigos sentimentos de culpa começam a inundar a protagonista. Em flashbacks (nos quais Leda é interpretada por Jesse Buckley), vemos como ela passava muito tempo sozinha com as filhas e a dimensão da responsabilidade e da atenção constante que é criar duas crianças. Não lembro de outro filme que construiu a experiência de maternidade como esse estado de tensão constante.

Claro, o material também não demoniza a maternidade, deixando claro que Leda ama as filhas e teve muitos momentos felizes com ela, mas também revela como a responsabilidade constante com os filhos é também uma privação que as vezes dá vontade de escapar. Nesse sentido, a aproximação entre Leda e Nina vai evidenciando como Leda enxerga a si mesma no passado em Nina, vendo o caso da jovem como o mesmo desejo de fuga que ela própria teve enquanto jovem. O caso que Nina tem não é exatamente movido por amor ou mesmo por um desejo de abandonar a família, mas apenas ter um respiro da necessidade constante de ter que prestar atenção na filha. 

Se a tensão da maternidade é muito bem construída, em outros momentos que a trama tenta construir suspense ao redor de outros elementos acabam não funcionando. Toda a questão do marido de Nina aparentemente ser controlador e tóxico acaba fazendo pouca diferença e funcionando como um despiste desonesto do que virá a acontecer. Ele poderia ser só um sujeito normal ou ausente que tudo daria no mesmo. A tentativa de construir suspense acerca do passado que Leda tenta não lembrar ou mesmo do desdobramento do caso de Nina com o marido de Callie parece querer jogar o filme no terreno do thriller, como se algo horrível fosse acontecer, quando na verdade é tudo mais realista e pé no chão do que os produtos desse gênero. Como as reviravoltas sendo mais mundanas do que a condução de Gyllenhaal dá a entender, alguns elementos soam um pouco anticlimáticos, ainda que o desfecho traga uma rima poética trágica com o destino final de Leda.

Mesmo que as tentativas de se aproximar de certos gêneros narrativos nem sempre deem certo, A Filha Perdida é um duro e sensível exame acerca das tensões da maternidade por conta do olhar cuidadoso de Maggie Gyllenhaal e da performance de Olivia Colman.

 

Nota: 7/10


Trailer

Nenhum comentário:

Postar um comentário