O filme marca a segunda adaptação do romance homônimo de William Lindsay Gresham para os cinemas. A trama se passa na década de 1940 e acompanha Stan (Bradley Cooper), um homem solitário que se junta a um circo. Aos poucos ele vai aprendendo os truques dos membros do local e se mostra talentoso em mentalismo. Depois de um tempo, Stan decide partir do circo com a amada Molly (Rooney Mara) para tentarem a sorte na cidade grande. Lá Stan começa a engabelar a elite local, mas se envolve em problemas quando se aproxima da psiquiatra Lilith (Cate Blanchett).
É difícil não olhar para a trama e o modo como del Toro a conduz e não pensar no seminal Freaks (1932), de Tod Browning, que também contava uma história envolvendo circo, e o que acontece com uma pessoa atraente e talentosa que se achava melhor que as “aberrações” do local. Assim como A Forma da Água (2017), produção anterior de del Toro, é um conto moral sobre como são justamente as pessoas que a sociedade considera normais ou modelos ideais que são capazes das piores coisas. Ao mesmo tempo, é também uma história sobre o peso das mentiras e de usá-las para tentar criar uma espécie de “realidade alternativa”. Não importa o quanto se tente, uma realidade criada dessa maneira nunca se sustenta e os custos disso tudo eventualmente chegam.
Bradley Cooper ilustra muito bem a transformação de Stan, de um sujeito que vê no espetáculo uma saída da pobreza e se deslumbra com as possibilidades criativas, para alguém tão assoberbado pelo próprio talento que passa a superestimar sua própria capacidade e crer nas próprias mentiras (algo que seu mentor lhe adverte). Seu personagem se perde tanto em sua persona artística que passa a tratar tudo como uma grande performance e perde a noção das consequências reais de seus atos.
Já Cate Blanchett é ótima em construir Lilith como uma personagem deliciosamente ambígua. Como uma típica mulher fatal do noir ela parece cair nos esquemas de Stan para em seguida ser perfeitamente capaz de demonstrar controle sobre ele. Com isso, os dois atores criam uma tensa dinâmica na qual nunca temos certeza acerca de quem está passando a perna em quem. Por outro lado, a reviravolta envolvendo Lilith carece de uma motivação mais consistente, como se ela agisse de maneira sádica para arruinar alguém só porque ela é má, pronto, e o roteiro exigia isso para mover adiante a narrativa de Stan.
Na verdade, esse é o problema de todas as outras personagens femininas no longa. Apesar de Rooney Mara e Tony Colette conseguirem trazer emoção genuína para suas personagens, elas permanecem como figuras unidimensionais que existem apenas para fornecer meios e motivos para que a trama do protagonista masculino consiga andar. Nenhuma dela tem qualquer motivação, desejo ou arco próprio, se limitando a gravitar ao redor de Stan.
Ainda assim, o desfecho do filme é tão eficiente em construir a decadência do personagem, levando-o a tudo que ele tinha ojeriza e tudo que ele veementemente rejeitava ser que é difícil não se sentir impactado. Principalmente por Cooper conseguir transmitir tão bem o desespero do personagem.
Assim, mesmo que nem todos os
personagens sejam bem desenvolvidos, O
Beco do Pesadelo constrói muito bem a sombria jornada de decadência
psicológica e moral de seu protagonista.
Nota: 7/10
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