quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Crítica – Shiva Baby

 

Análise Crítica – Shiva Baby

Review – Shiva Baby
Primeiro longa metragem da diretora Emma Seligman, Shiva Baby é um daqueles filmes que chega a ser difícil precisar a qual gênero se encaixa. Ele transita por comédia, drama e até mesmo terror com muita naturalidade, nunca perdendo a coesão, e de modo bastante singular.

Adaptando seu curta-metragem de mesmo nome, Seligman conta a história de Danielle (Rachel Sennott), uma jovem universitária judia que vai com os pais ao funeral de um conhecido distante. No funeral ela precisa lidar com os comentários de parentes que pouco vê e que questionam sua aparência e escolhas profissionais, além da ex-namorada de juventude Maya (Molly Gordon), com quem é sempre comparada, sendo que Maya está se saindo melhor profissionalmente. As coisas se complicam, no entanto, quando ela vê Max (Danny Deferrari), seu “sugar daddy” chegando ao evento.

Toda a trama se passa durante esse funeral e a narrativa consegue manter as coisas em movimento e interessantes apesar de confinada a esse único espaço. Na verdade, a limitação espacial serve para ampliar o senso de aprisionamento de Danielle, que se sente confinada naquele lugar com um monte de gente que parece existir apenas para lhe mostrar o quanto ela é incapaz e inadequada.

O texto de Emma Seligman capta bem o senso de absurdo e constrangimento de interagir com parentes e conhecidos que pouco convivemos e ainda assim tentam opinar sobre nossas vidas ou tentam entender escolhas que, bem, não é da conta deles para entender, conforme Danielle é questionada sobre sua escolha de graduação em estudos femininos e qual a utilidade disso (como alguém que fez mestrado e doutorado em cinema, entendo a dificuldade de explicar para as pessoas o que estamos fazendo). Não são situações cômicas que vão fazer ninguém rir alto, mas que captam de maneira espirituosa o ridículo das interações humanas.

Do mesmo modo, a trama flerta com o horror conforme essas constantes pressões se acumulam sobre a protagonista e ela parece incapaz de lidar com tudo. Nesses momentos a fotografia muda, abandonando a iluminação naturalista para tons de amarelo que evocam uma espécie de delírio febril e supercloses nos personagens que falam com a protagonista são usados para fazer esses parentes idosos (e realisticamente inofensivos) soarem como figuras opressivas invadindo o espaço de Danielle.

Toda essa mistura de gêneros é usada de maneira eficiente para comunicar o sentimento da inadequação do início da idade adulta. Quando a sociedade já cobra que deveríamos estar em domínio de nossas vidas afetivas e profissionais, mas ainda tentamos nos encontrar em mundo que nos impõe tantos ideais de sucesso e nos comparamos com as pessoas ao nosso redor. Nesse sentido, a trama acerta ao não criar um antagonismo ou rivalidade entre Danielle e Maya, ao invés disso preferindo que Maya compreenda Danielle e no fim as duas reafirmem a cumplicidade e entendimento daquilo que passam em um singelo gesto de segurar na mão uma da outra.

Transitando entre diferentes gêneros e explorando com habilidade o espaço no qual a trama fica confinada, Shiva Baby é um ótimo exame sobre ansiedade, juventude e inadequação social.

 

Nota: 8/10


Trailer

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