Na trama, Bruce Wayne (Robert Pattinson) já está há dois anos trabalhando como Batman e questiona se está fazendo alguma diferença. Tudo muda quando o misterioso Charada (Paul Dano) começa a matar figuras proeminentes de Gotham City. Cabe ao Batman investigar os crimes ao lado do tenente Gordon (Jeffrey Wright), seu único aliado em meio à corrupção que assola a polícia, e da misteriosa Selina Kyle (Zoe Kravitz), que esconde uma ligação com o mafioso Carmine Falcone (John Turturro).
É uma trama que foca mais no lado detetivesco do Batman e que, por isso, consegue trazer algum frescor, já que é uma faceta que sempre foi deixada de lado em outras versões do personagem. Por outro lado, toda a abordagem que remete ao trabalho de diretores como Michael Mann ou David Fincher já tinha sido explorada na trilogia de Nolan e, nesse sentido, o filme de Reeves acaba sendo mais um retrato realista e funcional do homem morcego, com pouco a se diferenciar do que veio antes.
Sim, a fotografia carregada de sombras e tons de neon vermelho é competente em criar uma atmosfera soturna que flerta com o neo-noir. A questão é que tudo isso já foi explorado antes e o Batman tem vários outros vilões que se aproximam mais da ficção científica ou sobrenatural e tem pouco espaço nessa abordagem mais realista, fica a impressão que essas escolhas mais limitam o potencial das histórias, girando em torno de antagonistas e temas similares.
A jornada do Batman aqui é a mesma da última trilogia, de se compreender enquanto símbolo, ainda que seu percurso seja um pouco diferente. O protagonista passa boa parte do tempo como Batman e o vemos raramente como Bruce Wayne, o que ajuda a reforçar a ideia de que é o Batman sua real identidade. Pattinson faz de Wayne um sujeito obstinado, niilista e perturbado, que se joga diante do perigo sem qualquer preocupação com furtividade, como se não se importasse se vai viver ou morrer. É também alguém que passa tanto tempo dedicado à sua missão que parece não saber mais como interagir normalmente, tapando os olhos ao entrar em ambientes claros e se mostrando ansioso em situações sociais comuns, algo coerente com a trajetória de um sujeito que se isolou do mundo e dedicou sua juventude a treinar para ser um vigilante.
Há um desenvolvimento competente da relação entre ele e Selina, que acabam representando lados diferentes do que deve ser a busca por justiça. Zoe Kravitz, por sinal, é a melhor Selina desde Michelle Pfeiffer, construindo um ar de mistério e ambiguidade ao redor da personagem, sempre cheia de segundas intenções. Já Paul Dano faz do Charada uma mistura de Zodíaco com o John Doe de Seven (1997). Seu Edward Nashton é um sujeito perturbado que cansou de viver em uma sociedade que lhe trata como lixo e resolveu expor toda a corrupção e hipocrisias da cidade. É um vilão que consegue soar perigoso e cruel mesmo quando concordamos com seus pontos de vista.
O Alfred de Andy Serkis aparece pouco, mas faz valer seu tempo de tela em cenas significativas que mostram o laço de pai adotivo que ele tem com Bruce Wayne. Por outro lado, o Gordon de Jeffrey Wright confunde idealismo com ingenuidade ao sempre soar surpreso com cada revelação sobre a corrupção nos altos escalões da cidade. Sério que nos dias de hoje um policial com décadas de carreira acha inesperado que um prefeito ou promotor sejam corruptos?
A música composta por Michael Giacchino traz acordes sinuosos que evocam mistério e tensão, com os temas musicais para o Batman e para a Mulher-Gato trazendo elementos que remetem à música de Danny Elfman nos Batman do Tim Burton. As composições originais se mesclam bem com o uso de canções não originais como a Ave Maria de Schubert ou Something in the Way do Nirvana, que serve para destacar a sensação de isolamento de Bruce Wayne.
Se boa parte do filme funciona muito bem como uma trama investigativa, o clímax acaba sendo o ponto fraco do produção. Ao chegar em seu momento climático a trama já praticamente resolveu todos os seus principais conflitos e tem pouco a fazer além de entregar a destruição e pancadaria generalizada que os estúdios acham ser incontornável em produções do gênero. A ação é até bem executada, mas falta urgência, perigo e imprevisibilidade já que os personagens se limitam a enfrentar algumas dúzias de capangas genéricos do Charada.
Com isso Batman entrega uma competente reimaginação do personagem,
especialmente por conta do trabalho do elenco principal e da sua atmosfera
soturna, mas derrapa em um clímax pouco envolvente e por aderir demais a
abordagens anteriores do personagem.
Nota: 8/10
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