A trama é centrada em Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), duas mulheres cujo parto ocorre no mesmo dia e dividem um quarto de hospital. Quando Janis volta para casa, o pai de sua filha, Arturo (Israel Elejalde) diz não reconhecer a criança, achando não ser o pai. Janis faz um teste de DNA e descobre que ela também não é a mãe do bebê que levou para casa, desconfiando que sua filha foi trocada com a de Ana na maternidade. Assim, ela eventualmente procura Ana, mas ao saber que o bebê que Ana levou para casa morreu, Janis desiste de contar a verdade, mas traz Ana para trabalhar de babá da filha. Aos poucos as duas se aproximam e outros sentimentos afloram.
Como disse antes, o filme podia focar nessa tragédia da troca dos bebês e no sentimento que isso gera, mas parte desse microcosmo para falar sobre maternidade e memória. Sobre o peso das escolhas que mulheres fazem (ou são forçadas a fazer quando se tornam mães) e da importância da memória e conhecimento sobre suas origens. Janis é uma mulher que não conheceu o pai e cuja família é composta de gerações de mães solteiras. Ana não tem certeza do pai de sua filha, que pode ser fruto de um estupro e tem uma relação distante com a mãe que a deixou com o pai para tentar ser atriz. São pessoas marcadas pelo que não conhecem sobre si mesmas ou suas famílias e, por isso, sentem-se à deriva em muitos momentos.
Essa ideia de memória e origem, de um passado que sempre se impõe para nós pedido para ser desvelado, se conecta com o outro grande fio narrativo da trama, que é o esforço de Janis em escavar uma vala de sua vida natal na qual vítimas da Guerra Civil Espanhola tinham sido depositados. Esse tema é citado brevemente no início do filme e é pouco retomado ao longo da trama, apenas retornando com mais presença ao final. Assim, nem sempre essa trama é bem costurada com o arco da relação entre Janis e Ana, embora isso talvez seja proposital, pensando na memória e na história como algo fragmentado, como um registro que também depende das fabulações e experiências daqueles que remontam à história.
Nesse sentido, a busca pelos desaparecidos da Guerra Civil serve como lembrete da persistência dos eventos históricos em nossa vida. Como o próprio filme diz ao usar uma citação de Eduardo Galeano, a história sempre pede para ser ouvida e por mais que se tente, nunca pode ser plenamente ocultada. Essas ideias se aplicam também ao arco da troca de bebês, já que a insistência de Janis em ocultar a verdade de Ana apenas piora as coisas.
O arco das duas personagens é cheio de momentos de introspecção nos quais são os olhares e gestos que nos mostram o tormento interno daquelas mulheres, especialmente Janis e a complexidade de sentimentos que ela tem em relação à Ana. Mesmo em silêncio, Penélope Cruz consegue tornar visível que ela teme revelar a verdade por medo que Ana leve a filha embora, ao mesmo tempo que traz Ana para perto de modo a dar a jovem a oportunidade de passar tempo com a filha, mesmo que não saiba disso.
Embora nem sempre consiga
costurar com naturalidade seus principais fios narrativos, Mães Paralelas é uma intensa ponderação sobre maternidade e
memória.
Nota: 8/10
Trailer
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