Depois dos eventos de O Esquadrão Suicida, o Pacificador (John Cena) sai do hospital e é mais uma vez recrutado pela Argus para caçar as “borboletas”, seres alienígenas que estão controlando a mente de pessoas em posições de poder. A nova missão também coloca o personagem em rota de colisão com o pai, Auggie (Robert Patrick), que lidera uma gangue de supremacistas brancos.
Desde as primeiras cenas quando um faxineiro do hospital faz piada com o fato do Pacificador ser um exterminador de minorias, já fica claro que James Gunn quer usar essa trama e o personagem como um indiciamento desses heróis violentos que acham que matar os inimigos resolve tudo. Assim como em O Esquadrão Suicida, o roteiro usa ironia para apontar o paradoxo do raciocínio do Pacificador em matar qualquer um em nome da paz e como esse discurso é algo que cabe mais a tiranos ou genocidas do que um super-herói.
Nesse sentido, a série é esperta em dar o devido peso ao fato do Pacificador ter matado um aliado, Rick Flag (Joel Kinnaman), pelo que acreditava ser um bem maior. As últimas palavras de Flag, chamando o Pacificador de piada, ecoam no personagem ao longo de toda a temporada. O impacto de ter matado Flag faz o protagonista revisitar o passado e nos mostrar a criação abusiva que ele teve do pai racista e o trauma de perder o irmão que o moveu a esse ideal deturpado de paz. Na verdade, conhecendo de onde ele veio, é surpreendente que o Pacificador não tenha se tornado um supremacista cruel como o pai.
O contato com o também sanguinário Vigilante (Freddie Stroma) serve para o Pacificador ver o que aconteceria se ele simplesmente seguisse com seus impulsos violentos e abandonasse qualquer senso de moralidade. Dessa forma, o Vigilante funciona como um espelho cujo reflexo incomoda o Pacificador. Ainda assim, o texto nunca reduz o Vigilante a um mero psicopata, colocando nele uma certa medida de ingenuidade e solidão que lhe confere uma infantilidade adorável sem nos fazer esquecer que ele é um doido violento. Falando em violência, a série oferece sequências de ação bem conduzidas, que divertem pela violência exagerada e situações alopradas, como a luta do apartamento no primeiro episódio, que a trama consegue criar.
A construção do laço entre o Pacificador e o resto da equipe da Argus, como Economos (Steven Agee), Harcourt (Jennifer Holland) e Adebayo (Danielle Brooks), tem boas doses de humor, mas encontra espaços para construir uma emoção genuína entre esse grupo de desajustados da mesma forma que Gunn fez nos filmes dos Guardiões da Galáxia e também em O Esquadrão Suicida. Ao longo da série, cada personagem tem seu momento sob os holofotes e conseguimos entender melhor eles, inclusive com o desfecho que traz desenvolvimentos significativos para cada um.
Falando em desfecho, a ameaça das borboletas acaba servindo para o Pacificador ponha a prova a reavaliação que vinha fazendo de suas convicções. Durante o confronto final, o personagem é colocado diante da escolha de seguir o que vinha fazendo e endossar que as borboletas exerçam um controle absoluto em nome da paz ou desafiar tudo isso entendendo que os fins não justificam os meios e que o caminho da perdição pode ser pavimentado por boas intenções.
Tendo assistido sem muitas
expectativas, fiquei surpreso que essa primeira temporada de Pacificador tenha conseguido entregar um
consistente estudo de personagem, dando complexidade a um protagonista que
ninguém esperava que pudesse render algo interessante.
Nota: 8/10
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