A trama já se diferencia das outras temporadas ao começar com um suicídio ao invés de assassinato. Isso permite explorar outras facetas de culpa, conforme a investigação de Harry aponta para Percy guardando um segredo que tornou impossível de suportar. A culpa é algo que corrói a jovem por dentro e entender de onde vem um sentimento tão poderoso, tão insuportável que a impele ao suicídio, é a principal força que move a temporada.
Alice Kremelberg aparece relativamente pouco considerando a centralidade de Percy para a trama, mas faz valer cada cena ao construir Percy com um desespero silencioso. Uma pessoa que mesmo quando parece serena ou estoica, demonstra um olhar cansado e uma expressão de que carrega consigo um peso muito maior do que seria capaz de suportar.
Por outro lado, o arco de Harry é o clichê do detetive que se envolve demais com o caso e sacrifica a própria sanidade mental. Claro, Bill Pullman continua ótimo em apresentar a natureza arguta e obstinada de Ambrose e aqui ele tem uma motivação mais crível para sua fixação em desvendar Percy do que por Jamie na temporada anterior, no entanto não afasta a impressão que já vimos histórias demais sobre detetives que se envolvem demais com suas investigações.
Além dessa dupla principal, a temporada é permeada por indivíduos ambíguos que sempre parecem ter segundas intenções em sua cooperação com Harry. Um exemplo é o delegado da cidade, cuja falha em perceber eventos suspeitos que ocorrem sob sua vigilância nos deixam em dúvida se estamos diante de um policial interiorano limitado lidando com algo além de sua capacidade ou se ele é um sujeito corrupto envolvido em tudo que ocorre na ilha e deixa Harry se aproximar para mantê-lo sob controle. A avó de Percy, Meg (Frances Fisher), é outra figura que mobiliza nossa curiosidade, transitando entre a fragilidade de uma senhora devastada pela perda da neta e uma figura implacável que controla a cidade, seus habitantes e seus segredos, com mão de ferro. Durante boa parte da trama não sabemos o que realmente move Meg e isso confere certa imprevisibilidade à sua conduta, transitando entre vítima e algoz.
Eventualmente a investigação de Harry o leva por caminhos que falam sobre colonialismo, exploração econômica e desigualdades sociais, pintando uma comunidade na qual apenas os ricos ganham e o dinheiro te torna intocável. Tudo isso leva às revelações finais nas quais vemos como a realização disso tudo pesou sobre Percy depois que ela sai ilesa de uma tragédia fruto dos negócios escusos de sua família. Como em outras temporadas, o evento é carregado de ambiguidade, já que por mais que suas ações não tenham sido movidas por malícia ou crueldade, ela é indubitavelmente culpada e é a ausência de consequência para a culpa que sente que a arruína.
Ainda que o detetive Ambrose
continue repetindo as mesmas batidas de temporadas anteriores, a quarta
temporada de The Sinner ao menos
consegue criar um mistério envolvente que explora de modo consistente seus
temas sobre culpa e trauma.
Nota: 8/10
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