A escolha da escala de planos já mostra muito como Diana se sente em meio à corte. A maioria dos planos se divide entre tomadas bastante abertas que mostram Diana sozinha nos grandes salões ou campinas, evidenciando seu isolamento do resto da corte. Até mesmo a cena em que ela conversa com Charles (Jack Farthing) ao redor de uma mesa de sinuca opta por enquadrá-los à distância, como que mostrando o quanto eles estão distanciados enquanto casal.
O outro tipo de enquadramento mais comum é o super close, com a câmera praticamente invadindo o espaço pessoal de Diana, não lhe dando nenhum espaço e criando um sentimento de opressão, como se ele estivesse sendo sempre observada e vigiada de perto, não dando a ela espaço para respirar. Sem um momento de privacidade ou algum instante que não seja devidamente controlado ou cronometrado pela corte. A todo momento a protagonista é interpelada por criados e funcionários que lhe lembram onde deve estar, o que vestir ou como se comportar. A impressão é que Diana é mais uma prisioneira do lugar do que uma habitante.
A paleta de cores tende a matizes em tons frios com baixa saturação, fazendo aqueles espaços soarem frígidos e sem emoção a despeito de sua óbvia opulência e luxo. Essa escolha ajuda na atmosfera opressiva daquele espaço, um lugar desprovido de calor humano de calor humano que contribui para o senso de desamparo de Diana. A frieza também se verifica na relação com a corte, como o fato da rainha nunca ser chamada pelo nome, soando mais como uma figura de autoridade, que existe para controlar e fazer exigências, do que uma pessoa propriamente dita.
A música assume tons graves e carregados de tensão em alguns momentos, com melodias que mais parecem saídas de um filme de terror, contribuindo para que sintamos como toda aquela experiência é terrível para Diana. A trama, inclusive, nos permite mergulhar na subjetividade ad personagem em alguns momentos, como aquele em que vemos Diana se imaginando comendo as pérolas de seu colar junto com a sopa, uma tenebrosa metáfora visual a respeito de como ela se sente sufocando em meio a todo aquele luxo, pompas e protocolos. As constantes menções a Ana Bolena são uma metáfora pouco sutil em relação à situação de Diana na corte, já que, assim como a esposa de Henrique VIII, Diana também está casada com um nobre que ama outra e tema ser descartada ou vilipendiada pelo registro histórico.
No centro de todas essas escolhas de estilo e de roteiro está a performance de Kristen Stewart. O trabalho vocal e corporal da atriz capta muito bem a personalidade da princesa Gales e permite que vejamos Diana em suas escolhas de interpretação a despeito da aparência. Vivendo Diana em um momentos mais íntimos e introspectivos, o trabalho de Stewart investe Diana de um desespero silencioso que transparece em cada olhar. Sua Diana é uma prisioneira em uma jaula de ouro, conduzida, vigiada, controlada a cada passo e Stewart permite que vejamos a instabilidade e insegurança que emergem do desconforto de Diana com esse controle constante sobre si. Nesse sentido, o trabalho dela nos faz compreender como era inevitável a decisão de Diana em se afastar de tudo aquilo, pois caso contrário ela teria seu espírito devastado pela corte.
Com uma direção precisa de Pablo
Larraín e um ótimo trabalho de Kristen Stewart, Spencer é um retrato desolador da passagem de Diana pela corte
britânica.
Nota: 8/10
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