A trama se passa na década de 1950 em uma zona periférica de Nova York, cujo bairro está sendo demolido para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. O terreno é também habitado por duas gangues rivais, os Sharks, uma gangue de imigrantes latinos, e os Jets, uma gangue formada pela comunidade branca local. Nesse cenário de disputas floresce o amor proibido entre Maria (Rachel Zegler), uma jovem imigrante irmã do líder dos Sharks, e Tony (Ansel Elgort), melhor amigo do líder dos Jets e que está tentando reconstruir a vida depois de sair da cadeia.
Muito se falou sobre como Spielberg “corrigiu” os problemas do original. A verdade, no entanto, é que colocar atores de origem latina para os personagens latinos ou não legendar as falas em espanhol, tratando-a como uma língua tão nativa quanto o inglês, é o mínimo que se espera de uma adaptação de um filme de sessenta anos em plena terceira década do século XXI. O filme avança muito pouco em boa parte das discussões sobre classe e raça em relação ao original, o que soa como um desperdício de potencial considerando o quanto esse debate avançou e a ascensão recente de grupos e discursos xenófobos nos EUA. Assim, é estranho que o olhar de Spielberg acerca de todas essas questões ainda soe tão similar a algo produzido na metade do século passado.
Isso fica ainda mais evidente considerando pequenas mudanças que ressignificam de modo importante alguns elementos. Chama atenção, por exemplo a mudança de cenário no qual a canção I Feel Pretty acontece. Sondheim sempre criticou a própria composição da canção, dizendo que a letra não seria condizente com a personagem. Versões recentes da peça na Broadway chegaram até a remover o número. Spielberg resolve isso com uma mudança simples, mas muito eficiente, situando o número em uma loja de departamento chique. Desta maneira, o fato de Maria cantar em rimas aliterantes cheias de vocabulário rebuscado soa como se ela tentasse imitar (ou caçoar) as pessoas chiques que frequentam o local.
É uma pena, portanto, que Spielberg arrisque tão pouco e se escore tanto nos méritos do original. É possível ver esses lampejos de como o diretor poderia reinterpretar completamente o original, talvez mudar a ambientação para outro período (até os dias atuais) ou repensar arranjos para as canções. Do jeito que está é um remake que faz muito pouco para se justificar. Claro, os números musicais são espetaculares, cheios de energia e sentimento, mas já o eram no original.
A novata Rachel Zegler é ótima como a mocinha Maria, mas quem rouba a cena é Ariana DeBose como a impetuosa Anita. Ansel Elgort, por outro lado, soa como um erro de casting como Tony. Ainda que se saia bem nos números musicais, Elgort nunca consegue trazer a faceta irascível da personalidade de Tony, tampouco constrói alguém que traz o peso de um passado criminoso e uma pena na cadeia que os diálogos do personagem sugerem. Em Elgort sobra bom mocismo e falta um quê de bad boy agressivo.
Considerando o material original
e o diretor, seria muito difícil que Amor
Sublime Amor resultasse em algo ruim, é um filme que se sustenta
principalmente por conta dos méritos do texto base e faz muito pouco para
realmente dar uma nova roupagem a ele.
Nota: 8/10
Trailer
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