A narrativa constrói bem o desconforto racial experimentado pelas duas personagens, que em seu percurso pela instituição são constantemente lembradas do passado racista daquele lugar e como pessoas como elas eram tratadas como alguém inferiores. Mais que isso, a jornada de ambas é ter esse desconforto relativizado por outros personagens, que acham que a presença delas ali já mostraria por si só como aquele espaço está longe de ser racista.
Aos poucos a trama desvela como, na verdade, esses elementos de representatividade são usados pela branquitude para dar uma impressão de mudança sem que nada mude. O terror, sob a ótica da diretora, reside de certa forma na realização disso por parte de Gail e Jasmine, que no final das contas ainda estão sob o julgo dos brancos. A cena final, quando Gail olha ao seu redor e vê imagens idênticas às dos quadros de séculos atrás nas paredes convoca isso muito bem, mas no geral a trama não consegue criar com eficiência um clima de suspense ou temor em cima dessas ideias.
Além disso, o texto não oferece muito além da ideia de que estruturas racistas de outrora continuam em ação na contemporaneidade, não indo muito a fundo em seus temas. Sim, há o cuidado de explorar as interseccionalidades da questão racial, como as questões de classe social. Um exemplo é a cena em que Jasmine conversa com a professora Liv (Amber Gray), também negra, e a professora automaticamente supõe que Jasmine tem uma origem pobre, como que supondo que a garota, por ser negra, está ali apenas por causa de uma bolsa.
Essas tentativas de explorarem as nuances do debate racial, nem sempre são levadas adiante com consistência e algumas são passadas rápido demais pela trama. Um exemplo é a revelação de que Liv seria branca e estaria se passando por negra. É algo que poderia ser usado para falar de colorismo, de apropriação cultural, mas como vem muito perto do desfecho, é algo abordado e resolvido muito rapidamente, não sendo explorado a contento.
Fantasmas do Passado parte de boas ideias e até tenta explorar
vários aspectos da questão racial que tem como foco, mas a despeito de alguns
bons momentos de tensão, não consegue trabalhar a contento todos esses
elementos.
Nota: 6/10
Trailer
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