terça-feira, 29 de março de 2022

Crítica – Fantasmas do Passado

 

Análise Crítica – Fantasmas do Passado

Review – Fantasmas do Passado
Queria ter gostado mais deste Fantasmas do Passado, longa dirigido por Mariama Diallo sobre tensões raciais. Não que seja um filme ruim, mas não chega a aproveitar plenamente as ideias que apresenta. A trama se passa em uma universidade de elite no interior dos Estados Unidos. É um espaço predominantemente branco e isso afeta as duas protagonistas. De um lado Gail (Regina Hall) é a primeira mulher negra a assumir um cargo na alta gestão da faculdade, como diretora de assistência estudantil. Do outro está Jasmine (Zoe Renee), uma jovem negra recém ingressa na faculdade, cujo dormitório foi, no passado, um local em que a primeira estudante negra da faculdade cometeu suicídio.

A narrativa constrói bem o desconforto racial experimentado pelas duas personagens, que em seu percurso pela instituição são constantemente lembradas do passado racista daquele lugar e como pessoas como elas eram tratadas como alguém inferiores. Mais que isso, a jornada de ambas é ter esse desconforto relativizado por outros personagens, que acham que a presença delas ali já mostraria por si só como aquele espaço está longe de ser racista.

Aos poucos a trama desvela como, na verdade, esses elementos de representatividade são usados pela branquitude para dar uma impressão de mudança sem que nada mude. O terror, sob a ótica da diretora, reside de certa forma na realização disso por parte de Gail e Jasmine, que no final das contas ainda estão sob o julgo dos brancos. A cena final, quando Gail olha ao seu redor e vê imagens idênticas às dos quadros de séculos atrás nas paredes convoca isso muito bem, mas no geral a trama não consegue criar com eficiência um clima de suspense ou temor em cima dessas ideias.

Além disso, o texto não oferece muito além da ideia de que estruturas racistas de outrora continuam em ação na contemporaneidade, não indo muito a fundo em seus temas. Sim, há o cuidado de explorar as interseccionalidades da questão racial, como as questões de classe social. Um exemplo é a cena em que Jasmine conversa com a professora Liv (Amber Gray), também negra, e a professora automaticamente supõe que Jasmine tem uma origem pobre, como que supondo que a garota, por ser negra, está ali apenas por causa de uma bolsa.

Essas tentativas de explorarem as nuances do debate racial, nem sempre são levadas adiante com consistência e algumas são passadas rápido demais pela trama. Um exemplo é a revelação de que Liv seria branca e estaria se passando por negra. É algo que poderia ser usado para falar de colorismo, de apropriação cultural, mas como vem muito perto do desfecho, é algo abordado e resolvido muito rapidamente, não sendo explorado a contento. 

Fantasmas do Passado parte de boas ideias e até tenta explorar vários aspectos da questão racial que tem como foco, mas a despeito de alguns bons momentos de tensão, não consegue trabalhar a contento todos esses elementos.

 

Nota: 6/10


Trailer


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