segunda-feira, 21 de março de 2022

Crítica – Red: Crescer é uma Fera

 

Análise Crítica – Red: Crescer é  uma Fera

Review – Red: Crescer é  uma Fera
Fazia tempo que a Pixar não fazia um filme tão maduro quanto este Red: Crescer é uma Fera, uma produção que pondera sobre as dores do amadurecimento e a complexidade das relações entre pais e filhos. A trama se passa no Canadá do início dos anos 2000 e é protagonizada por Meilin, uma garota de treze anos que sofre para atender as altas (e por vezes impossíveis) que a mãe, Ming, tem para ela. Um dia, depois de uma discussão com a mãe, Meilin se vê transformada em um enorme panda vermelho, descobrindo que isso é algo que acontece com as mulheres de sua família sempre que alcançam uma certa idade.

Meilin logo aprende a controlar a transformação e pensa em como conviver com ela, mas Ming acha melhor que a filha evite se transformar e pede que Meilin espere até o momento apropriado para um ritual que irá selar o panda dela para sempre. Aos poucos, no entanto, Meilin se questiona se quer se livrar dessa parte de si.

A ideia de uma transformação ligada a emoções extremas e a chegada da adolescência é uma clara metáfora para a puberdade (e a cor vermelha pode ser relacionada à menstruação). Digo isso tanto no sentido das transformações físicas da puberdade e dificuldade de conviver com essas mudanças e entender o próprio corpo, mas também das mudanças comportamentais da adolescência conforme os jovens começam a ser mais independentes, descobrir seu lugar no mundo e sair da proteção dos pais.

Nesse sentido é um período no qual certos conflitos são inevitáveis a partir do momento que o jovem começa a experimentar o mundo, explorar sua identidade e eventualmente comete erros, toma decisões ruins e faz besteira. Ao mesmo tempo, esse é um período em que deixamos de ver nossos pais com um olhar de idolatria e passamos a enxergar a humanidade neles, a perceber que eles não são os indivíduos oniscientes que sempre sabem o que fazer, mas que são pessoas falhas e com problemas como qualquer outra pessoa.

A relação entre Meilin e mãe claramente tem problemas e a cobrança que Ming faz à filha extrapola os limites do saudável, mostrando como mesmo bem intencionados um pai ou uma mãe podem sufocar os filhos com suas demandas excessivas. Do mesmo modo quando o filme explora o passado de Ming e a relação dela com a avó de Meilin percebemos que muitos dos problemas que Ming cometeu com a filha foram justamente para evitar que as tensões entre ela e a própria mãe se repetissem. É como se Ming, na fixação de não ser como a mãe, acabasse se tornando exatamente aquilo que ela temia ser, algo que muitos de nós percebemos na vida adulta, em como ficamos parecidos com nossos pais por mais que tentemos fugir disso. A trama é esperta em deixar que esse trauma geracional seja o conflito principal da trama (seria fácil inventar algum espírito maligno para ser antagonista) e mostrando a necessidade de diálogo e entendimento para superar tudo isso.

Logicamente o filme não se resume a toda essa bagagem emocional complexa, deixando espaço também para uma boa dose de humor, especialmente envolvendo a relação de Meilin com as amigas de escola e a obsessão delas com uma boy band que propositalmente soa similar a grupos como Backstreet Boys ou ‘NSync. Os segmentos em a que a protagonista se transforma em panda, além de adoráveis pela qualidade visual e a fofura do design da criatura, servem para mostrar Meilin deixando de lado a personalidade retraída que ela mantem para agradar a mãe e assumindo um lado mais espontâneo, mais aventureiro e divertido que a levam a outras experiências. Essas cenas ajudam a entender a decisão final da personagem de não se desfazer do panda e a abraçar essa faceta de si, demonstrando como é importante abraçar todas as facetas de nossa personalidade, mesmo reconhecendo os limites e problemas que elas, ao invés de simplesmente suprimir quem somos para agradar os outros.

Cheio de comédia, drama, afeto e encantamento, Red: Crescer é uma Fera é uma exploração cuidadosa do processo de amadurecimento e da complexidade das relações entre pais e filhos. É o melhor filme da Pixar desde Divertida Mente (2015).

 

Nota: 9/10


Trailer

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