Crítica – A Bolha

 

Dois anos de pandemia de COVID-19 e a impressão é que foram dois séculos. A verdade é que ainda não estamos completamente fora dela, ainda que as coisas soem mais seguras, e ainda é cedo demais para entendermos plenamente suas consequências, seja em termos de saúde, seja em termos sociais e psicológicos. Por isso é estranho que Hollywood e o diretor Judd Apatow tenham já resolvido parodiar a situação neste A Bolha.

A trama se passa em 2020, ainda no auge da pandemia e sem vacina, acompanhando a produção de um grande filme hollywoodiano que tenta ser feito a despeito das limitações sanitárias. Para realizar o filme, todo o elenco e equipe é confinado em um hotel, criando uma “bolha sanitária” na qual ninguém pode sair para tentar manter a contaminação sob controle. No centro de tudo está a atriz Carol Cobb (Karen Gillan) que retorna para a franquia de filmes de monstro que a tornou famosa depois de se recusar a fazer o anterior.

Há aqui uma tentativa tanto de parodiar as vivências durante a pandemia e o senso de auto importância da indústria do cinema que se julgavam estar salvando o mundo por estarem fazendo filmes durante uma calamidade global. O problema é que nenhuma das duas coisas funciona.

A tentativa de parodiar a experiência da pandemia soa simultaneamente datada e cedo demais. De um lado piadas sobre como as pessoas usam máscara errado ou incômodo de ter uma vareta com algodão enfiada dentro do nariz já foram alvo de piadas e memes em redes sociais nos últimos anos e até em outras produções, como os especiais pandêmicos feitos por South Park. Por outro, piadas sobre a agonia de ficar semanas trancado em casa ou as sequelas da doença acabam soando mais depressivas do que efetivamente engraçadas já que essas vivências ainda estão frescas em nossas mentes e corpos. É o tipo da coisa que poderíamos rir daqui a alguns anos, mas agora soa inadequado.

Sua outra frente é a de parodiar a futilidade e estrelismo das estrelas e executivas de estúdio, mas o filme não faz muito além de nos mostrar que são patéticos, carecendo de um olhar crítico mais ácido sobre isso como fez muito bem Ben Stiller em Trovão Tropical (2008). Aqui, no entanto, o filme passa duas horas repetindo para nós o quanto eles são fúteis sempre através do mesmo tipo de situação. Cada personagem tem uma única piada ao redor de si e nenhuma delas é particularmente criativa ou engraçada. Isso piora quando essas mesmas piadas são repetidas em loop ao longo das desnecessárias duas horas de projeção.

Talvez se a produção tivesse uns oitenta ou noventa minutos tudo ficasse menos cansativo, embora eu duvide que mesmo uma minutagem mais enxuta fosse capaz de resolver a natureza fragmentada e pouco coesa. Todo o filme mais parece uma colagem de cenas aleatórias que tentam (e falham) extrair alguma comicidade da situação de isolamento do que um conjunto coeso no qual cada segmento dialoga intimamente com o que vem a seguir. Outro problema é que assim como ocorreu com Não Olhe Para Cima (2021), Apatow conduz tudo com a certeza de que está acima de tudo que critica, não entendendo que é parte da mesma engrenagem que ele olha com tanto desdém.

É uma pena considerando o elenco talentoso composto por nomes como Keegan Michael Key, David Duchovny, Pedro Pascal, Peter Serafinowicz e tantos outros atores e comediantes talentosos que ficam presos a um material inane. A única personagem que conseguiu minimamente funcionar para mim foi a recepcionista interpretada por Maria Bakalova (a Tutar de Borat 2) que se apaixona perdidamente pelo personagem de Pedro Pascal. E se estão estranhando que eu esteja me referindo apenas aos nomes dos atores, é porque são personagens tão desprovidos de personalidade que nem consegui ter nada de memorável que me fizesse memorizar os nomes.

Mesmo com muita gente talentosa envolvida, A Bolha não consegue se elevar para além de uma paródia rasteira, arrastada, sem graça e desnecessariamente longa.

 

Nota: 2/10

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