A trama é baseada na história real de Tammy Faye Bakker, famosa televangelista que ganhou proeminência na década de 1970 e esposa do também televangelista Jim Bakker (Andrew Garfield). Juntos eles construíram um império televisivo, mas também foram alvo de várias polêmicas.
Baseado no documentário de mesmo nome, Os Olhos de Tammy Faye, como o título sugere, adere à perspectiva de Tammy. O problema é que há uma diferença entre assumir um ponto de vista específico de um personagem e aceitar acriticamente tudo que essa pessoa faz. O filme parece cair na segunda perspectiva. Tammy é certamente uma figura complexa. Ao mesmo tempo em que quebrou barreiras ao se tornar uma liderança feminina em um meio tomado por homens e se negou a recriminar a população LGBTQIA, Tammy também acreditava e ajudou a difundir a tacanha noção de teologia da prosperidade, não tendo nenhum problema em viver na opulência graças às doações de fieis mais pobres. Ela também parecia acreditar cegamente no marido apesar das constantes denúncias de que Jim se fraudava a igreja deles.
Embora a história traga várias evidências de que Tammy não via qualquer problema no predatismo financeiro da teologia que propagava, a trama a trata meramente como vítima de um marido trapaceiro e emocionalmente distante, não parando um minuto sequer para considerar o papel de cúmplice dela em tudo isso. É uma pena, porque os elementos para um interessante estudo de personagem estão presentes, mas o filme nunca os explora, preferindo ficar à superfície dessas questões. Não ajuda a velocidade com a qual a narrativa passa pelos eventos, saltando anos entre uma cena e outra, sem dar tempo dos eventos repercutirem devidamente. Mal Tammy tem um caso com seu produtor musical (a quem apelidei de “Bradley Cooper crente”), ela já terminou o caso, já foi descoberta e já moveu adiante.
Jessica Chastain, que venceu o Oscar de melhor atriz por seu papel aqui, faz o que pode com o material raso que tem em mãos e ao menos consegue conferir algum grau de humanidade a alguém que poderia descambar fácil para a caricatura graças a seus modos extravagantes e exagerada maquiagem. Já Andrew Garfield confere um carisma inescrupuloso a Bakker, tornando crível como ele conseguia arrebanhar pessoas apesar das múltiplas acusações de fraude (Bakker, por sinal, ainda está vivo e continua a ser um mercador da fé). Vincent D’Onofrio tem uma participação pequena, mas marcante, como um pastor ultraconservador que mostra como a retórica de guerra cultural e as estratégias de pânico moral já eram utilizadas por líderes evangélicos décadas atrás para instrumentalizar a religião como ferramenta de poder.
Apesar de mostrar as hipocrisias de líderes religiosos ultraconservadores e apontar as contradições
de sua protagonista, Os Olhos de Tammy
Faye nunca confronta plenamente esses elementos e se mostra um estudo de
personagem superficial.
Nota: 6/10
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