sexta-feira, 6 de maio de 2022

Crítica – Cavaleiro da Lua

 

Análise Crítica – Cavaleiro da Lua

Review – Cavaleiro da Lua
Tive minhas desconfianças quando os envolvidos com Cavaleiro da Lua, do diretor Mohamed Diab aos astros Oscar Isaac e Ethan Hawke, passaram a divulgação inteira se referindo à série como um estudo de personagem. Considerando o padrão das histórias dos filmes e séries da Marvel, no entanto, não imaginei que o produto final fosse levar isso a cabo, mas, de fato, os seis episódios colocam no centro o estudo da personalidade fraturada de seu protagonista. Isso, porém, não significa que a série seja livre de falhas.

Na trama, Steven (Oscar Isaac) é um pacato funcionário de museu que vê sua vida virar ao avesso quando começa a ser perseguido pelo misterioso líder de seita Arthur Harrow (Ethan Hawke). Aparentemente Harrow busca um artefato que lhe permitiria ressuscitar a cruel deusa egípcia Ammit e esse artefato estaria com Steven. A questão é que Steven tem uma personalidade alternativa, o aventureiro mercenário Marc Spector. Marc serve como avatar do deus Konshu (F. Murray Abraham) na Terra, se transformando no implacável Cavaleiro da Lua. Agora Marc/Steven precisa resolver sua personalidade fraturada ao mesmo tempo que impede Harrow de reviver Ammit.

O primeiro episódio já estabelece um claro tom anti-programático em relação ao que se espera de uma trama da Marvel. Todas as cenas de ação são abruptamente cortadas toda vez que Marc assume o lugar de Steven, com o personagem confuso em relação ao que aconteceu. Isso permite a trama focar nos dramas de seu protagonista, nas tensões entre ele e o deus Konshu e também no embate moral em relação a Harrow.

A série, no entanto, sofre de alguns problemas de ritmo, com alguns episódios movendo a trama principal enquanto que outros param completamente para se deter em um dos personagens. Assim nunca temos a sensação de uma narrativa fluida, embora seja louvável o esforço de fazer algo mais contido, tanto em termos de escopo, já que temos apenas três ou quatro personagens ao longo da temporada, quanto em termos de conexões com o resto do universo Marvel.

Oscar Isaac carrega a série ao apresentar de maneira convincente as duas personalidades do protagonista. Há muito mais diferenças perceptíveis entre Marc e Steven para além do sotaque de cada um. Isaac muda completamente sua linguagem corporal e modo de interagir com o mundo, o que nos ajuda a embarcar no drama de Marc/Steven. Ele mostra a confusão e jeito apalermado de Steven de maneira tão convincente quanto a melancolia e confiança de Marc.

Já Ethan Hawke surpreende como Harrow. Não pela qualidade de seu trabalho, já que Hawke é um ator sempre consistente em suas performances, mas por pegar um personagem que era originalmente um cientista louco genérico e torná-lo mais interessante que nos quadrinhos. Aqui Harrow é um dogmático líder de seita que acredita piamente que ressuscitar Ammit e livrar o mundo de todas as almas malignas é o melhor a se fazer. O extremo de sua crença nos é revelado já na primeira cena da série quando o vemos colocar cacos de vidro nas sandálias que ira calçar, como que em um ato de penitência. Por mais que acredite na retidão de sua missão, Harrow tem clareza das coisas horríveis que faz e sabe está longe de ser uma alma bondosa. Isso fica evidente no episódio final, quando ele diz a Ammit que pode levar a alma dele por saber que na avaliação da deusa ele seria maligno.

É uma pena, portanto, que como em outras séries da Marvel tudo seja deixado para ser resolvido no episódio final, o que resulta em um último capítulo que precisa se apressar para resolver tudo ao mesmo tempo que tenta finalmente entregar alguma ação com o Cavaleiro da Lua enfrentando Harrow e a luta entre Konshu e Ammit. As poucas cenas de ação que a série entrega acabam sendo seu ponto fraco. Não que sejam mal conduzidas, apenas não tem nada que realmente empolgue. Ao mesmo tempo, sofre com efeitos digitais abaixo do padrão das séries da Marvel no Disney+, com criaturas pouco convincentes a exemplo dos chacais invocados por Harrow ou a aparição de Hammit no episódio final.

Assim, Cavaleiro da Lua funciona como estudo de personagem graças ao trabalho de Oscar Isaac e Ethan Hawke, mas perde força por conta de problemas de ritmo e pelo final que precisa se conformar com certos elementos que são esperados de tramas de super-heróis, algo que também aconteceu com o recente Batman.


Nota: 7/10


Trailer

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