segunda-feira, 2 de maio de 2022

Crítica – Ozark: 4ª Temporada (Parte 2)

 

Análise Crítica – Ozark: 4ª Temporada (Parte 2)

Review – Ozark: 4ª Temporada (Parte 2)
A primeira parte da quarta e última temporada de Ozark acabou com um gancho que me deixou ansioso pelos derradeiros episódios da série. Felizmente a Netflix adiantou a estreia da segunda parte da temporada final, diminuindo o tempo de espera. Há sempre o temor que uma série não consiga fazer todas as peças se encaixarem ao final, mas felizmente Ozark entrega um desfecho coerente. Aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da temporada final.

Essa segunda parte começa no ponto em que a primeira parou. Com Ruth (Julia Garner) em busca de vingança contra Javi (Alfonso Herrera) depois dele ter matado Wyatt (Charlie Tahan) e Darlene (Lisa Emery). Claro, tudo isso representa um risco para os planos de Marty (Jason Bateman) e Wendy (Laura Linney), que posicionaram Javi como o sucessor de Omar Navarro (Felix Solis) no cartel e precisam dele para fecharem a parceria com a indústria farmacêutica que irá abastecer a fundação dos Byrde e permitir que se afastem do cartel.

Assim como na primeira parte, a trama é eficiente em dar a impressão de que a todo momento as coisas estão desmoronando para os Byrde. A impressão é que uma crise se entremeando na outra, tanto no nível do trabalho deles com o cartel, tanto a nível pessoal. Um exemplo é a chegada do pai de Wendy que insiste em fazer perguntas sobre o sumiço de Ben (Tom Pelphrey).

De início pensei que o pai de Wendy não fosse render nada de muito interessante, mas a presença dele permite tanto continuar o arco do detetive Mel (Adam Rothberg), como permite entender o passado de Wendy. Fica evidente desde o início que o pai dela não dá a mínima para saber o que houve com Ben e seu objetivo principal é apenas desmoralizar a filha com quem tem uma péssima relação. Nas interações com Wendy é possível ver como muito de sua desfaçatez e capacidade de manipulação vem do pai, sendo capaz de, assim como ele, simular uma aparência de virtude e correção mesmo sendo podre por dentro.

Por outro lado, a série derrapa ao fazer Wendy convenientemente agir como uma idiota ao sugerir a irmã de Omar (e mãe de Javi), Camila (Veronica Falcón), para liderar o cartel ao invés de Marty. A essa altura ela e o marido já sabiam que Camila estava por trás das tentativas de sabotar o cartel e matar Omar, então não fazia sentido que justamente Wendy, sempre implacavelmente pragmática, fosse colocar uma possível ameaça naquela posição quando Marty já tinha se mostrado capaz de dar conta. Em outros momentos há o problema de certos eventos que acontecem apenas para efeitos de choque gratuito, como o acidente de carro em que os Byrde se envolvem no penúltimo episódio. É algo que acontece do nada e acaba não servindo a propósito algum.

Já Marty começa a ter que fazer concessões que até então não tinha feito para manter vivo o sonho de construir uma existência longe do cartel. Se antes ele evitava violência e tentava resolver as coisas de outros modos, aqui ele se resigna a matar ou deixar aliados morrerem para se beneficiar. É algo que, de certa forma, completa o arco de corrupção moral do protagonista, abandonando todos os princípios para conseguir o que quer. A jornada de Marty também remete ao primeiro ano da série e como a decisão de ir para a região de Ozark era uma tentativa de se reconectar com a esposa, cujo casamento havia esfriado e ela estava com um amante.

Ao retomar essas ideias, a última temporada lembra que, sob certo aspecto, essa é uma história de amor. Sim, não é um amor lá muito saudável ou edificante visto que os Byrde são pessoas horríveis, embora ainda assim seja o amor que move Marty a fazer todas as concessões que faz. Se em Breaking Bad Walter White terminava admitindo que fez tudo por si mesmo, que a família era uma desculpa, aqui é o inverso, com Marty e o público entendendo ao fim que ele fizera tudo para manter a família unida. O que logicamente não perdoa nem justifica todas as atrocidades que cometeram.

Ruth, por sua vez, acaba sendo o componente mais trágico deste último ano. Tendo perdido tudo e se esforçando para se reerguer, o final dela ilustra o desencanto da trama com as estruturas de poder da sociedade. Desde o início a trama nos mostrava que estávamos entrando em um universo comandado por dinheiro, poder e influência, um universo onde ricos sempre prosperam e os mais pobres não tem vez.

O desfecho de Ruth não apenas sedimenta essas ideias como também simboliza a completa devastação que os Byrde fizeram na região. Ruth e toda a sua família foram direta ou indiretamente eliminados pelas ações dos Byrde. Que não tenha restado ninguém apenas demonstra como Wendy e Marty destruíram tudo em seu caminho para alimentarem as próprias ambições. Essa sensação amarga de que corruptos triunfam e não há nada que possa ser feito se estende até a cena final da série, quando Wendy admite sorrindo que ela e a família sairão ilesos antes de eliminar o último obstáculo que resta. É um desfecho sombrio e pessimista, coerente com o olhar que a série construiu até aqui sobre o funcionamento da nossa sociedade e a corrupção moral que nos governa.

 

Nota: 8/10


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