A trama se passa cerca de cinco anos depois de A Vingança dos Sith (2005). Obi-Wan (Ewan McGregor) está exilado em Tatooine, tentando se esconder do Império enquanto vigia um jovem Luke Skywalker. Problemas surgem quando os Inquisidores, investigadores do Império cuja missão é caçar Jedis, chegam a Tatooine em busca de outro Jedi escondido no planeta. Obi-Wan tenta se manter escondido, mas se coloca na mira de Reva (Moses Ingram), uma das inquisidoras. Reva organiza um sequestro da jovem Leia (Vivien Lyra Blair) para usar como isca para Obi-Wan, sabendo que Bail Organa (Jimmy Smits) confiaria o resgate apenas ao veterano Jedi.
A série consegue transmitir o clima de medo e opressão constante de viver sob o julgo do Império, principalmente para um Jedi em fuga. A cena inicial do primeiro episódio em que o Grande Inquisidor (Rupert Friend) discursa sobre o fato de que Jedis caçam a si mesmos por não conterem a própria bondade evoca uma tensão semelhante à cena inicial de Bastardos Inglórios (2009).
Do mesmo modo, o momento do terceiro episódio em que Obi-Wan e Leia pegam carona com um pacato homem-toupeira apenas para descobrirem que ele é um apoiador do Império lembra como o fascismo se esconde sob a guisa da gentileza. O instante em que a dupla vê a bandeira imperial na caçamba do speeder serve como um sombrio lembrete de como o “cidadão de bem” pode tranquilamente aderir ao fascismo e que mesmo aquele seu vizinho gente boa poderia ser capaz de te entregar para um regime autoritário para ser torturado e morto.
Ewan McGregor é ótimo em construir um Obi-Wan traumatizado, amargurado pela culpa do fracasso em relação à queda dos Jedi e a guinada sombria de Anakin (Hayden Christensen). Ele está quase desconectado da Força e de tudo que outrora valorizava. A jornada dele é a de fazer as pazes com o passado, entendendo que Anakin fez suas próprias escolhas, e reencontrar seu propósito. A garota Vivien Lyra Blair consegue evocar uma jovem Carrie Fisher, trazendo o senso de correção moral e a confiança por vezes petulante de Leia.
Por sua vez, Moses Ingram é a personagem com mais complexidade como Reva. Uma inquisidora obcecada pela aprovação de Darth Vader e por obter algum tipo de vingança contra Obi-Wan. Ao sabermos do passado dela, percebemos o peso das ações de Anakin no extermínio dos Jedi em A Vingança dos Sith. Reva, assim como o próprio Anakin, se coloca em um caminho sombrio não por ser essencialmente cruel, mas por crer que apenas um grande poder a fará superar seus traumas.
Hayden Christensen é usado de forma breve, mas significativa, como Anakin/Vader. Os momentos em que Vader está em cena reforçam o poder irrefreável do personagem e como poucos conseguem ser páreo para ele. Ao mesmo tempo, as aparições do personagem servem para mostrar como o ressentimento de Anakin com os Jedi e Obi-Wan ainda move o jovem lorde Sith. Há inclusive um flashback de Obi-Wan e Anakin treinando que ajuda a entender porque Anakin acreditava que Obi-Wan estava segurando o seu progresso. O flashback é alternado com o presente em que vemos Obi-Wan mais uma vez usar astúcia e estratégia para superar Vader, mostrando como a busca por poder do jovem Sith ilustra o quanto ele não ouviu os ensinamentos do antigo mestre.
O climático confronto entre Vader e Obi-Wan no final é um intenso duelo que mostra o poder de ambos os personagens e demonstra como Anakin já se afundou na persona de Vader, dando um novo contexto à fala de Obi-Wan na trilogia original sobre Vader ter matado Anakin. Mais que isso, a luta ressalta como o ódio cego de Anakin não é páreo para a serenidade estratégica de Obi-Wan, que usa tanto a mente quanto o corpo para superar o oponente. O momento em que Obi-Wan vê o rosto deformado de Anakin sob a máscara partida de Vader (e os diálogos misturam as vozes de Hayden Christensen e James Earl Jones) revela o quão pouco sobrou de seu antigo discípulo, ainda que a decisão de Obi-Wan em abandonar o Vader ferido quando minutos antes estava disposto a tudo para detê-lo não soe plenamente convincente, acontecendo mais pela necessidade de seguir o cânone do que qualquer outra coisa.
Aliás, a cronologia previamente estabelecida acaba sendo um inevitável grilhão para a série. Como o roteiro escolhe por fazer a maioria dos conflitos girarem em torno de personagens que sabemos estarem vivos e bem mais adiante, muitos episódios carecem de tensão ou urgência. Quando Obi-Wan se infiltra em uma base imperial para resgatar Leia no quarto episódio, temos certeza do sucesso porque sabemos que Leia está viva. Quando Reva vai a Tatooine atacar o jovem Luke em uma desesperada tentativa final de vingança sabemos que ela sequer vai chegar perto do garoto porque nada disso é mencionado na trilogia original. Até a reviravolta envolvendo o Grande Inquisitor não tem qualquer impacto porque qualquer um que assistiu a série Star Wars Rebels sabe que o líder dos Inquisidores está vivo lá.
A série também falha em remeter a alguns ganchos óbvios deixados em A Vingança dos Sith. O principal envolve a fala de Yoda sobre Obi-Wan treinar para ser capaz de se conectar com o falecido Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) que teria encontrado uma maneira de interagir com o plano material mesmo depois de morto. Aqui esse gancho só é abordado nos minutos finais, com uma aparição gratuita de Qui-Gon que não é devidamente construída e não tem impacto algum. Claro, talvez uma possível segunda temporada possa explorar isso e como Obi-Wan teria aprendido com o antigo mestre como “retornar” da morte, usando isso contra Vader na trilogia original. A questão é que não vejo material suficiente para justificar uma segunda temporada aqui.
Com um elenco competente e bons
momentos que aprofundam seus personagens, Obi-Wan
Kenobi acaba apresentando um todo menor que a soma de suas partes, não conseguindo
explorar plenamente todo seu potencial.
Nota: 6/10
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