quarta-feira, 15 de junho de 2022

Crítica – Palm Springs

 

Análise Crítica – Palm Springs

Review – Palm Springs
A demora de Palm Springs em receber um lançamento oficial no Brasil é um daqueles casos inexplicáveis de distribuidoras e plataformas digitais deixando um filme ótimo (e bastante elogiado lá fora) passar enquanto catálogos digitais e salas de cinema recebem porcarias. A essa altura muita gente que estava ciente do filme provavelmente já viu pirateado por conta da demora em chegar aqui, então as instâncias de distribuição só tem a perder demorando de trazer um filme para nosso mercado.

Na trama, Nyles (Andy Samberg) é um sujeito despreocupado que tenta aproveitar o casamento de uma amiga da namorada quando conhece a dama de honra Sarah (Cristin Milioti). Os dois passam a noite conversando até o ponto em que Nyles é perseguido por um estranho homem e Sarah tenta ajudá-lo, mas acaba atravessando um estranho portal dentro de uma caverna. Para a surpresa de Sarah, ela acorda de volta no dia do casamento da irmã e descobre não apenas que está em um loop temporal, mas que Nyles está há tempos preso nesse mesmo loop. Assim, os dois tentam pensar em como quebrar o ciclo ao mesmo tempo em que tentam experimentar essa vida sem consequências.

Impressiona como a narrativa consegue transitar com naturalidade entre comédia, drama, existencialismo e completo absurdo. Enquanto presos no loop temporal Nyles e Sarah ponderam sobre o que fazer com a eternidade que tem em mãos e o propósito da vida num espaço em que não há consequência ou continuidade. Do mesmo modo, o loop serve como uma metáfora para a estagnação das vidas de ambos até aquele ponto. Nyles está preso em um relacionamento superficial com uma namorada que não o ama e o trai constantemente. Sarah repete hábitos tóxicos, como ter um caso com o noivo da irmã, Tala (Camila Mendes).

Estar no loop é uma maneira confortável para que ambos não precisem tomar decisões difíceis nem lidem com qualquer consequência para suas ações, o que afeta ambos de maneiras diferentes. De um lado Nyles abraça a falta de consequência e apensa tenta se divertir. Do outro, Sarah passa a ressentir o fato de ter que acordar todo dia ao lado de Abe (Tyler Hoechlin), o noivo da irmã, sendo lembrada de suas péssimas decisões pela eternidade. A trama, portanto, acaba sendo um lembrete da importância do tempo em nossas vidas e como a finitude de nossa existência é o que nos dota de significado.

Claro, para além de todo o existencialismo também há momentos de puro entretenimento. Os segmentos em que Nyles é perseguido por Roy (J.K Simmons), por exemplo, parecem saídos de um desenho dos Looney Tunes. A maneira como Nyles e Sarah exploram a ausência de consequência explora de maneira criativa as possibilidades de um loop temporal e rende momentos divertidos de humor físico, como a cena em que Tala quebra os dentes.

O que sustenta o filme, no entanto, é a dinâmica entre Nyles e Sarah. Andy Samberg é ótimo no mesmo tipo de idiota adorável que fez tão bem em Brooklyn Nine Nine, trazendo a natureza relaxada de Nyles. Já Cristin Milioti constrói Sarah como uma mulher que se sente presa em seus maus hábitos e vê o loop como uma prisão, ainda que aos poucos enxergue sua conexão com Nyles como uma fuga de tudo isso. Ambos são muito bons em mostrar a conexão crescente entre Nyles e Sarah, que se apaixonam conforme dividem a eternidade do loop, e desenvolvem uma química bastante sincera. O desfecho e o modo como tudo se encerra soa meio aleatório e tenta explicar demais algo que nem precisaria de muita explicação, embora combine com o clima absurdista da produção.

Mesclando com muita habilidade comédia, drama, romance e existencialismo Palm Springs é o melhor filme de loop temporal desde Feitiço do Tempo (1993).

 

Nota: 8/10


Trailer

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