terça-feira, 26 de julho de 2022

Crítica – Boa Sorte, Leo Grande

 

Análise Crítica – Boa Sorte, Leo Grande

Apesar do título, Boa Sorte, Leo Grande é mais sobre a viúva interpretada por Emma Thompson do que o personagem. Não chega a ser um problema grande, que o torne um produto ruim, mas deixa a impressão de que o personagem não tem todo o seu potencial aproveitado. O que fica é uma exploração cheia de sensibilidade dos tabus sexuais sob os quais boa parte da população vive.

A trama é focada em Nancy (Emma Thompson) uma viúva de 55 anos que resolve contratar um garoto de programa, Leo Grande (Daryl McCormack), para experimentar com a própria sexualidade, já que nunca teve outro parceiro além do finado marido e nunca teve um orgasmo. De início ela se mostra arredia em se entregar completamente, mas ao longo dos encontros com Leo vai se conectando a ele e ambos vão se abrindo para o outro.

Nancy é tão tomada por culpa ou pelo sentimento de que está fazendo algo errado que enche Leo de perguntas sobre seu passado ou suas motivações na esperança de encontrar algo repreensível naquele jovem que está ali para servi-la ou na situação em si. Ela está tão convencida da natureza abjeta de suas ações que busca algo de vulgar, sujo ou imoral nas ações de Leo por ter sido convencida a vida toda de que sexo e prazer eram coisas das quais deveria ter vergonha.

Além de atraente Leo é articulado, charmoso e parece realmente gostar do que faz, sendo diferente de tudo que Nancy esperava. É como se a protagonista não tivesse entrado naquela experiência realmente querendo sentir prazer, mas buscando uma decepção, como se esperasse que Leo fosse um vagabundo qualquer que lhe desse mais uma transa ruim e confirmasse todas as suas ideias pudicas sobre sexo. Ela claramente se sente atraída por ele, mas confusa (e talvez até incomodada) pela empatia e compreensão que o rapaz demonstra.

Nesse sentido Emma Thompson é ótima em inicialmente apresentar as neuroses e inseguranças de Nancy, que a todo o momento interrompe Leo como que disposta a encerrar todo o encontro. A atriz vai nos fazendo perceber a cada encontro como e relação com Leo muda a forma de encarar sexo, sexualidade e seu próprio corpo. No segundo encontro já mais solta e aberta, ela propõe uma série que Leo logo percebe que não a deixam confortável.

Se antes Nancy encarava tudo com culpa e repulsa, no segundo momento as coisas lhe parecem pragmáticas demais. Ela deve fazer aquilo que todos os outros dizem ser prazeroso independente de seu interesse ou desejo pessoal. Sexo passa de algo abjeto para uma espécie de obrigação e a atitude dela continua a ser de alguém em uma posição defensiva buscando razões para justificar uma vida de retração e frustração sexual.

Quando reencontramos Nancy no terceiro ato ela já é uma mulher mais confiante, menos culpada e mais em sintonia com o corpo. Não é a toa que a deixemos com a imagem de um corajoso nu frontal, mostrando a auto aceitação da protagonista e a liberdade sexual que ela finalmente atingiu. Todas essas mudanças e etapas são muito bem construídas na performance de Thompson, soando como desenvolvimentos genuínos da personagem.

Por sua vez Leo soa como uma figura demasiadamente romantizada em muitos momentos. Por mais que o filme eventualmente mostre as barreiras que ele enfrenta na vida pessoal por conta da profissão, o retrato que o filme faz do trabalhador sexual é o de uma vida de glamour, sexo e refinamento. O texto chega a dizer que Leo é uma fantasia, mas como essa fantasia nunca é desvelada por inteiro a impressão, distante da realidade dos trabalhadores (e trabalhadoras) do sexo é de que tudo é lindo.

Mesmo com os desenvolvimentos sobre o passado de Leo, o material não abandona a impressão de que esses elementos são postos mais para mover a história de Nancy do que a de Leo, com toda a questão entre Leo e a mãe sendo, por exemplo, um meio para fazer Nancy reavaliar sua própria relação com sexualidade. Claro, Daryl McCormack traz um charme, um magnetismo e um ar de mistério a Leo que o torna intrigante e nos faz compreender porque Nancy fica tão fascinada com ele. McCormack também é eficiente em nos mostrar o lado mais resguardado de Leo e como, assim como Nancy, ele também tem suas próprias barreiras emocionais erguidas para lhe proteger de mais decepções. Por trás da confiança e charme de Leo o ator nos faz vislumbrar a carência afetiva que o acomete.

Com sensibilidade e franqueza, Boa Sorte, Leo Grande é um envolvente estudo de personagem que reflete sobre os tabus femininos envolvendo sexo e idade, ainda que haja um desequilíbrio na atenção que dá aos dois protagonistas.

 

Nota: 7/10


Trailer

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