Nessa última temporada Eve (Sandra Oh) está obcecada em encontrar e destruir os Doze, uma cabala sombria de operativos que manipulam nas sombras eventos globais. Ao mesmo tempo, Villanelle (Jodie Comer) tenta se tornar uma pessoa melhor, se juntando a uma comunidade religiosa. Konstantin (Kim Bodnia), por sua vez, treina uma nova assassina para substituir Villanelle no trabalho para os Doze em Pam (Anjana Vassan).
O primeiro grande problema é o foco nos Doze, um grupo de vilões sem rosto, com motivações vagamente definidas, pouca clareza de ações ou uma delimitação clara dos riscos ou da necessidade urgente de deter esse grupo. Claro, entendemos a necessidade de vingança de Eve por saber tudo que ela sofreu nos últimos anos, assim como entendemos que Villanelle queira viver livre deles. Ainda assim, como não sabemos nada sobre eles, o que querem ou como chegar neles, tudo soa vago e desinteressante, sendo difícil se envolver no fio narrativo principal da temporada. Mesmo quando a série nos apresenta a alguns membros dos Doze, como Helene (Camille Contin), eles não passam de operativos inescrupulosos genéricos para provocarem qualquer engajamento.
O arco de Villanelle em tentar entender seus próprios impulsos homicidas e buscar algum senso de normalidade soa como uma repetição do que vimos a personagem fazer na temporada anterior ao buscar sua família biológica. Jodie Comer permanece excelente na construção do sadismo psicopata da assassina, bem como sua paixão quase que infantil por Eve, porém a temporada não consegue fazer nada de interessante com a personagem. Mesmo os momentos de humor, como as conversas de Villanelle com “Jesus” ou a cena em que Eve canta Chandelier em um karaokê são insuficientes para salvar uma temporada tão criativamente inane.
A trama de Konstantin com Pam serviria para mostrar como os Doze pegam jovens solitárias, vulneráveis e com agressividade impulsiva para torná-las máquinas de matar. É possível ver como Pam aos poucos se torna mais implacável, mas exibe um claro afeto em relação a Konstantin, considerando-o quase como uma figura paterna. Como outras tramas dessa temporada, no entanto, nunca leva a algum lugar envolvente. Pam acaba tendo pouco impacto na trama principal da temporada e Konstantin é despachado de uma maneira anticlimática.
As coisas desabam mesmo no episódio final. Depois de uma temporada inteira construindo os Doze como essa grande ameaça, Villanelle os elimina de maneira tão rápida e fácil que nos perguntamos porque eles mereciam ser os antagonistas da temporada final. O pior, no entanto, são os últimos minutos quando Villanelle e Eve são inesperadamente baleadas.
Meu problema com esse desfecho nem é a frustração de uma expectativa em ter Eve e Villanelle ficando juntas em um final feliz. Eu entendo a decisão de matar Villanelle, afinal ela foi uma assassina cruel que matou brutalmente centenas de pessoas, então encerrar com ela “pagando” com a própria vida pela trajetória de violência que teve não seria incoerente. O meu problema é o modo gratuito e porcamente construído como tudo é feito. Do jeito que está a morte de Villanelle não traz nada para narrativa dela, de Eve ou de Carolyn (Fiona Shaw), que deu a ordem para o atirador.
Se Villanelle tivesse visto o reflexo de luz da lente do atirador e voluntariamente se colocado na frente de Eve para tomar o tiro, a morte ao menos teria algum significado. Mostraria não apenas o afeto da assassina por Eve, mas o amadurecimento dela ao longo da série, que se humanizou tanto ao ponto de se sacrificar pelo objeto de sua afeição. Do jeito que é feito, porém, parece um expediente gratuito para terminar a série com um grande choque que não tem nada a dizer sobre a jornada de Villanelle ou Eve. Na verdade sequer há um senso claro de conclusão, mais parecendo um gancho para uma próxima temporada ou spin-off do que uma verdadeira despedida para esses personagens.
Desinteressante, repetitiva e com
muito pouco a dizer sobre suas personagens principais, a quarta temporada de Killing Eve é um desfecho indigno para
uma série que começou como uma das melhores dos últimos anos.
Nota: 4/10
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