Depois dos eventos do ano de estreia, Verônica (Tainá Muller) forjou a própria morte e vive sob uma identidade falsa investigando o grupo criminoso por trás do orfanato Cosme e Damião. Ela chega ao provável líder do grupo no pastor Matias (Reynaldo Gianecchini), que usa sua igreja pra prospectar mulheres vulneráveis e abusar delas. Em meio a isso está Angela (Klara Castanho), filha do pastor que aos poucos começa a desconfiar que há algo errado acontecendo em sua casa e com as mulheres que o pai traz para fazer rituais de “cura”.
Como no ano de estreia o caso principal, aqui a investigação em Matias, é permeado por personagens envolventes e boas interpretações. Gianecchini está sinistro como Matias, um sujeito de fala suave que consegue convencer as pessoas de qualquer coisa e usa da fé para manipular seus fieis. Mesmo nos momentos em que ele abusa de outras mulheres ou da filha é desconcertante como ele mantem a serenidade, como se tudo fosse incrivelmente normal para ele.
Klara Castanho, por sua vez, faz de Angela uma jovem cheia de problemas de ansiedade. Inicialmente por conta das cobranças dos pais em ser a filha que eles esperam, mas conforme a trama progride e ela vai descobrindo novas informações sobre a família, a possibilidade dos pais serem monstros é outro fator que causa sofrimento à garota. Uma sobrecarga de sentimentos tão grande que em muitos momentos paralisa a adolescente, como se ela não conseguisse lidar com tudo aquilo e tentasse impedir os sentimentos de virem a tona. O gesto de engolir os botões da roupa soa quase como um autoflagelamento pelos pensamentos sobre os pais serem pessoas horríveis.
Nesse sentido, preciso apontar também a habilidade de Camila Márdila em construir a ambiguidade de Gisele, a esposa de Matias. De início a frieza com a qual Gisele trata a filha parece evocar a frustração de uma mãe conservadora com uma filha que não atende a suas expectativas de perfeição. A maneira por vezes hostil com a qual Gisele rebate as tentativas da garota em saber mais sobre os rituais de cura soa motivado pelo temor que a garota ponha todo o esquema a perder, dando a impressão de que Gisele voluntariamente toma parte e concorda com aquilo. Conforme descobrimos novas informações sobre a família, porém, vemos Gisele sob uma nova luz e percebemos as intenções subjacentes da composição de Márdila por trás da aparente frieza da mulher do pastor.
Por outro lado toda a questão da conspiração de uma organização sombria que infiltra funcionários da infraestrutura de poder da cidade continua soando exagerada demais para o resto da série. Considerando que o caso envolvendo Brandão (Eduardo Moscovis) na temporada anterior ganhou a mídia, é difícil comprar a ideia de que ele não seria investigado com um microscópio pela imprensa e o passado dele no Maranhão ao lado de Matias e do misterioso terceiro irmão não seria descoberto por ninguém. O problema é justamente que esse tipo de trama conspiratória com figuras tipo “illuminati” operando das sombras não casa com a narrativa sobre violência contra a mulher ou manipulação da fé, elementos que associamos ao nosso cotidiano do mundo real, e assim nunca consigo ficar investido nessa trama maior da conspiração.
Como tudo é muito focado em Verônica e no núcleo da família de Matias, isso implica que muitos personagens não tem atenção devida e alguns elementos acabam não tendo a devida repercussão. Um exemplo é a morte de Nelson (Silvio Guindane). Era de se esperar que um policial morto num atendado a bomba fosse algo que mobilizasse a polícia e a imprensa, mas não parece haver qualquer repercussão. Do mesmo modo, o assassinato do pai de Verônica é outro evento com repercussões pouco exploradas.
A segunda temporada de Bom Dia, Verônica vale pelo envolvente
mistério principal e os personagens contidos nele, mas a série continua a não
achar o tom certo para a sua narrativa conspiratória.
Nota: 7/10
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