A trama é focada em Briggs (Channing Tatum) um ex-soldado com dificuldades em reconstruir a vida depois de voltar a ser civil. Quando um companheiro de farda morre em um acidente, o antigo comandante de Briggs pede a ele que transporte Lulu, uma cadela de resgate treinada pelo amigo morto, para o funeral dele. Como Lulu também foi muito afetada pela experiência de guerra, Briggs não pode levá-la de avião. Agora ambos vão pegar a estrada em uma viagem que logicamente obrigará o protagonista a lidar com os traumas passados.
De certa forma a trama segue à risca a fórmula da dupla que se detesta, mas aos poucos vai aprendendo a conviver. De início Lulu é constantemente agressiva com Briggs e qualquer um que se aproxime dela, mas os desafios da estrada os fazem se conectar. Como todo road movie a trama progride por uma série de encontros fortuitos ao longo da viagem, no entanto, mesmo considerando a poética desse tipo de narrativa, algumas situações são convenientes ou destoantes demais.
O momento em que Briggs é atacado e amarrado por um fazendeiro de maconha é tão fora do tom do restante do filme que cheguei a pensar se tratar de um delírio provocado por estresse pós-traumático. Do mesmo modo, o conveniente roubo dos pertences no carro de Briggs quando ele visita um companheiro de farda parece colocado apenas para que a trama tenha um meio de exibir as habilidades de rastreio de Lulu e também sobre como o trauma de guerra é irreparável para algumas pessoas.
Por outro lado, o filme acerta na desconstrução da postura de machão ao longo da trama. Inicialmente ele adere aos clichês do soldado durão, que acha que terapia é coisa de fresco e que as experiências ruins de guerra são algo normal que não impactam sua vida tanto quanto dizem. O contato com Lulu (e outros encontros ao longo da viagem) o fazem confrontar isso e perceber que engolir os traumas a seco só está piorando as coisas. Tatum exibe uma ótima química com a cadela que “interpreta” Lulu, sendo difícil não se emocionar com as interações entre eles ao final. Essa trama, no entanto, não está livre de problemas, principalmente pela maneira causal com a qual Briggs se refere às várias pessoas que matou e também porque o filme nunca questiona o estatuto da guerra em si.
Tudo é enquadrado sob a típica retórica militarista estadunidense de que eles estavam cumprindo seu dever com a pátria, sem ponderar sobre o intervencionismo estadunidense em outros países ou o fato de que todas as incursões no Oriente Médio nos últimos anos não resolveram nada. Ao invés de olhar o belicismo do país como raiz para todos esses traumas, que afetam até animais como Lulu, que nada tem a ver com maquinações humanas, tudo que acontece com esses personagens soa como um mero obstáculo encontrado no caminho de “fazer a coisa certa”. Em nenhum momento esses personagens pensam que talvez eles devessem estar em guerra.
Dog: A Aventura de Uma Vida acerta na construção da dinâmica entre
o protagonista e seu cachorro, sustentando a narrativa mesmo quando o texto
simplifica questões complicadas envolvendo o pensamento belicista
estadunidense.
Nota: 6/10
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