segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Crítica – Turma da Mônica: A Série

 

Análise Crítica – Turma da Mônica: A Série

Review – Turma da Mônica: A Série
Depois de dois filmes, Turma da Mônica: Laços e Turma da Mônica: Lições, a trilogia live-action da turminha criada por Maurício de Souza se encerra neste Turma da Mônica: A Série, feita para a Globoplay. Tinha minhas dúvidas se o material iria funcionar no contexto de uma série, mas felizmente o resultado é tão bom quanto os filmes.

A trama gira em torno de descobrir quem sabotou a festa da Carminha Frufru (Luiza Gattai), com a fofoqueira do bairro, Denise (Becca Guerra), assumindo a investigação e interrogando as crianças do local. As suspeitas, claro, recaem sobre Mônica (Giulia Benite) e sua turma, já que eles não se davam bem com a garota. Devo confessar que, de todas as possibilidades de contar uma história da turminha, uma trama investigativa/policialesca seria a última coisa que imaginaria, principalmente com um mistério tão bem manejado.

Claro, quem conhece a história e o universo da turminha vai conseguir perceber com certa antecedência quem estava por trás de tudo, no entanto, saber o real culpado não significa que o desenvolvimento da trama não tenha suas surpresas. Cada episódio é centrado no testemunho de um dos personagens envolvidos, nos dando a perspectiva dessa pessoa para os eventos e permitindo que pouco a pouco montemos o quebra cabeça.

Há certa sensação de redundância conforme a trama progride e acompanhamos os mesmos eventos de novo e de novo apenas com pequenos acréscimos de informação. O que impede tudo de se tornar entediante é o carisma dos personagens e o claro afeto que toda a produção tem pelo universo criado por Maurício de Sousa, bem como o entendimento necessário para transpor esses personagens para um contexto um pouco mais realista.

Se peculiaridades como a gula da Magali (Laura Rauseo) ou a recusa de Cascão (Gabriel Moreira) em tomar banho eram tratadas apenas como dispositivo cômico nos quadrinhos, aqui são elementos explorados no modo como impactam as relações deles com outros personagens. Em Lições já tinha sido explorado como a fome de Magali tinha um fundo de ansiedade e aqui há um pouco mais de aprofundamento nisso. Do mesmo modo, o medo de água de Cascão é explorado como um elemento que prejudica a sociabilidade do garoto e das dificuldades dele em superar isso.

Se nos quadrinhos esses personagens vivem uma eterna infância, no audiovisual (principalmente por acompanharmos visivelmente o crescimento do elenco) se torna inevitável que esses personagens se desenvolvam, aprendam e mudem. Há um equilíbrio delicado entre mover um personagem adiante e tirar dele sua essência, no entanto, a série caminha bem por esse fio da navalha, trazendo desenvolvimentos significativos que impactam os personagens e emocionam o espectador sem afastar os personagens daquilo que os torna tão singulares.

A série ainda acerta ao evitar maniqueísmos simplórios e mostrar sua antagonista como alguém com suas próprias ansiedades e inseguranças, cujo comportamento manipulativo e autoritário vinha da relação ruim com a mãe e de como ser criada para não “demonstrar fraqueza” a tornou uma pessoa solitária. As revelações sobre Carminha nos ajudam a pensar como bullying e maus tratos são um círculo vicioso, com crianças que exibem esse tipo de conduta muitas vezes repetem exemplos que veem em casa. Do mesmo modo, o confronto com Feitoso (Pedro Caruso) mostra como um valentão pode ser desarmado se tirarmos dele o poder de nos incomodar.

De certa maneira Feitoso e Carminha são lados diferentes da mesma moeda. Se a garota conseguiu admitir seus problemas e resolvê-los por conta do afeto dos amigos que conheceu, Feitoso passou a vida sozinho e se afundou em seus ressentimentos. A introdução de Feitoso também é uma maneira criativa de lidar com alguns personagens e aspectos que pendiam mais para a fantasia nos quadrinhos, trazendo o Capitão Feio para um universo mais realista.

Com um mistério envolvente, personagens carismáticos e uma mensagem bem construída sobre infância e amizade, Turma da Mônica: A Série é mais uma ótima adaptação do universo criado por Maurício de Sousa.

 

Nota: 8/10

 

Trailer

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