A trama se passa no ano de 1838, sendo narrada por um escritor que reconta os eventos de como a peste assolou a pequena cidade Wisborg. O jovem Hutter (Gustav von Wangenheim) é incumbido pelo chefe a viajar até a Transilvânia para realizar uma venda de imóveis ao misterioso Conde Orlok (Max Schreck). Lá, Hutter descobre que Orlok é um sujeito sinistro e o Conde se encanta pela esposa de Hutter, Ellen (Greta Schröder) ao vê-la em uma foto. Assim o Conde decide comprar uma propriedade próxima à de Hutter e sua chegada traz desgraça para a pequena cidade.
Como é possível ver por esse breve sumário, a trama é basicamente uma adaptação do Drácula escrito por Bram Stoker, levando aos cinemas o folclore de vampiros. O roteiro de Nosferatu, por sinal, foi escrito por Henrik Galeen, responsável por incursões anteriores do cinema alemão no gênero do horror, tendo trabalhado em O Estudante de Praga (1913) e escrito o roteiro de O Golem (1920).
Como se trata de um filme mudo, cujos diálogos são transmitidos em cartelas de texto, é nas imagens que ele se apoia para a construção de sua atmosfera de tensão. Nesse sentido, a produção comandada por Murnau é bastante tributária da estética do movimento expressionista alemão. O expressionismo é um termo que designava uma corrente da arte moderna popular na Alemanha durante o período da República de Weimar. Especificamente no cinema, o primeiro grande marco da estética expressionista foi O Gabinete do Dr. Caligari (1921), lançado um ano antes de Nosferatu.
Aqui, a influência do expressionismo se vê nas formas angulosas e curvas do castelo de Orlok, que servem para refletir a natureza distorcida do seu ocupante e também contrastar com um certo bucolismo das imagens da vila de Hutter antes de sua ida para a Transilvânia. Os contrastes entre luz e sombra são outro elemento constante na visualidade da obra, com uma das primeiras imagens de Orlok sendo a dele saindo de um túnel completamente tomado por escuridão, deixando evidente que o vampiro é uma criatura que emerge das trevas. O modo como câmera acompanha contornos distorcidos da sombra que Orlok projeta nas paredes amplia seu caráter monstruoso, fazendo parecer uma ameaça ainda maior. A maquiagem usada por Max Schreck distorce as formas de seu rosto, lhe conferindo olhos esbugalhados, longas unhas e dentes, orelhas amplas e um nariz alongado, evocando bastante pinturas expressionistas.
Orlok, no entanto, não é meramente um monstro. O filme dá a ele uma vulnerabilidade, uma carência, uma solidão que confere um grau de tragédia ao personagem. Por mais que ele seja um parasita sugador de sangue que sobrevive da morte de outras pessoas, vemos que ele é movido por outros fatores além da pura sobrevivência, que há um desejo sincero de contato e talvez até afeto em sua fixação por Ellen.
O legado de Nosferatu é tão marcante que ele já foi até objeto de teorias da conspiração, como a de que Max Schreck seria um vampiro de verdade, algo que foi levado às telas em A Sombra do Vampiro (2000), e também de releituras como Nosferatu: O Vampiro da Noite (1979), de Werner Herzog, com Klaus Kinski como o vampiro título. Isso sem contar em inúmeras referências e paródias feitas por outros filmes como Drácula: Morto Mas Feliz (1995) ou O Que Fazemos nas Sombras (2014).
Assistir Nosferatu hoje permite entender como o filme sobrevive há um século no imaginário popular. Seus visuais marcantes conduzem uma atmosfera de pavor que era pouco explorada pelo cinema na época de seu lançamento e permanece eficiente até hoje.
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